IX - A Imagem e Semelhança

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Durante a manhã, Atílios levou Tibério e Augustus para conhecerem alguns locais do vilarejo que crescia rapidamente.

As construções mesclavam um pouco da arquitetura grecoromana, cheia de colunas e arcadas milimetricamente medidas, ao estilo dos bretões que era um pouco mais rústico e despojado.

Os homens almoçaram na imponente residência de Felipos Aquinus que era a única totalmente feita aos moldes da capital romana. Um verdadeiro palacete.

Mas não se comparava a estrutura construída numa vasta propriedade que ele possuía próxima ao vilarejo. Que estava sendo fortificada com muros de pedra. Dizia ele ser uma medida de proteção caso os nortenhos se unissem e invadissem a região. Algo que Tibério alegou ser impossível.

Augustus retornou mais cedo a residência de Atílios para se unir a Marcus e Escar na tão aguardada caçada. Mesmo sobre os fortes protestos do pai, ele recusou que metade dos guardas que os acompanhavam lhe seguissem como garantia de proteção. E Atílios lembrou que o sobrinho era um exímio e experiente militar.

Ao passarem pela cidade que estava menos movimentada devido o horário pós almoço, o jovem político sorria e cumprimentava a todos os transeuntes com saudações alegres, especialmente as moças - notou Marcus.

Já distantes da cidadezinha ele se uniu ao silêncio que os outros dois eram tão acostumados. Escar ia à frente com os utensílios em seu cavalo e os dois jovens seguiam lado a lado em seus garanhões.

- Seu tio é um homem muito sábio. - Augustus fitava Marcus ao dizer isso. - E meu pai fala demais.

- Seu pai é um político, a oratória é sua arma. - Marcus lhe respondeu.

- Sim. Mas seu tio também é. A diferença está na eloquência. Meu pai é um homem esperto e fala como tal, mas o nobre Atílios... - disse Agustus com admiração. - Basta olhá-lo uma única vez para ter certeza de sua sabedoria.

Marcus concordava com ele no tocante ao tio. Desde o primeiro momento em que o viu, notou que ele era um nobre, não somente por suas vestes, mas além da posição de destaque, dele emanava uma sofisticação erudita. Muito semelhante a dos sacerdotes mais antigos que cuidavam do templo de Apolo. Augustus continuou a falar em tom pensativo.

- A questão, meu caro Marcus, é que quero ser um pouco de cada. Gosto de me imaginar como aquele que unirá os povos sem necessitar da força bruta tão característica de grandes impérios, inclusive do nosso. Se não possuo sabedoria e esperteza, devo me cercar de quem a possui.

Marcus entendia que aqueles tipos de comentários poderiam ser interpretados como alta traição ao imperador. Tinha certeza que Augustus era conhecedor disso e talvez estivesse lhe sondando sobre qual sua posição diante de um possível golpe de estado.

O restante do caminho eles voltaram ao silêncio. Marcus lembrou do quanto tentou conversar com Escar por aquele mesmo caminho dias atrás, e pensou que talvez estivesse fazendo um julgamento errôneo de alguém que só estava tentando ser simpático a ele. Ao adentrarem a floresta, o jovem político voltou a falar.

- Notei que vocês não possuem servas e nem escravas. Você costuma frequentar casas de banho? Ou prefere a companhia das rameiras?

Marcus se sentia intimidado ao tratar desses assuntos. Cassius foi quem mais o provocou a esse respeito e no fim revelou sentir desejo por sua pessoa.

Não acreditava que todos que assim o fizessem tivessem o mesmo propósito, mas ser prudente não o faria mal. Além de que, àquele jovem não parecia ter esse tipo de inclinação, embora Cassius também não. Marcus finalmente respondeu.

A Águia (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now