A chave

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Angelique Beaumont


Tudo estava bem agora. Mas ao mesmo tempo tudo estava muito estranho.

Christopher já estava recuperado. O tiro que a Kira despistou na direção dele não atingiu nenhum órgão ou veia importante. No dia seguinte ele já estava em casa e pronto para ir ao velório daquela que foi sua melhor amiga no passado.

Eu não fui. Nem teria coragem de ir, mas a minha mãe o acompanhou.

Naquele dia eu fiquei sozinha com os meus pensamentos... Eu estava com raiva porque Kira tinha colocado a vida de Christopher em perigo pela segunda vez, mas depois outros pensamentos começaram a me assombrar...

Comecei a me sentir mal e culpada. Foi uma medida muito drástica? Acho que sim... Eu tento me convencer de que foi em legítima defesa, e foi. Acho que a Kira não iria nos deixar em paz tão cedo e ela estava disposta a acabar comigo. Mas as vezes eu penso... E se eu tivesse encontrado outra solução? Uma que não fizesse eu perder o sono...

Quando eu fecho os olhos eu consigo relembrar o momento em que eu a tinha em minhas mãos e me sinto horrível. Um monstro.

Os dias passaram e eu comecei a trocar o dia pela noite.

Enquanto Christopher dormia eu caminhava pela mansão, ia até o jardim, ia até a casa abandonada do vizinho, lia livros velhos e me entretinha da melhor forma.

A minha relação com o Christopher esfriou.

Eu ficava acordada enquanto ele dormia e dormia enquanto ele estava acordado.

Simplesmente não conseguia dormir durante a noite. Era assustador demais. E acho que eu só consigo dormir durante a tarde porque fico exausta e a necessidade de descansar fala mais alto que minhas paranóias.

Eu acho que o Christopher percebe o que estou passando, mas eu nunca disse nada à ele, e ele nunca perguntou diretamente.

Ele sempre questiona se estou bem e eu digo que sim. Fim de papo.

Acho que ele quer me dar espaço para que eu tenha esse momento de reflexão, mas às vezes eu apenas queria que ele dissesse que o que eu fiz foi certo e que tudo ficará bem no fim, mas ele nunca disse.

E então as paranóias ganham força...

Começo a pensar que ele me acha uma pessoa horrível... Uma assassina.

Comecei a me afastar dele por isso, por medo de estar incomodando ele com a minha presença. Então eu me mudei de volta para o meu quarto.

No primeiro dia ele veio atrás e perguntou o que eu estava fazendo mas eu fingi que nada estava acontecendo, que só queria um pouco mais de privacidade.

Hoje é véspera de Natal e a mansão estava toda enfeitada para a ceia. Minha mãe estava planejando o melhor já que Christopher disse que ele nunca havia celebrado essa data antes.

Ela estava muito empolgada e os empregados estavam trabalhando dobrado para fazer essa noite perfeita.

Mas eu estava escondida na casa abandonada do vizinho, deitada na cama antiga e cheia de poeira que um dia me deitei com Christopher, quando ele admitiu pela primeira vez que me queria. E eu o queria tanto também que fugiu correndo para fora com medo dele e do que podia acontecer entre nós. Bom, não adiantou fugir.

E eu deveria saber que não adiantava fugir agora.

Ouvi um barulho e quando olhei para a porta Christopher estava estendido com os seus 1,90 metros, olhando para mim com os seus braços cruzados.

Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)Where stories live. Discover now