Pequenos passos

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É quinta-feira.
Ontem fiquei cuidando de meu irmão que melhorou bem rápido graças aos cuidados de Anna.
Me arrumo e saio de casa, esperando Clarice aparecer, quem sabe tenho sorte.

Depois de 15 minutos ela aparece e vem em minha direção.
- Não estava aí esperando, estava? - Ela pergunta com o nariz vermelho pelo frio.
- Não, acabei de chegar. - Minto.
- Sei irmão melhorou? - Ela pergunta andando ao meu lado.
- Melhorou sim, já o levei para a aula hoje. - Falo.
- Entendo. - Ela faz uma pausa. - Ei, a quanto tempo você mora aqui?

Paro para pensar por uns minutos.
Fazia muito tempo que eu não deixava esse lugar.
- Acho que oito anos, coisa parecida. - Falo.
- E onde morava antes? - Ela pergunta.
- Uma cidade um pouco longe, era pequena mas era muito incrível. - Falo me lembrando depois de muito tempo.
- Descreve ela pra mim. - Ela pede sorrindo.

Dessa vez não precisei pensar nem um minuto.

- É uma cidade pequena sabe, porém os bairros eram muito grandes e tinha criança por toda parte, tinham poucas escolas o que fazia que todas as crianças se conhecessem, tínhamos uma tradição incrível todo natal onde as ruas eram cheias de decorações e luzes natalinas, as pessoas em geral eram bem gentis por lá. - Falo me lembrando.
- Você devia amar mesmo morar lá, não pensa em voltar? - Ela pergunta.
- Não pensei sobre isso faz muito tempo. - Falo meio abatido.

Ela parece ficar envergonhada mas logo continua a falar.

- Eu também não sou daqui. - Ela fala. -  Estou aqui a mais ou menos três anos, mas vivia mudando de casa.
- Por que? - Pergunto.
- Meu pai vive disso, o trabalho dele vive mudando ele de lugar. - Ela diz. - Mas já não tenho mais esse problema.
- Então parou de se mudar? - Pergunto.
- Sim, meus pais se divorciaram e eu vivo com minha mãe. - Ela diz. - Mas continuo com uma boa relação com o meu pai, só não vejo ele muito.
- Entendo, meu pai faleceu a um tempo. - Falo. - Ela teve câncer.
- Sinto muito. - Ela fala.
- Tudo bem, já faz muito tempo, já superei isso, mas as vezes bate uma saudade. - Falo.

Entramos portão a dentro e ficamos parados no corredor.
Não tinha quase ninguém na escola por que iriam começar as férias.
Iríamos nos preparar para as apresentações finais, mas como não somos obrigados muita gente não vem.

- Te vejo depois ? - Ela pergunta virando a cabeça em uma expressão engraçada.
- Sim. - Falo e me distancio para ir ajudar com a preparação da minha sala.

Entro na minha sala que tinham umas cinco pessoas rondando e outras colocando enfeites na parede.
- Bom dia. - O pessoal me cumprimenta.
- Bom dia. - Falo deixando minha bolsa em uma mesa. - Qual o tema?
- Vamos preparar a sala para a turma de robótica, eles nos deram os trabalhos e decidimos ajudar já que terminamos o nosso. - Um dos meus colegas fala.
- Precisam de ajuda? - Pergunto.
- Claro, você pode pegar alguns matérias com a professora de artes para nós se puder. - Uma das meninas que pintava algo falou. - Precisamos de papel e de tinta.
- Então eu já volto. - Saio da sala procurando a professora de artes.

Vejo Clarice, com o rosto pintado imitando um gatinho.
- A oi. - Ela fala. - O que faz aqui?
- To procurando a professora, preciso de alguns mateiras. - Falo e ela abre a porta da sala e me puxa para dentro.

Era uma sala extremamente colorida e cheia de inspiração artísticas e muitas coisas feitas pelos próprios alunos.
- Licença. - Falo e a professora me olha e sorri. - Quero saber se pode me emprestar alguns materiais para minha sala.
- Claro querido. - Ela fala e aponta para uma mesa um tanto bagunçada. - Pegue o que quiser, só me traga de volta depois.
- Sim senhora. - Falo indo até a mesa que tinha muitas coisas em cima, espalhadas onde parecia uma hora ter alguma organização que fazia sentido.

Clarice fala com a professora olhando para mim, o que me deixa desconfortável.
Até claro, Clarice vir e me puxar novamente para perto da professora.
- A senhorita Clarice me disse que você desenha e pinta muito bem. - Ela fala e eu sinto meu corpo ficar quente.
- Não que eu seja bom, eu só gosto de pintar quando tenho tempo. - Falo.
- Todas as ilustrações são muito lindas, deveria ver um dia professora ele é um verdadeiro artista. - Clarice fala empolgada.
- Quero te propor uma coisa meu jovem. - Ela fala. - Você poderia fazer alguma coisa para exibir aqui na escola?
- Não sei... - Coço a nuca. - Quase ninguém viu.
- Por favor, quero que todos vejam como você é talentoso. - Clarice fala baixo.
- O que quer que eu faça? - Pergunto quase cedendo.
- O que quiser fazer, queremos algo que transmita o que você quiser transmitir, crie sua arte. - Ela fala.
- Pois bem, vou fazer algo e trazer para a senhora ver. - Ela sorri. - Tenho que ir se não se importa.

Continuo a pegar os materiais e ir em direção a minha sala.
Alguém me abraça por trás.
- Obrigada por dizer sim. - Ela fala com a voz abafada.
- De nada. - Falo virando para ela que tinha algumas lágrimas nos olhos. - Está chorando ?
- A isso? Eu só estou feliz. - Ela fala sorrindo deixando uma das lágrimas caírem.

Eu a abraço colocando sua cabeça em meu peito.

- Estou feliz que todos vão poder ver um pouco da beleza que eu vejo em você. - Ela sorri retribuindo o abraço. - Estou orgulhosa.
- Obrigado. - Falo e ela se separa de mim. - Mas por que tanta felicidade com algo tão pequeno quanto um desenho?

Ela pensa.
Sorri de novo.

- Por que pequenos passos dão origem a grandes passos, para conquistar seus sonhos, e é isso que eu mais quero ver. - Ela faz uma pausa. - Você ser feliz concretizando seus sonhos.

Eu não tenho nenhuma resposta, apenas pegamos nossos caminhos para ambas as salas.
Enquanto ajudo o pessoal da minha sala a fazer a decoração fico pensando no que ela quis dizer.

Coisas tão pequenas podem mesmo ser tão significantes?
Podem realmente pequenos atos para fazer alguém chorar de alegria?
Posso mesmo deixar alguém orgulhoso por estar dando esses pequenos passos?

Eu realmente espero que sim.
E que todas as pessoas parem um pouco para observar.
Observem as outras, as vezes elas fizeram um pequeno progresso e não deram o devido valor.
Ajude ela a dar valor nesse pequeno passo que ela deu em sua vida.

Se observe.
Dando pequenos passos certos todos os dias.
E eles merecem ser notados e reconhecidos.
Desde acordar de manhã e ir para a aula de manhã, a se esforçar para fazer alguém feliz.
Tudo que você faz é um pequeno passo para se tornar algo grande um dia.
De pequenos passos e pequenas conquistas vivem os otimistas.

Vou começar a observar meus passos.
Eu estou respirando.
Andando.
Dando meu máximo.
Eu acordo, todos os dias
Estou vivo.
E tudo isso são meus pequenos passos, que me fazem continuar a viver e a sonhar.

Vou tentar ser um pouco mais grato.
Grato por estar vivo.
Grato por ser eu mesmo.
E é claro...
Grato por todas as pequenas vitórias de todos os dias.

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