17. cite o que dói mais

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     Ele me tinha: suor, fala, reações e tudo. E isso doía, além do que eu tinha imaginado. 

     Era como se, ao me deitar com ele, viver aqueles dias e perceber o seu jeito, descobri intensidade dentro de mim. Tudo sem intenção de me prender, mas com noção de que era impossível não me entregar à ele. 

     Limpando uma lágrima que de repente caiu, limpei também a minha garganta e impedi que eu chorasse de novo, pois um carro preto tinha parado na frente do meu prédio. Um dos capangas saiu e abriu a porta de trás, dando espaço para que eu visse Zeus saindo. Estava suado, seu cabelos novos colados na testa, algumas marcas de sangue nos pulsos, mas nenhum olho roxo e nenhum machucado visivelmente terrível. 

      Assisti enquanto ele olhava para o portão do prédio e o carro ia embora, não esperando sua entrada. Seus olhos azuis ficaram fixos a frente e onde os botões dos apartamentos estavam, ele levantou a mão e fez que ia tocar, mas seu rosto virou para outro lado da rua e os ombros caíram. 

     Segurava sua mochila com as duas mãos, sem força ou vontade. Ponderei se devia descer lá e fazer ele subir, mas então com um movimento rápido, pulei de susto ao escutar o interfone tocar. Descendo rapidamente as escadas e indo até a porta, apertei para que o portão abrisse sem falar nada. 

     Eu deixei a porta do apartamento aberta, e fui até a cozinha, servindo um copo de água para ele e pegando um anti-inflamatório, deixando ambas coisas em cima da mesinha de centro da minha sala. 

     Assim eu eu virei da posição que estava, Zeus estava na entrada da minha casa, largando sua mochila no chão. Meus músculos se contraíram como uma vontade automática de querer correr até ele e abraçar seu corpo, mas eu parei antes que desse o segundo passo. 

      Passei as mãos na minha roupa e apontei para a água e o sofá, indo até ele só para fechar a porta. 

      — Vencestes? O que aconteceu? — Perguntei, agarrando com mais força que o necessário a maçaneta. 

      Com um riso sem graça, Zeus respondeu. — Eu já disse que eu nunca perco. 

      Ele sentou calmo no sofá, passando as mãos nos cabelos e arrumando o coque em cima da cabeça. Sua barba estava um pouco maior desde quando tinha visto ele pela última vez, mas era uma mudança mínima, e eu só conseguia pensar como ele pertencia àquele lugar. 

      — Comentastes uma vez, mas nós sabemos que a escolha sempre fica na mão daquele... bosta. 

       Meu comentário fez com que Zeus viesse com os olhos até mim. Ele percebia a minha fala carregada de raiva e desprezo, mas será que via o apoio que eu daria pra ele? Percebia que eu não controlava mais nada em relação aquilo?

      — Ele não me controla mais. — Respondeu, aliviado e me assegurando com o seu olhar. Aquela parte não me fazia mais preocupada, mas o que estava prestes a sair de dentro de mim fazia com que pânico tomasse conta de todo o resto do meu corpo, não só o meu peito. 

      Tomando cuidado, caminhei de volta para o sofá, mas peguei a água e o remédio, sentando na mesa e estendendo eles para que ele tomasse. Me olhando com suspeita, Zeus tomou o copo sem tocar em mim e levantou a palma da sua outra mão para que eu despejasse o comprimido ali. 

      Eu esperei ele tomar a água inteira, atenta no movimento que sua garganta fazia e vendo como algumas manchas saíam através do tecido azul da sua camisa, cortes provavelmente que ainda estavam sangrando e eu não sabia se ele iria deixar eu cuidar deles depois que começasse todo o meu discurso. 

      Respirando fundo, sacudi meus cachos e olhei diretamente para os seus olhos. — Eu me lembro como era ter o controle no nosso se.xo. — Comecei. 

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now