Um Turbilhão de Sentimentos

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No castelo do Rei Vermelho, Bianca e Gottan estavam de pé diante do filho, que tinha uma carta em suas mãos.
Cheia de curiosidade, Bianca tentava tirar conclusões do rosto de Guilhermo, porém, ele permanecia inexpressivo enquanto lia o conteúdo da carta.

- O que há? - Gottan pegou a carta no ar quando Guilhermo a lançou e foi sentar em seu trono vermelho.

- Serei julgado no castelo de Trevor. - Ele respondeu e esfregou o queixo, pensativo.

Bianca tomou a carta das mãos de Gottan e passou a vista pelas letras elegantes, que descreviam as acusações de Alissa, e também as coisas que ele fez contra o povo.

- Isto é um absurdo! - Ela exclamou, chocada com tudo o que lia. - Como eles ousam lhe colocar nesta situação degradante?!
Antes de julgar o meu filho, eu entro em guerra!

- Acalme-se. - Gottan parecia desnorteado, pois estava divido entre o filho e o desejo de acatar a ordem do Rei Supremo. - Tenho certeza de que isto é um terrível engano.

Ao ouvir aquilo, Bianca grunhiu e se voltou contra ele.

- Pare de tirar a culpa daquele moleque! Será que nem ameaçando o nosso filho você não irá deixar de lamber os sapatos daquele ladrão?!

- Cale-se. - Guilhermo falou e Bianca o encarou com perplexidade, mas ele sequer se moveu de seu trono. - Estou pronto para qualquer consequência, ou seja, eu irei a este julgamento.

Bianca gaguejou, jogou a carta para longe de si e apontou para ele.

- Eu defenderei você, meu filho. Não me negue isso.

- Pedido negado. - Ele abanou uma das mãos, dispensando o apoio dela, que deu um passo para trás, magoada. - Eu não quero defesa nenhuma.

- Meu filho. - Gottan ficou diante do trono dele, e seus olhares se fixaram um no do outro. - Você tem grandes chances de ser condenado, me deixe elaborar uma defesa.

O cenho de Guilhermo se franziu, evidenciando sua angústia e confusão.

- Você pretende ir contra a vontade do Rei Supremo?
Justo você, o homem que nunca me amou, que me odiou no momento em que soube que eu fui gerado, vai me defender contra o julgamento que o seu amado Trevor elaborou?

Repleto de aflição, Gottan baixou sua vista e piscou várias vezes, tentando formular uma frase que expressasse tudo o que ele sentia.
Por fim, ele encarou o filho e falou:

- Eu não fui o pai que você tanto queria, mas agora eu sinto que posso ser, meu filho.
Estou aqui para o que você precisar, e mesmo que você tenha desistido de mim, eu não vou desistir de você. - Ele deixou a primeira lágrima escorrer pelo canto do seu olho direito, e fez seu último apelo à um Guilhermo rígido. - Portanto, eu lhe peço, filho, me deixe defendê-lo neste julgamento.

Um turbilhão de sentimentos atingiu o peito de Guilhermo, algo como medo da morte, angústia por ver Gottan agindo como um pai de verdade, e aflição por estar quase diante da consequência de todos os atos cruéis que cometeu.
Quando falou, Guilhermo umedeceu os lábios e desviou o olhar do pai.

- Pedido negado.

Alissa estava diante de uma enorme fila de seres que ditavam seus depoimentos contra Guilhermo.
O sorriso dela se abria ainda que tentasse prendê-lo, pois as coisas que eles diziam era terríveis, mas isto só mostrava à ela que a vitória era certa.
À cada novo depoimento, mais folhas e folhas eram empilhadas em cima da mesinha diante dela, e mesmo que a fila ultrapassasse a porta da sala, muitos outros vinham para dar o depoimento.

No fim do corredor, os olhos com faíscas azuis de Trevor observavam o movimento intenso que se formava, e ele baixou sua vista, chateado por ter colaborado com aquilo.
Mas ele não teve escolha, pois negar o pedido de Alissa seria injusto para ela, que já estava no limite de sua exaustão em relação à rejeição que tinha do povo.

Eu lhe dei as armas para vencer este julgamento, Alissa.
Se você perder, esta é a garantia de que não pode me julgar injusto.
Por uma questão de honra à sua própria luta, você terá como obrigação, me vencer.

Trevor foi na direção contrária ao tumulto, e não se surpreendeu ao ver Maise vindo na sua direção.

- Soberano. - Ela parou na frente dele e fez uma reverência. - Vim somente porque o senhor pediu gentilmente, pois se fosse por ela, sinto lhe dizer, mas eu não estaria aqui.

- Eu agradeço a sua vinda. - Ele respondeu um tanto triste. - Você também sofreu muito nas mãos do Guilhermo?

- Ah não. - Ela esclareceu. - Guilhermo sempre foi muito ranzinza, mas eu sofri mais com as atitudes da Alice, a antiga Rainha Vermelha.

Trevor pigarreou e assentiu, compreendendo o lado dela.

- E... Você pretende dizer isso à Alissa? Garanto que ela não vai responder com palavras bonitas.

Maise sorriu desdenhosa e apontou para ele.

- Eu não vim aqui para agradá-la, Soberano, nenhum de nós veio.
Estamos aqui para agradar ao senhor, porque nós não queremos lhe negar nada.

Trevor sorriu brevemente e assentiu mais uma vez, agradecido por todo o amor que recebia.

- Você ficará sempre ao meu lado, Maise?
Eu posso ter certeza de que sempre terei a sua amizade?

- Sempre. - Ela respondeu. - Para as duas perguntas, a resposta é sempre.

O sorriso dele se abriu, e Maise o imitou, ambos satisfeitos com aquela conversa.
Porém, o vento soprou mais forte pelas janelas, e o coração de Trevor palpitou descompassado.

- Agora eu devo ir, Maise. - Ele seguiu pelo corredor, apressado. - Apareça mais tarde, estarei lhe esperando para tomarmos uma xícara de chá.

- Eu virei! - Ela exclamou e ele dobrou no corredor, deixando Maise determinada a dizer mais coisas à Alissa.

A porta do quarto de Trevor foi aberta por ele, que encontrou Guilhermo sentado na ponta da cama de lençóis azuis.
Ambos se olharam, em seguida Trevor fechou a porta atrás de si e foi até Guilhermo, sentando ao lado dele.
Sem saber como começar aquela conversa, Guilhermo suspirou e resolveu dizer o que pensava.

- Presumo que você dará o poder de sentença ao povo.

- Sim. - Trevor respondeu.

- Você não quer que eu morra.

- Não. - Trevor voltou a responder. - Eu não quero que este julgamento aconteça, pois eu sei que você não se sente digno de receber perdão e não fará nada para se defender.

Os pensamentos de Guilhermo eram um mistério para Trevor, que via os ombros do outro caídos, as asas curvadas sobre a cama, e o semblante petrificado.
Quando falou, a voz de Guilhermo saiu como um sussurro, como se revelasse um de seus maiores segredos.

- Eu não quero me defender de nada do que eu fiz porque eu não sinto vontade de continuar vivendo.

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Beijos da autora, Anathai. 😘

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora