A menina e o banco

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Ela chegou, tá bem ali sendo ela mesma, eu achei que era o único a ficar até essa hora acordado viajando não meus pensamentos e falando com um computador, eu queria falar com ela.

Quer dizer...
Ela tá bem ali, e vem todos os dias observar a árvore e a lua a noite, eu não sei o nome dela, queria ter coragem de dizer a ela como ela me faz sentir menos sozinho aqui, no meu pequeno mundo composto por eu, a natureza e ela.

Cabelos castanhos e longos quase sempre de uma aparência impecável e inocente a olhar as coisas como uma criança, eu gostaria de poder se tar ao lado dela e parar de imaginar seu cheiro de longe.
É uma pena que essa história parecida a um conto romântico acaba com meu celular tocando dizendo que daqui umas horas tenho de ir para escola.

Escola.

Muitas coisas me desmotivam lá, alunos, professores, a tia da limpeza, mas eu posso dizer que tenho um amigo, é meu professor de literatura, ele adora ler minhas coisas.

Pensando bem falar que meu professor é meu único amigo soa deprimente mas prefiro pensar que é bem legal.

Ultimamente minhas únicas perguntas estão rondando em volta dessa menina misteriosa, quem é ela, quantos anos tem, onde mora, onde estuda, eu deveria ir falar com ela logo pra não ficar criando expectativas e acabar vendo uma pessoa totalmente diferente do que é na minha cabeça.
Mas só por ela sair de pijama e sentar no banco no jardim da um ponto positivo para ela.

As vezes ela passa a mão na grama enquanto olha para o céu, não faço ideia o que significa.

Será que ela está buscando alguma coisa ? E se ela está perdida como eu? Deveria ajudá-la ?
Ninguém me ajuda, talvez ela vá lá por precisar de um tempo só.
Chega de pensar, vou ficar louco já já.

Ja de manhã
Acordo as 5:30 da manhã para estar na aula as 6:50, além da escola ser um tanto longe de casa e eu ir com nada além de um par de pernas e pés eu tenho que preparar um lanche para meu irmão mais novo e arrumar algum material que vá precisar para depois da aula voltar e correr para o meu trabalho.

Nunca é muito igual, hoje por exemplo fiz o lanche do meu irmão e arrumei o material dele, acordei o pequenino de 8 anos e muito sonolento foi comigo para tomar banho.
- Se limpa direitinho sim ? Eu vou arrumar seu material. - Falo depois de ajudá-lo a tirar o pijama.
Depois de arrumar tudo para ele volto e encontro o mesmo escovando os dentes bem quietinho.
- Você é o irmãozinho mais bonzinho do mundo inteiro. - Falo e ele sorri, isso sempre alegra ele.
- Você é o melhor irmãozão. - Ele fala descendo do banquinho que usa para alcançar a pia.
- Vá se vestir que a van vai parar aí daqui dois minutos e eu preciso ir. - Falo dessa vez juntando o meu material desajeitado na bolsa já atrasado. - Vá pentear o cabelo e vá, eu amo você.

Ele apenas concorda com a cabeça antes de me ver correr pela rua.

Que todos os santos que possam vir a existir me ajudem por que se eu chegar atrasado de novo vou pegar detenção e assim não vou pro trabalho, então não tenho dinheiro e meu irmão não come.
Correndo e ignorando os carros buzinando chego até o portão e escuto a voz do diretor ressoar, é dia de dar boas vindas aos novatos, eu não precisava estar aqui.
Minha memória é incrível.
Me sento no pátio junto aos outros alunos acolhedores.
- Por favor os acolhedores peguem isso. - A coordenadora nos da pulseiras com cores diferentes. - Eu vou distribuir e vocês vão ser responsáveis pelo grupo correspondente a pulseira.
- Coordenadora. - Ela me corta.
- Preste atenção. -Ela fala. - Apresentem a escola e as salas, professores e ajudem no que eles precisarem.
- Mas eu não. - Ela me corta de novo.
- Boa sorte vai se sair bem. - Ela sai e eu agarro a pulseirinha vencido.
- Eu não sou acolhedor. - Falo clicando a pulseira.
Começa a seleção dos alunos e cada sala é uma cor, e eu fiquei com a verde, então estava na sala esperando os alunos novos da mesma sala.

Os alunos fizeram uma fila com as pulseirinhas correspondentes de cada sala e foram entrando e se sentando já escolhendo lugares, bom que não me conheçam, posso parecer legal até agora.
- Podem se sentar, vou falar algumas coisa e mostrar a escola para vocês. - Falo olhando para a folha colada à mesa. - Primeiro como funciona o programa dessa escola e vocês podem se apresentar.
Os alunos murmuram um pouco e logo param.
- Pode começar pela primeira fileira. - Falo e o menino começa a falar seu nome e de onde veio, e eu checando seis nomes na lista de chamada.
- Meu nome é Clarice e eu sou nova na cidade, me mudei recentemente e tenho 17 anos- Uma menina se pronuncia e logo que checo o nome dela e levanto a cabeça fico em choque.
A menina do banco marrom estava bem ali, Clarice estava bem ali.

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