Muralha

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MESES ANTES

• Bélgica

Angelique Beaumont

Eu havia desmaiado de dor. Fiquei deitada no chão do meu quarto, no dormitório do internato, pensando em nada, havia apenas escuridão.

É como se eu tivesse morrido.

E talvez eu não teria sobrevivido se a Savannah não tivesse aparecido.

Ela não me viu, obviamente. Mas sentiu o meu corpo estirado com a sua bengala que a guiava pelos cantos.

Savannah se abaixou e apalpou o chão até me encontrar, me chamando... Mas eu não escutei.

Provavelmente as mãos dela ficaram cheias de sangue.

Eu estava tendo uma hemorragia em meio aos meus cabelos cortados espalhados ao meu redor. Uma mistura de cabelo e sangue, uma verdadeira cena de terror.

Deve ter sido uma cena horrível... Algumas pessoas vieram e viram quando a Savannah gritou por socorro.

As freiras chamaram a ambulância e eu não vi nada acontecer até acordar em uma cama de hospital. Irmã Nina estava ao meu lado, muito preocupada...

— O que aconteceu? — A minha voz saiu fraca e extremamente rouca quando perguntei à irmã Nina.

Eu me sentia zonza, como se tivesse dormido por dias... A minha cabeça estava pesada e doendo, nunca senti enxaqueca antes mas acho que aquela era a dor, tão forte que latejava. Já o meu corpo parecia estar preso no colchão, e eu sentia uma fraqueza emanar de dentro para fora.

Nunca me senti tão mal em toda a minha vida.

O rosto da irmã Nina me fez ficar preocupada... A expressão dela era de pena, pena de mim, e ela parecia estar sentindo muita tristeza... Eu comecei a ficar desesperada quando percebi que eu estava em um hospital, e eu me lembrei do episódio com as meninas no colégio, cortando o meu cabelo... Rapidamente toquei a minha cabeça para sentir os fios curtos.

— O que aconteceu, irmã Nina? — Eu senti uma lágrima ardente escorrer pelo meu rosto.

Eu não entendia porque eu estava em hospital, a última coisa que me lembro foi de sentir dor no chão do meu quarto enquanto eu chorava.

Irmã Nina suspirou e parece ter procurado as palavras certas para começar a falar comigo...

— Quer me contar o que aconteceu com o seu cabelo? — A doce freira perguntou com uma voz suave.

— Não! Eu quero saber por que eu estou aqui!

— Você estava grávida, Angelique? — Ela me questionou com muito cuidado. Eu a encarei com estranheza.

Eu prendi a minha respiração e engoli em seco, nunca tinha sentido tamanho pavor antes. Eu fiquei congelada, encarando-a, assustada... Os meus olhos nem ao menos piscavam.

— Como assim? — Eu tive coragem de perguntar depois de ter ficado um bom tempo em silêncio.

— Você teve uma hemorragia e perdeu o bebê.

Nesse momento eu enchi os meus pulmões de ar como se aquela fosse a última vez que eu respiraria, e depois eu soltei uma respiração trêmula pela boca.

Na verdade todo o meu corpo tremia...

— Você estava grávida. Você não sabia disso?

Eu neguei com a minha cabeça, horrorizada.

— Não — Sussurrei de uma forma quase inaudível. Eu tinha perdido não apenas a força física como também a força mental. Não conseguia falar nada, mas eu sentia tudo.

Cicatrizes de Ouro (Grátis até final de dezembro 2022)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum