12. lute para ser só isso

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12. lute para ser só isso

      Eles sabiam de tudo, não tinha porque eu ficar surpreso ou com aquele medo todo que corria pelo meu corpo. Tinha sido diferente.

      Eles sabiam, e eu também. Não me surpreendi quando vi um dos capangas de Alli na cafeteria. Mas aí eu percebi que ele estava lá, e que de algum jeito, percebia todos na sua volta sem levantar a cabeça. Queria bater a sua testa na mesa naquele instante. 

     Quando eu me aproximei, ele nem precisou levantar a sua cabeça também, mas fez por respeito. Falou sobre tudo o que tinha escutado ali, sobre meus amigos, conversou sobre meus irmãos... falou sobre Iara, quando em nenhuma outra vez tinham feito aquilo. 

      Tinha irritado Alli de uma forma que fez ele ir até lá me avisar, e não mandar só os capangas dele: mais uma revolta e eu ia sofrer as consequências. E não só eu. 

      Iara era a atenção de Alli, e ela não fazia a mínima ideia de que ele podia saber o tamanho do seu calçado. 

      Alli não vinham fazer ameaças sem ter provas. Ele já tinha estudado a rotina de todos, e se algo acontecesse a culpa seria minha. Eu estava levando aquilo tudo como uma brincadeira, e eu sabia. Durante anos nada acontecia comigo, porque ele estava ocupado demais em educar os outros que ele não tinha nada contra. 

     Ele sabia que me tinha preso. Ficava tudo bem. Mas ele deve ter percebido que eu não estava mais concordando em ficar aceitando, então ele veio com ameaças e a condição: que ela fosse ver uma das lutas. 

    Mas ela não iria ver só as lutas. Ela ia ver eu lutando, machucando alguém, ia ver as drogas e os executivos com mulheres nuas sentadas nos seus colos. E ela ia entender, de alguma maneira, que minha mãe tinha sido uma vez a mulher nua no colo de Alli porque precisava das drogas que vinham junto. 

     Pulando e sacudindo o meu corpo, relaxei meus braços. Eu estava treinando, como sempre, mas me sentia mais pesado. A cada soco que eu dava meus braços ameaçavam cair. 

    Gabriela tinha parado de gritar palavras de encorajamento, vendo que algo sério estava por acontecer e eu não estava no clima. Para mim a ideia de armas apontadas para a cabeça dos meus irmãos, Iara, Aimée, nunca tinha parecido tão real quanto aquele momento. Eu não queria acreditar, mas como não? 

     Me atirando no tatame, abri meus braços e fechei os olhos por um momento. A dívida estava prestes a acabar, e logo eu ia conseguir sair dos esquemas de Alli. Queria acreditar que ele tinha uma palavra, que até aquele dia não tinha quebrado. 

      Os outros falavam como se fossem somente histórias. Os treinadores e lutadores eram rotativos. Não duravam mais que dois anos. Mas eu estava lá desde quando era menor graças a minha mãe. Eu sabia que quem desobedecesse uma ordem completa não aparecia para o treinamento no outro dia, e sim no chão da saída do galpão, com tiros pelo corpo. 

     Seus capangas eram fixos, e estes perdiam dedos ou até mesmo uma mão inteira em caso de desvios de dinheiro que não pertencia a eles. Até aquele dia poucos eram trocados, porque serviam para além das lutas, e sim para as empresas que Alli era dono. 

     Respirando fundo, senti Gabriela sentando do meu lado com a prancheta dela. 

     — Nós temos ainda três outros exercícios e mais alguns golpes no saco de areia. Mas acho melhor mudar o esquema e fazer eles todos amanhã. 

     — Eu estou bem. — Disse. Me levantando, não olhei para o seu rosto e fui direto para os pesos empilhados que tinha que puxar pelo chão da academia. 

Boa tarde, Zeus ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora