Por Ela

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Alissa tentava puxar o ar para que pudesse respirar, mas não conseguia. Seus olhos arderam e as lágrimas caíram diante do homem cruel que esmagava seu pescoço com as mãos.
Num último esforço, e quando digo "último", é último mesmo, ela ergueu o joelho e acertou as partes baixas de Guilhermo.
Um grunhido de dor saiu dos lábios dele, e um forte impacto em suas costelas fez ele arfar de dor.
Imagine sua surpresa quando ele descobriu de Alissa, ainda que sem ar, lhe deu um chute.
Ela caiu no chão e teve uma crise de tosse, esfregando o pescoço que agora tinha a marca exata dos dedos de Guilhermo.
Bianca, ao ver os dois no chão, não sabia à quem socorrer, mas ela não demorou a se dar conta de que era seu filho quem grunhia de dor, e correu para ele.

- Oh! Guilhermo! - Ela passou a mão nos cabelos negros dele. - Está doendo muito?! Oh, querido! Ainda que passem infinitos céus, eu jamais saberei o que fazer com você! Oh, bem, não é momento para uma bronca, desculpe, meu menino.

Alissa negou com a cabeça ainda sem conseguir respirar direito, e engatinhou para longe deles.
Seus olhos estavam sobressaltados e muito vermelhos, sua boca não se fechava, ainda arfando. Se em algum momento Alissa achou que conhecer o filho de Bianca poderia ser uma boa idéia, agora ela sabia que não, que aquilo jamais daria certo.
De imediato sua mente lhe pregou uma peça, a fazendo lembrar dos olhos castanhos de Trevor, e de seu tom irado ao falar:

- Existem pessoas ali que nós não conhecemos, pessoas poderosas de verdade! E se essas pessoas quiserem machucar você? O que podemos fazer depois de cair na boca do crocodilo?

Alissa fechou os olhos e chorou em silêncio, pois se deu conta do quanto foi boba em não acreditar em Trevor, por ter sido cega diante da visão daquele castelo e o título de princesa que a aguardava. De repente ela se odiou por anteriormente desejar ser uma rainha, idéia essa que estava descartada agora.
Suas mãos trêmulas começaram a rasgar os tecidos do belo vestido que usava, e um grito de ódio por si mesma rasgou sua garganta, ferindo e fazendo com que sua voz ficasse rouca.
Bianca voltou seus olhos para ver uma Alissa enlouquecida, rodeada de tecidos e pérolas e com os cabelos ruivos bagunçados.
O olhar de ambas se cruzou e Alissa ficou de pé, uma expressão de fúria havia tomado conta de seu rosto.

- Está passando a mão na cabeça do seu monstro?! - Alissa apontou seu dedo para ela e ergueu seu queixo. - VOCÊ É UMA PÉSSIMA MÃE! E EU ODEIO VOCÊS E ESSE LUGAR! NÃO FICO AQUI MAIS UM INSTANTE SEQUER!

- Eu amo o meu filho. - Bianca respondeu, seu tom de voz era determinado e frio. - Sou a melhor de todas as mães, pois faço tudo pelo bem daquele que eu coloquei no mundo. Você não é mãe, não sabe o que isto significa.

Alissa esfregou o pescoço dolorido e seu rosto se contorceu numa expressão de nojo.

- Não sou mãe, mas tive um exemplo verdadeiro dentro de minha casa. Sei que ser mãe e amar um filho incondicionalmente, mas sei também que uma mãe deve orientar seu filho para o caminho do bem, ainda que o magoe às vezes. Sei que ser mãe é dar valor à justiça, à honra e respeito ao próximo, para que seu filho veja o que ela faz e lhe admire!

Alissa deu uma forte pisada no chão e chutou um pedaço de tecido.

- Então deixe de ser cega! Ser mãe não é fechar os olhos para os erros de um filho, ser mãe é escolher ver os erros daquele que se pôs no mundo, e não hesitar em lhe ensinar a não mais errar!

Bianca engoliu em seco, e a raiva e ódio desceram amargos por sua garganta.
Alissa limpou as lágrimas e se direcionou à Guilhermo, que agora bufava como um touro bravo ainda caído no chão.

- Eu não tenho culpa dos seus problemas. Não sei quem lhe feriu, mas garanto que não superar é o mesmo que passar a vida inteira andando em círculos.

Bianca ajudou Guilhermo a levantar, mas foi empurrada por ele, que correu para atacar Alissa.

- VOCÊ NÃO TEM CULPA DOS MEUS PROBLEMAS?! EU NÃO TENHO PROBLEMAS! EU TENHO ALGUÉM PARA MATAR! E NÃO ESTOU ANDANDO EM CÍRCULOS! TENHA A CERTEZA DE QUE VOU RETO NA SUA DIREÇÃO! VOU MATAR VOCÊ!

Ele ergueu sua espada para ela, e Alissa viu nos olhos dele o quanto ele queria mesmo matá-la.
Então só restou à ela erguer os braços para proteger o rosto e fechar os olhos para não ver o estrago.
Guilhermo deu um grito de ódio por Alissa e acertou-lhe sem nenhum remorso, mas o som de uma espada se chocando com outra ecoou por todo o salão, e ela, intacta, abriu os olhos para ver as costas de Trevor.
O impacto da espada do Rei na Espada Real não lhe deu vantagens, pois enquanto Trevor ficou parado no mesmo lugar, Guilhermo foi lançado para longe, caindo de joelhos e surpreso.
Trevor arfava de cansaço, mas estava feliz por ter conseguido surgir à tempo.
Ele sobressaltou os olhos quando sentiu braços envolvendo seu corpo pelas costas, e quase sorriu ao se dar conta de que era Alissa quem o abraçava.

- Você voltou. - Ela disse entre soluços, num choro abafado.

Trevor ainda mantia os olhos em Guilhermo que se erguia aos poucos, mas respondeu à ela.

- Eu nunca fui embora, Alissa. E não irei à lugar algum se você não for comigo.

Ela o abraçou mais forte e escondeu seu rosto nas costas dele, não sabendo quando poderia soltá-lo outra vez.
Agora Alissa se entregava ao choro de saudade, felicidade e também medo.

Como eu pude dar as costas à você? Ela pensou.

- O mundano inconseqüente. - Guilhermo disse entre dentes. - É um bom momento para você me dizer como diabos conseguiu tomar a Espada Real de mim, e já adianto que dessa vez eu não lhe darei o meu perdão!

- Não é você quem deve exigir perdão, Guilhermo. - Trevor respondeu e os olhos de Guilhermo sobressaltaram ao ouvir o seu nome saindo dos lábios dele. - Você ataca as pessoas, pior, sente prazer nisso, o que significa que é você quem deve pedir perdão à todos ao seu redor.

Trêmulo de ódio, Guilhermo se perguntou quem era aquele mundano que lhe afrontava tanto e parecia não ter medo dele, evidentemente, só parecia.
Bianca estava de queixo caído, pois nunca havia visto alguém dizer aquelas coisas para o filho, e mais, nunca havia visto ele paralisado ainda que tivesse um olhar irado.
Trevor engoliu em seco e segurou o braço de Alissa que estava em volta de sua cintura.

- Como eu disse, nós só queremos ir embora.

Guilhermo ficou de pé de imediato e correu para atacá-lo, suas asas bateram para vir de cima, pois seu limite havia acabado e a vontade de matar Trevor era maior que tudo naquele momento.

- Vamos sair daqui, Alissa. - Trevor fechou os olhos, ignorando o bater violento das asas de Guilhermo. - Eu Desisto.

Guilhermo cortou o vento com sua espada e seus olhos estrelados procuraram por eles, mas Alissa e Trevor não estavam mais lá.


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Hei! Quanto ódio, não é mesmo? O nosso grande vilão Guilhermo, para muitos, um injustiçado, veio com tudo!

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora