Família

14 1 1
                                    

Terça feira.
Muito frio.
E eu não sei o que fazer....
Meu irmão está doente e não posso ir para a escola e muito menos ir ao trabalho com ele assim.
O problema é que preciso dar algum remédio para ele, mas sem trabalho, sem dinheiro.
E para quem eu vou pedir ajuda?
Vou ver o que consigo fazer....
Pegarei outra vez o dinheiro da internação da minha mãe.

Fecho a porta com o pequeno menino no meu colo, sem ligar se poderia ser um vírus muito contagioso.

- Onde vamos? - Ele pergunta baixo.
- A uma farmácia buscar alguma coisa para fazer você ficar melhor. - Falo tirando meu cachecol e colocando no pescoço do menino cobrindo sua boca. - Vai ficar quentinho.

Caminho até a farmácia mais próxima de casa, que não era tão próxima assim para falar a verdade e entro.

- Olá, posso te ajudar? - O atendente me aborda.
- Olá, eu queria saber se tem um remédio para gripe, ou algo que possa fazer esse carinha melhorar. - Descubro seu rosto para o farmacêutico ver.
- Ele tem vomitado? - Ele pergunta indo para a área dos remédios infantis.
- Sim, e tem tido febre também, a voz pouco sai e ele diz ter dor de garganta. - Falo.

O farmacêutico continua a olhar os remédios, e Anna entra.
Anna, a senhora que sempre vai a loja.
- Vim buscar meu remédio. - Ela entra alegra com uma receita médica nas mãos, se assusta ao me ver.
- Senhorita Anna já vou lhe atender só me deixe buscar algo para esse menino. - O homem diz sorrindo.
- O que faz aqui filho? - Ela pergunta para mim.
- Meu irmão está doente, vim buscar algo para ele melhorar. - Falo e ela avalia o menino.
- Mas não vai trabalhar? - Ela pergunta com o homem escolhendo uma cartela de remédios e um vidro de xarope.
- Não senhora, preciso cuidar dele. - Falo preocupado.

A sobrancelha dela pareceu pesar em uma expressão quase de pena.
Porém apenas sorriu.

- Aqui está senhorita Anna. - O homem lhe dá o remédio e assina o papel que ela havia lhe dado.

Ela pega a pequena sacola e coloca dentro da minha e leva ambas para o caixa.

- Ei ei, espera aí. - Falo agarrando o menino e indo atrás dela.

Ela já havia pagado tudo.

- Vamos? Eu sei o que vai animar ele. - Ela fala como se nada tivesse acontecido.

Apenas acompanho ela.

- Quanto lhe devo? - Pergunto no caminho da casa dela.
- Nada. - Ela fala abrindo o portão de sua casa e entrando. - Espere um minuto que eu já volto.

Agora o que ? O que tá acontecendo?

Depois de uns 10 minutos ela volta com uma sacola de coisas e fecha seu portão dando as sacolas em minha mão.

- Vamos para sua casa. - Ela diz.
- O que é isso Dona Anna? - Pergunto.
- Vou fazer a melhor sopa que vocês já tomaram. - Ela sorri. - Remédio de avó.

Chegamos em minha casa e entramos com meu irmão soluçando em meu ombro, ele chorava baixinho.

- Que foi campeão? Tá doendo em algum lugar? - Pergunto preocupado.
Ele aponta para a cabeça e a garganta.
- Vai passar, eu prometo.

Anna já estava na cozinha a preparar os ingredientes para a sopa.
Coloco meu irmão aninhado em cobertores na sala e me junto à ela.
- Precisa de ajuda? - Pergunto.
- Coloca água para ferver. - Ela me pede e eu o faço.
- Para sopa ? - Pareço confuso.
- Não bobo, para o chá de gengibre, vai melhorar a garganta dele.

Uma memória me vem à cabeça.

- Eu sempre odiei chá de gengibre, minha mãe fazia quando eu ficava gripado. - Falo rindo na cozinha. - Mas ela me fazia tomar.
- A gente que ama sempre quer o melhor para a pessoa amada, mesmo sabendo que pode doer. - Ela fala.

É.
Minha mãe me amava muito.
Será que ela ainda pode me amar?

A campainha toca.
- Vá olhar filho. - Ela fala cortando os vegetais.

Espio pelo olho mágico.
Clarice estava lá, tremendo de frio.

- O que faz aqui? - Falo abrindo a porta dando espaço para a mesma entrar.
- Bom te ver também. - Ela sorri. - me preocupei que não foi a aula, então vim te ver.

"Vim te ver. "
Nunca ouvi frase mais bonita.
- O meu Deus. - Ela fala indo até meu irmão visivelmente doente. - O que aconteceu com meu menininho?
- Ele pegou uma gripe forte. - Falo.
- Que cheiro de chá de gengibre. - Ela diz indo até a cozinha.
- Olá jovem. - Anna diz sorrindo, ainda preparando as coisas para sopa.
- Olá senhora. - Ela fala sorrindo.- É sua avó? - Ela pergunta para mim.
- Não, ela é uma amiga que sempre vai na loja onde trabalho. - Falo. - Ela bateu o pé que viria fazer uma sopa para meu irmão.
- É uma ótima ideia, remédio de vó. - Ela fala. - Quer ajuda?
- Claro. - Ela fala e Clarice se junta a ela na cozinha. - Leve o chá para ele.

Peguei o chá já pronto em uma caneca e levei até a sala.
Me sentei ao lado dele e ele olhava para mim com uma carinha de cansado.
- Toma isso aqui que vai sarar a dor de garganta. - Ele cheira o chá fazendo uma careta.
Ele balança a cabeça dizendo não.
- Por favor campeão. - Ele continua a balançar a cabeça negativamente.
- Eii eu vou pegar esse nariz de rena seu. - Falo e ele ri.

Ele fica sério de novo olhando para mim com um olhar triste.
- Você vai trabalhar? - Ele pergunta com dificuldade.
- Não. - Ele me olha e toma a cabeça de plástico das minhas mãos, bebendo o chá.
- Vai ficar pronta já já meninos. - Clarice aparece sentando do nosso lado.

Ficamos lá por uns momentos, deixando o silêncio tomar o cômodo por um tempo enquanto meu irmão dormia um pouco no sofá.

- Ei. - Clarice me chama. - Você me preocupou não indo, não faça isso de novo. - Ela fala olhando para o chão.
- Tudo bem, eu te aviso se faltar. - Sorrio e ela fica vermelha.

Depois de um tempinho a sopa fica pronta.
Cheirava maravilhosamente bem.
Acordo ele e juntos vamos comer.
- Bom apetite, espero que seja do agrado de vocês. - Anna diz se sentando a mesa.
- Cheira muito bem. - Clarice sorri.
- Alguém já tá adorando. - Todos olham e dão risada do pequeno menino devorando a sopa como se fosse a melhor coisa do mundo.
- Não falte mais à aula, se precisar me chame. - Anna diz.

Todos começaram a comer.
Realmente era muito bom e fazia tempo que eu não fazia uma refeição assim.
Fico observando enquanto todos comem e conversam sobre alguma coisa aleatória.
Clarice estava feliz.
Anna sorria.
Até mesmo meu irmão dava risada.
E eu?
Eu estava feliz.

Tinha comida na mesa, tinha gente que se importa comigo, e meu irmão estava melhor.
Parecia até...
uma família.

É....
Acho que família não são só aqueles que dividem o sobrenome ou pessoas com o mesmo sangue.
Sim são aqueles que se importam com seus sentimentos, as pessoas que te amam.
Pensando assim....
posso acreditar que tenho uma família feliz.
Uma linda família que me ama e que eu amo.
Uma linda família que eu mesmo escolhi.

Deep Inside Where stories live. Discover now