Brisa da noite

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E lá estava eu, em casa de novo, meu irmão dormindo tranquilamente em seu quarto e eu desenhando o céu que via da minha janela, uma simples pintura com aquarela.

Resolvo parar de pintar, coloco um casaco e vou para o jardim em frente da minha casa e me sento no banco marrom com o livro no colo.

Novamente vendo como a natureza pode ser incrivelmente simples e linda, as pessoas também, mas é difícil achar alguém que aja tão naturalmente quanto a natureza, sempre querem se disfarçar e ser "mais comum" e igual a todos, ou rebeldes demais, tentando ser diferente da maioria, acabam caindo na cilada de ser quem você não é. Demoram demais para reparar que não vivemos por algo ou pelos outros, vivemos para descobrir as coisas e as pessoas, acredito que as pessoa que sabem e observam muito sobre tudo no mundo conseguem compreender quando digo que a sociedade faz do homem a imagem que ela quer ver, o espelho mente, pessoas mentem, mas você sempre sabe que está mentindo para si mesmo, e isso é demais para alguém.

Eu sou observador.
Eu vejo.
Eu assimilo.
Jogo fora o que não me faz evoluir.
E continuo a correr.

Não importa o que ouço, o que vejo, isso não muda quem eu sou, não tenho medo de muita coisa, não importa o que aconteça, sempre serei o mesmo no final.
Nada do que dizer me afeta.
Ao menos que seja verdade.
Se não for verdade não perca seu tempo.
Eu não quero ouvir o que você tem para me dizer.

No meio dos meus pensamentos a menina aparece atravessando a rua, e se senta ao meu lado.
- Leu o livro? - Ela pergunta.
- Um pouco, não li até onde você parou. - Falo estendendo para ela.
- Eu já li algumas vezes, é meu favorito, pode ficar para ler.- Ela fala sorrindo.

Olhamos para o céu por um momento, dessa vez ele estava limpo e lavado de um azul muito escuro quase preto, com alguns pontinhos de luz nele.
- Onde você mora Clarice? - Pergunto.
- Sou sua nova vizinha. - Ela fala, tá explicado como ela me conhece.
- Entendi... você gosta muito de vir aqui não?
- Gosto, é um lugar de paz no meio de tanto barulho e bagunça. - Ela faz uma pausa. - E você ?
- Gosto de observar as coisas, porém só tenho tempo a noite, então fico olhando pela janela e faço alguns desenhos.
- Poderia me mostrar um deles algum dia desses. - Ela diz.
- Quem sabe. - Falo voltando a olhar para o céu.

Ficamos mais um tempo em silêncio, é estranho por que normalmente me sinto desconfortável em silêncio com outra pessoa, mas parece que me entendo bem com ela mesmo e silêncio, não sinto a necessidade de conversar sobre qualquer coisa, parece que a conheço desde que nasci.
- Tenho que ir.- Ela fala se levantando e correndo para o pequeno portão do jardim. - Boa noite. - Ela sorri.
- Boa noite. - Ela atravessa a rua e entra na casa ao lado da minha.
E eu?
Bom eu fico lá.
Deito na grama.
Observo o céu e uma brisa faz cair uma pequena folha da árvore.
Tenho uma ideia.
Volto para casa, entro e fico pensando por uns minutos com o papel na minha frente.
Começo a desenhar.
Feliz.

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