O relógio do campus bateu 18h15 quando Érico chegou nos arredores da cafeteria chique que ficava ao lado da biblioteca. Nervoso, Érico passou o muffin que segurava para a mão esquerda, abrindo as portas envidraçadas do lugar com o coração aos pulos.
Para um final de expediente, a cafeteria metida, como Isabel havia pontuado, estava vazia. Se não fosse por três mesas ocupadas, tudo estaria em silêncio. Érico observou o ambiente hipster, que tinha tudo para aparecer em revistas de decoração, à procura de Isabel. Não demorou a encontrá-la.
Na última mesa do canto, Isabel tinha diante de si dois livros abertos, uma xícara de café pequena com a marca da cafeteria e algumas folhas soltas espalhadas, que consultava vez ou outra. Com a atenção que vagava entre os livros e as folhas, Isabel fazia anotações num caderno de espirais brancas. Érico se aproximou devagar, mas como uma corça assustada, ela fechou o caderno e os livros antes que ele chegasse mais perto. Ficaram os dois em silêncio, ela sentada, ele em pé ao lado da mesa.
Sem graça, Érico pigarreou e ajeitou a alça da mochila no ombro.
— Oi. Me desculpa o atraso.
Ela não respondeu, tomando ciência das palavras dele com um olhar gelado. Enquanto Isabel guardava as folhas, os livros e o caderno, Érico sentou-se diante dela, no assento que tentava — e conseguia — imitar um sofazinho de couro chique. No silêncio das máquinas de café que ronronavam, ele deixou o muffin em cima da mesa, empurrando-o na direção de Isabel.
Ela baixou os olhos para as gotinhas de chocolate e para a massa fofinha de baunilha, encarando Érico logo em seguida.
— É um muffin — disse ele, daquele jeito atabalhoado que sempre florescia quando Isabel o encarava. — Fiz no Laboratório. Fiz pra ti, na verdade.
— No Laboratório?
— É. Os alunos de Gastronomia podem ser voluntários à tarde, sob o comando de um professor, e aprender algumas técnicas de cozinha — disse ele. — A área de confeitaria tava meio parada hoje, aí decidi... fazer esse muffin pra ti.
Ela ficou em silêncio durante alguns segundos. Por fim, perguntou:
— Por quê?
— Pra me desculpar por hoje. Fui um idiota mais cedo.
Isabel não respondeu. E não tocou no muffin.
— Ok — disse ela, após muito tempo. — Te decidiu?
— Sim, eu... — Érico suspirou, dando de ombros. — Eu preciso do dinheiro e não tenho como conseguir de outra maneira.
Ela o encarou, ainda sem encostar no muffin que Érico levara boa parte do dia para assar e deixar perfeito, como todos os muffins de perdão deveriam ser. Nervoso, ele pigarreou, tamborilando os dedos na mesa bem encerada.
— Então...
— Eu não vou te dizer.
— Do que tu...?
— Tu quer saber por que eu preciso do dinheiro. E tá louco pra me contar os teus motivos pra querer o dinheiro.
Ele riu de nervoso.
— É claro que não. Quem foi que te disse essa bobagem?
— O teu corpo — respondeu ela. — Tu não parou de bater os dedos na mesa desde que chegou, o que indica nervosismo e ansiedade. Isso sem mencionar os ombros inclinados pra frente e o olhar que alterna entre mim, o cupcake e a rua. Tu quer saber por que eu preciso do dinheiro, mas não quer perguntar. Tu também quer me dizer por que precisa, mas prefere esperar pela minha pergunta. E ainda por cima tentou me comprar com um bolinho. Foi uma jogada bem... básica.
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Entre Muffins e Apostas | ✓
Teen FictionA regra é clara: se Érico conseguir chamar Isabel, a atendente mal humorada da cafeteria da faculdade de Direito, para sair, as recompensas, segundo seus amigos babacas, serão grandiosas. E com o aniversário da mãe dobrando a esquina, Érico não pode...