— Posso sim. -Harry fala e volta a colocar o filhote com os outros. Sorrio para ele.

— E eu vou cortar seu cabelo, acredito que dá para disfarçar pelo tempo que ficarmos lá, porque as fotos que estão colocando de você é com esse cabelo grande. -Digo e Harry concorda, ele sorri de lado e passa a mão pelo seu cabelo que cai até o ombro. Eu sorrio também, mas não me prendo muito a ele, não posso cair nessa. Então sigo até o banheiro deixando Harry com seu cabelo longo e seu sorriso lá.

⚜⚜⚜

Samuelis é uma aldeia bastante distante da minha, ela fica na parte mais central da ilha e leva horas para chegar nela, mesmo de carro. Eu nunca visitei essa aldeia, mas Harry cresceu aqui e desde que passei pela placa indicando que estávamos na aldeia, o moreno permanecia com seu olhar na janela, olhando para a paisagem verde e tropical da aldeia, perdido em algum pensamento nostálgico. Assim que chegamos no orfanato eu respiro fundo.

Não foi só o orfanato que pegou fogo, mas basicamente metade de tudo que está em volta do orfanato está em cinzas, apesar que a reconstrução esteja começando, ainda podia se ver as marcas do fogo no chão e nas árvores. Ainda podia se ver o olhar assustado de algumas pessoas que por ali andavam tentando viver a vida com normalidade depois de uma tragédia enorme e dramática, que matou crianças. Eu paro meu carro e olho para Harry.

— Aqui estamos. -Falo e respiro fundo. Harry me olha e sorri pequeno. Ele passa os dedos no seu anel. Eu sorrio e saio do carro, o homem balança sua cabeça acostumando-se com o novo penteado e sai em seguida. Eu não acho que cortei pouco, na verdade, eu cortei bastante, agora o cabelo está batendo na orelha e ele não parece tão incomodado com isso, nem mesmo quando cortei. Então sinto-me aliviada.

Abro o porta mala do meu fusca e pego as sacolas. Harry tira uma das sacolas de minha mão e o olho.

— Eu estou aqui, mas não para apenas olhar, quero ajudar. -Diz sério e balanço a cabeça.

— Obrigada. -Sorrio, ele apenas balança a cabeça e entramos no que seria a escola.

Este lugar agora é onde estão as pessoas feridas, porque o hospital não é grande o suficiente para tantos feridos. Havia uma espécie de emergência improvisada em cada sala de aula. Havia várias crianças deitadas em colchões recebendo comida e água. Dava para ouvir alguns choros infantis e murmúrios. Outras salas estavam fechadas e tinha um aviso. Restrito para cirurgia. A escola que fica do outro lado da rua do orfanato nem de longe parecia ser onde as crianças se divertiam e aprendiam algo.

— Alexia! -Rosellie me chama e sorrio. — Que bom que chegou! Ainda trouxe alguém para ajudar. -Rosellie fala e olha para Harry.

— Sim, este é o... -Falo olhando para Harry se eu disser seu nome seria o fim.

— Edward. -Fala e sorrio concordando. Roseli sorri.

— Fico feliz que tenha vindo nos ajudar, Edward. -Rosellie fala e então nos guia pela escola.

Acabo me separando de Harry, ele fica cuidando da manipulação das anestesias e limpando as queimaduras de algumas crianças e Harry ficou com a parte de alimentar aquelas que não conseguiam por conta própria, pela idade ou pela queimadura que tinham.

Fiquei surpresa, afinal, eu jamais poderia imaginar ver Harry, como uma pessoa que cuida das outras, afinal ele chegou para mim quase morto e como um problema enorme que cheira apenas a morte e sangue, como um ceifador quebrado. Contudo, durante a tarde, quando ele cuidava das crianças pegando no colo, brincando e as alimentando ele parecia outra pessoa, não parecia perigoso, não parecia um fora da lei. Harry não soava rude quando fazia isso e muito menos o cara amargo do bordel. É diferente e eu acho que gostei disso, mas ninguém muda tão rápido e bem no fundo existe um medo de que quando ele volte a ser o que era, eu acabe me ferindo ou que ele acabe ferindo outra pessoa que não tem culpa das suas feridas e traumas.

Golden || H.S || CompleteWhere stories live. Discover now