As raízes do coração de Clarice

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"Me ajuda?"
Uma pergunta frequente na minha vida, porém, nunca é feita por mim.
Sempre querem minha ajuda, com tudo que quiserem.
E eu ?
Sempre disposta.
Quem sou eu?
Não tenho como responder agora, mesmo tendo um nome sinto que estou mais perdida que nunca.
Quantos anos eu tenho?
Por que se importar com números? Achei que estávamos falando sobre pessoas, seres humanos.

É incrível sorrir, sorrir para tudo.
Sorrir para as pessoas e ser educada com elas.
Fazer elas rirem.
Fazer elas chorarem de alegria ou mesmo apoiá-las quando choram de tristeza.
Gostos e surpreendê-las e de ajudar como posso.

Sempre faço um enorme questionário com todos que venham cruzar a minha estrada.
Você está bem?
Comeu?
Dormiu bem?
Eu sempre me importei o suficiente e mais que o suficiente com essas pessoas e mesmo aquelas que cruzaram meu caminho sem poder ficar.

Eu decepcionei alguém.
Mas como enxergar se eu mesma estou cega?
Quero andar no caminho certo.
Mas minha estrada parece esburacada, e eu nem ao menos tento concertar.

Pessoas se foram.
Pessoas mudaram.
Pessoas continuam as mesmas.
Mas eu?
Eu sempre estou aqui pra te fazer dar risada de qualquer coisa.

Vejamos alguns anos atrás:
- Pode me ajudar com essa matéria? Eu realmente não entendi nada.
- Claro. -Respondo deixando de estudar o que precisava. - Vem até aqui.

Depois de ajudar a minha colega a estudar chegou o professor para aplicar a prova que eu estava estudando.
Cujo eu não sabia nada.

- Estudarão ? - Ele pergunta com todos passando as provas. - Espero que sim, podem começar.

Digamos que me senti uma completa burra por não saber responder um pedaço de papel.
Eu entendia tão bem nas aulas e ajudava o pessoal a estudar.
Mas eu não estudei essa matéria.
Por que eu não estudei?

Sinceramente.

Ainda naquele dia foram divulgados os resultados da tal prova, e é claro que eu fui bem...
Mal.
A menina veio com o teste dela.

-Eu consegui ! - Ela mostra a sua nota, nota máxima no teste que eu a ajudei a estudar.
- Fico feliz. - Abraço a mesma.
- E você como foi?
- Não muito bem. - Sorrio torto.
- Entendo.... quem sabe da próxima eu não te ajudo! - Ela sai feliz.

Da próxima...
É...

Outra pessoa me encontra no corredor.
Era a diretora.
- Pode me fazer um favor? Não vai até a gráfica pegar os jornais da escola? Confio em você presidente de turma. - Ela sorri.

Eu tinha muita tarefa para fazer, e tinha de ajudar minha mãe.
Mas o que eu iria responder?

- Claro. - Sorrio vazia pegando o papel da ordem de suas mãos.
- Você é a melhor. - Ela fala e continua a andar.

Gostaria de me sentir assim.

Naquele dia não pude fazer uma refeição, tinha tanto a fazer e a tal da gráfica é tão longe.
Me sinto mal de não conseguir dizer um simples não.
Eu me sinto mal ainda pela pessoa que decepcionei.
Queria ela de volta.
Queria vê-la de novo.
Queria ver o que ela passava.
Queria sorrir por ela....

E talvez perguntar como ela saiu desse sufoco.

Me sinto sufocada e desnorteada quanto meu futuro.
Não sei o que vou fazer.

Tanta gente ao meu redor.
E ainda sim tudo parece tão frio.

Eu me tornei isso.
Fugindo da minha dor por que não quero senti-la, é muito para mim.
Resolvi depois daquele dia falar com essa pessoa, procurar ela com a maior cara de pau.
E tudo que ela me disse foi:
"Vá procurar um psicólogo"

Bom eu procurei.
E está aqui o que me marcou.
De tantas visitas que fiz a uma clínica.
Uma coisa me marcou.

- Eu decepcionei alguém doutor. - Falo triste. - Eu vivo decepcionando.
- Como sabe? - Ele pergunta.
- As pessoas mostram, eu tento ajudar todos como posso mas não parece suficiente, elas não confiam em mim. - Falo.
- Você já perguntou para elas?
- Não. - Falo.
- Então como sabe? E como elas vão saber sobre você? Você tem perspectivas de todas as pessoas, sua mãe, seu pai, seu amigo e a pessoa que se decepcionou mas não tem a sua. - Ele diz.

Eu não tenho uma visão?

- O que você vai falar ou fazer é escolha sua, o que os outros vão fazer ou falar não é. - Ele diz. - Por que rumina uma ação que não foi sua? Nem tudo está ao seu controle.
- Mas quero viver bem com as pessoas. - Falo.
- Então por que não começa vivendo bem com você mesma? - Ele pergunta. - Vamos fazer o seguinte, quando for se perguntar como ele se sentiria primeiro pergunte como você se sente.
- Como assim?
- Não ignore a dor, abrace ela até ela se render. - Ele diz. - A sua dor, não a das outras pessoas, pergunte todos os dias para você mesma "como eu estou me sentindo hoje?"

A partir daquele dia.
Daquele simples exercício diário.
Aquela pergunta simples.
Eu mudei por completo.

Eu estava infeliz, e achava que se fizesse os outros felizes eu poderia ser feliz.
Mas descobri que para ser feliz, preciso me fazer feliz.
Por que minha vida é a coisa mais preciosa que eu tenho, e eu mereço me amar mais que qualquer coisa no mundo.

Para amar as pessoas e viver bem com todos.
Eu precisei ficar em silêncio comigo mesma e abraçar a raiz da minha dor até curar meu coração.
E deu certo.
Eu faço as pessoas felizes.
Por que sou feliz.
E eu sou feliz só por ser eu.
E ninguém jamais poderá mudar isso.

No final eu posso perder tudo.
Posso perder todos.
Mas eu continuarei a ser eu.
Eu vejo agora que para a vida ser bonita só basta estar viva.

Amo minha vida.
Por que minha vida sou eu.

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