Exclarecimentos

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Gottan estava de pé no alto das escadas e seus olhos dourados estavam sobressaltados com tudo o que viu, o choque depois daquela cena ainda não havia passado.
Lá estava seu filho, um Rei Vermelho, perdendo uma luta para um rapaz que sequer era deste mundo, um rapaz mais ousado que qualquer um que já tenha enfrentado Guilhermo.

Bianca estava no chão, ainda desorientada pelo empurrão que levou e por presenciar Alissa e Trevor desaparecerem com a Espada Real.
Gottan desceu as escadas receoso e desejando não mostrar o quanto a raiva do filho o deixava preocupado.

- Bem, isto muda um pouco as coisas. A filha daqueles dois está longe dos nossos domínios e com a Espada Real. 

Guilhermo apontou sua espada para ele, possesso de raiva, sua voz saiu rasgada e fria.

- Não pense que ela viverá para ocupar o trono. E seja lá quem aquele moleque for, garanto que irá morrer pelas minhas mãos!

- Ele segura a Espada Real. - Gottan desceu o último degrau e mirou o chão ainda pensativo. - E agora ele a usa para aparecer e desparecer quando bem entende. Quem é ele? O que ele está fazendo no País das Maravilhas?

- Trevor. - Bianca de lembrou de Alissa mencionando aquele nome. - A garota disse esse nome, ela mencionava ele o tempo inteiro. Por um engano estranho, ele caiu junto com ela, mas não sei como ele pode manipular a Espada Real.

- Ele morrerá! - A voz de Guilhermo saiu rouca de raiva e ele encarou os dois. - Nem sequer imaginem que vou baixar a cabeça para um mundano qualquer e uma Sereia de pernas!

Bianca levou a mão aos lábios ao ouvir aquele "palavrão"

- Oh, que deselegante.

 Mas Guilhermo não tinha a mínima vontade de medir palavras ao falar daquela que seria soberana sobre ele.

- Nós iremos nos encontrar outra vez e seu sangue sujará a minha espada, seu corpo sem vida será lançado para ser destroçado no Lago das Sereias Selenas da Lua, e aí sim, me sentirei um pouco vingado ao ver a Alice sofrer!

Gottan piscou várias vezes, surpreso por ver o quanto Guilhermo poderia ser cruel, e enfim entendeu o porquê de não ser um Rei Vermelho como ele.

- Você sempre irá odiar a Alice, nós entendemos. - Gottan respondeu e ajudou Bianca a levantar. - Assim como sempre irá odiar a filha dela, mas o rapaz não tem nada a ver com essa situação, ele é apenas alguém perdido aqui.

- Ele não é! - Os passos de Guilhermo ecoaram pelo salão de gelo, indo em direção ao pai. - A Espada Real estava nas minhas mãos quando eu ordenei que ele fosse embora instantes atrás, mas ela se foi com ele! Isto é uma ameaça?! Não quero pagar para ver! Se a Espada o está ajudando a proteger aquela garota, eu o matarei também!

Guilhermo assumiu sua forma demoníaca, e fogo sobressaía de todo o seu corpo.

- Ela é necessária. - Gottan se afastou do filho. - Essa jovem precisa ocupar o trono de Soberania Suprema, não vamos mais negar isso!

- Você é fraco. - O rosto de Guilhermo se contorceu em uma expressão de repulsa. - Até as asas você perdeu. Mas eu não sou fraco! Não serei submisso àquela garota! - Ele bateu suas asas e falou uma última vez antes de desaparecer. - E vocês também serão destruídos se escolherem se entregar! EU OS DESTRUIREI!




Alissa sentiu os pés afundarem na areia fofa e se agarrou mais à Trevor, e rapidamente ele se virou para ela e a abraçou. Seus corpos colados tremiam levemente de medo e aflição.
Alissa olhou para onde estavam e viu um mar à sua frente.

- Trevor. - Ela segurou o rosto dele com ambas as mãos e olhou no fundo de seus olhos castanhos. - Eu pensei que nunca mais te veria na minha frente.

- Eu tentei ir embora. - Ele arqueou as sobrancelhas. - Mas você me impedia de ir, Alissa. Eu não consegui deixar de pensar em você um segundo sequer, e isto me impediu de querer outra coisa se não te encontrar outra vez.

- Você pensou mesmo em mim? - Ela sorriu ainda que derramasse algumas lágrimas.

Ele sorriu e assentiu, fazendo carinho no rosto dela.

- É somente o que eu sei fazer desde que te que conheci na pracinha das flores aos seis anos de idade.

Alissa parou de sorrir ao ouvir aquilo, e um calor subiu para suas bochechas, as deixando vermelhas. Seu olhar desceu para os lábios dele, e engoliu em seco, sentindo sede.

- Olá.

Eles se afastaram e encontraram a Lebre ali, os observando atentamente. 

- Lebre! - Alissa se abaixou para ficar da altura dela. - Nós fomos atacados agora mesmo! Eu preciso falar com você, preciso de respostas urgentes.

- Eu sei falar. - A Lebre assentiu várias vezes, animada em poder ajudar os dois. - Isso vai ser fácil. 

Então seus grandes olhos petrificaram ao ver a Espada Real na mão de Trevor.

- A.. a.. é a Espada da Rainha! É a Espada Real! - A Lebre tirou a espada das mãos de Trevor. - Dê à ela, seu burro! - E entregou a espada à Alissa, arrastando a grande lâmina pela areia.

- Burro?! - Trevor bufou e cruzou os braços. - Ah, isto não cansa de acontecer.

- Mas ainda não sou uma Rainha. - Alissa segurou a espada à contra gosto. - E agora não quero ser! Estamos sendo perseguidos e ameaçados de morte por causa de títulos de realeza.

- Não fale assim. - A Lebre deu pulinhos, aflita com o que ouvia. - Nós precisamos de você. Um terceiro reino soberano aos outros dois precisa se erguer.

Alissa sentou na área ao ver que a Lebre se encolheu, ficando triste de repente.

- Você não vê? - Ela esfregou sua pata na Espada Real. - A Rainha Branca que deveria ser boa, é má, os Reis que deveriam ser justos, sendo bons ou não em sua essência, são injustos. Dois grandes castelos de ego não são capazes de reinar sobre nós. E nós precisamos de ajuda, precisamos de lares adequados, comida, e exemplos de bondade a se seguir.

- Lebre. - Alissa suspirou. - Eu não vim até aqui para ser uma Rainha. Eu sinto muito por vocês não viverem da maneira que gostam, mas assim é a vida. Nós não podemos ter tudo o que queremos.

- Sim, nós podemos! - A Lebre assentiu várias vezes. - Ter tudo o que se quer é mais possível do que manter o que já se tem. Não vem de imediato, mas se queremos algo com muita vontade, essa coisa vem. E se manter o que obtemos é difícil, mais satisfatório será fazê-lo durar, porque será finalmente nosso, você não acha?

Alissa piscou os cílios várias vezes e olhou para Trevor ali de pé.
Ela o queria sempre perto de si, e queria acreditar que isto era possível. Se alguém lhe dissesse que não, rapidamente ela trataria de pensar igualmente a Lebre.

- Sim, você tem razão.

- Então você vai ficar? - A Lebre perguntou.

- Espere. - Trevor se abaixou também e negou com a cabeça. - Antes de tudo, precisamos saber por que aquelas pessoas nos odeiam e se existem outros humanos aqui.

- Vou contar tudo. - A Lebre respondeu. - Mas vocês não podem ficar aqui. Vamos encontrar um lugar seguro para vocês.

- Mas aonde? - Alissa suspirou.

- No lugar aonde todos os outros estão. - Ela respondeu. - No Acampamento Encantado.

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora