Surpresas

347 69 26
                                    

Trevor e Maise estavam escondidos na casa dela, e frequentemente ele esbarrava em algo, fazendo ela lhe lançar um olhar cortante.

- Você quer que ele nos encontre? - Maise sussurrou, irritada com ele.

- Esta casa é muito pequena, a culpa não é minha! - Ele sussurrou de volta, mas se calou quando ouviu galopes cada vez mais perto.

Maise segurou firme sua espada, temendo que Apollo os encontrasse e arrombasse a porta.
Mas os galopes se foram, sendo ouvidos cada vez mais longe.

- Essa foi por pouco. - Maise relaxou, se jogando em sua poltrona. - Agora passe essa espada para cá.

Trevor olhou para a espada e analisou a lâmina prata, as pedras preciosas no punho e as linhas de ouro que a deixava bela e imponente.

- Me dê a espada, moleque. - Maise insistiu, impaciente.

- Mas você já tem uma espada. - Ele retrucou. - Não é justo que você tenha uma arma e eu não.

Maise ficou de pé num impulso rápido e olhou dele para a espada.

- Esta não é uma espada qualquer. Você não pertence à este mundo e não é digno de segurá-la. Fique com a minha espada e me dê esta.

Trevor engoliu em seco e voltou a olhar para a espada suja de sangue em suas mãos. Ele não sabia o porquê, mas não queria entregar a espada à Maise.
Mas Trevor acabou por entregá-la, desanimado.

- Muito bem. - Maise pegou a espada e seus olhos brilharam de satisfação. - E não fique chateado, eu sei o que estou fazendo.

- Espero que sim. - Ele esfregou o rosto, exausto com toda aquela tensão. - Quando voltaremos para o castelo onde está Alissa?

- Descanse. - Maise limpou a espada com um lenço e a guardou em sua bainha. - Não teremos sucesso ser estivermos cansados.

- Não quero descansar! - Trevor explodiu de raiva. - Não quero ficar aqui parado enquanto a Alissa corre perigo! Nós já viemos até aqui para conseguir esta espada, e eu esperava que você conseguiria um exército, ou sei lá, um dragão! Aqui têm dragões?!

- Apenas dois que nunca morrem. - Maise se serviu de chá. - Mas eles pertencem à realeza. E um exército? Aonde eu iria conseguir um exército se não tenho um reino?! Mas nós temos a Espada Real, e ela é muito poderosa. Será mais que suficiente.

- Me parece uma espada bonita, mas comum. - Ele retrucou e colocou as mãos na cintura. - Maise, eu lhe peço, vamos voltar.

Maise voltou a se jogar na poltrona e bebericou seu chá, sem ânimo para sair dali.

- Assim que nós descansarmos.


Alissa estava sentada em um longo sofá branco, e seus olhos encaravam as paredes de uma sala redonda, que retratavam o mapa perfeito do País das Maravilhas.

- Aquele é o castelo do seu filho? - Ela perguntou à Bianca, que sentou ao seu lado.

- Sim. - Bianca respondeu. - Aquelas são as terras do Rei Vermelho.

- E a Rainha? - Alissa franziu o cenho, curiosa. - Todo Rei tem uma Rainha. Como ela se chama?

- Ah, querida. - Bianca se remexeu no sofá, incomodada com aquela pergunta. - Nem todo Rei tem uma Rainha.

- Mas ele é um Rei. - Alissa insistiu. - E se ele é um Rei, de certo, um dia se casou e teve uma Rainha.

- Alice. - Bianca falou e Alissa se surpreendeu com a verdade. - Eles se casaram, mas o casamento não foi consumado.

- Minha mãe já amou outro homem? - Alissa arfou, se sentindo magoada. - Então o meu pai não foi o primeiro amor dela?

Bianca pensou no que dizer, e segurou as mãos de Alissa.

- Guilhermo é especial. Um dia você irá conhecê-lo.

- Mas eu não quero. - Alissa ficou de pé, sentindo uma raiva amargar sua boca. - Não gosto de imaginar a possibilidade de um dia minha mãe não ter ficado com o meu pai. Eu não quero ver o homem que ela amou antes do meu pai. Não me agrada.

- Isso ficou no passado. - Bianca se apressou em dizer. - Guilhermo não tem culpa de ter se apaixonado por sua mãe. Oh, querida, ele sofreu tanto.

Alissa baixou sua vista e negou com a cabeça em seguida.

- Sinto muito por ele, mas não existe ninguém melhor que o meu pai para estar ao lado da minha mãe.

Bianca engoliu em seco.

- É previsto que você tenha esse pensamento, afinal, você é a filha do Chapeleiro.

- Não é apenas por ser filha dele que lhe tenho preferência. - Alissa argumentou, franzindo o nariz em frustração. - Você não conhece a generosidade, o carinho e amor que ele exala de si. Você não sabe o quanto ele é bom para ela, não faz idéia do amor que ele sente por ela. Meu pai enche a casa de flores, prepara as melhores comidas, tem sempre uma resposta amorosa, e não mede esforços para fazer a minha mãe feliz. Quem poderia amar tanto a minha mãe quanto ele?

Bianca piscou várias vezes, não negando para si mesma a pequena inveja que tinha da vida feliz que Alice levava.

- Sei bem o quanto o Chapeleiro é bom. - Ela assentiu e limpou uma lágrima. - Ele é o meu irmão.

Alissa deixou seu queixo cair, perplexa com tudo que descobria em tão pouco tempo.

- Tome. - Bianca ofereceu uma taça com um líquido azul à Alissa. - Beba um pouco de licor, lhe fará bem depois desta notícia.

De repente Alissa lembrou das palavras de sua mãe, quando teve o primeiro mal estar que antecederia aos outros.

  Alissa, por favor.  Prometa que nunca vai se deixar levar para lá. E se você não tiver escolha, tenha cuidado com o que lhe derem para beber. Eles lhe levarão para lá, eu sinto. Mas prometa que haja o que houver, não se perca dentro de si mesma.

Alissa segurou a taça, mas a deixou cair assim que a segurou, derramando o líquido para todos os lados.

- Oh, querida. - Bianca levantou e se afastou temendo os cacos de vidro. - Que grande desastre.

- Me desculpe. - Alissa falou desanimada, e voltou a olhar o grande mapa nas paredes. - Acredito que a surpresa de saber que você é minha tia, me deixou sem ação. Peço que me deixe sozinha, afinal, como você mesma disse, devo estudar este mapa.

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora