16. lute para não brigar

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       — Qual o problema de vocês? Por que tão incomodando com isso? 

      Minha pergunta foi feita enquanto eu fechava a torneira e virada, me apoiando no balcão. Eu olhava pra eles tentando esconder o quanto estava curioso pelos motivos deles. Será que eu estava demonstrando o que estava sentindo, mesmo sem saber o que que era aquilo? 

      — Vocês vírgula, o Aquiles. Eu só achei estranho...

      — Bem, já que o meu irmão é um idiota, eu admito que to incomodando mesmo. Primeiro porque eu já vi o jeito que ela te olha, certo que ela gosta de ti. Segundo que é muito estranho logo tu falar sobre ela. Se ela te curte e vocês almoçaram... Tá rolando alguma coisa. 

      Ele me examinava enquanto falava, só pra ver se eu tinha alguma reação. Mexendo a cabeça saí da mira dos olhos dele e voltei para enxaguar o que faltava da louça, respirando fundo pra não continuar aquele assunto, porque nenhum dos dois me ajudaria se eu decidisse contar.

      Aquiles sem saber o que era gostar só de uma pessoa e Apolo achando que tudo significava amor só porque ele tinha encontrado a parceira de vida dele, sempre foram horríveis em dar algum conselho. Nenhum deles sabia pelo que eu passei, o que fiz ela passar, ninguém ali sabia como ela era de verdade ou como eu tinha me sentido naquela última conversa que a gente teve. 

      — Iara é uma guria que gosta de drama, ela é a merda de uma escritora. — Comecei, e por mais que usasse certas palavras e uma voz diferente, não deixava de ser verdade. Ela gostava de drama, e eu me questionava se era por isso, no final, que ela tinha se interessado por mim. 

     Não ia ter a coragem de perguntar, do mesmo jeito que não tive coragem de responder ela quando me questionou se eu tinha começado a tentar ela por causa do seu namorado. 

     — Tu pode ser bem dramático às vezes. — Foi a resposta dele. 

     — Ela é um tipo diferente de drama. — E de mulher. 

     — Drama é drama. 

     — Tu tá vendo coisa onde não tem, cara. — Respondi, terminando tudo na cozinha e saindo o mais rápido dali que consegui, pegando minha mochila e sentando na mesa. De dentro dela, peguei o meu celular pra ver se tinha recebido alguma mensagem, mas não tinha nada, nem das crianças. 

      Aquiles veio até a mesa e sentou de novo, esfregando o rosto. — Eu acho que não seria nada mal transar com ela, pelo menos. — Deu de ombros. — Tu já viu aquela bunda? 

      Aquele comentário tinha sido demais até pra ele, e eu sabia que era porque ele queria ver alguma resposta de mim e eu tinha dado exatamente o que ele queria. Meus olhos foram até o rosto dele, eu senti meu pulmão aumentando a velocidade da minha respiração e tudo o que eu queria era socar a cara do meu próprio amigo por ele falar assim sobre Iara. 

      Nenhuma mulher das que ele ficava ele tratava desse jeito, qual era o problema dele? 

      Me levantando, peguei minhas coisas e decidi que ficar ali não era uma boa ideia.

      — Vocês que fiquem. — Disse, antes de bater a porta que ainda estava aberta. Ele não tinha nenhuma noção e se fosse pra continuar aquilo durante a nossa tarde preferia sair mesmo. 

     Indo pelas escadas, saí do prédio deles e simplesmente comecei a caminhar pelo bairro, tentando esfriar a minha cabeça e tentar esquecer por um segundo o que que estava acontecendo. 

      Porque pra mim não era só pensar em todas aquelas merdas, era tentar achar uma resposta pro que eu tava sentindo sem saber onde começar. Eu sabia lutar, e era isso, não tinha nascido pra ir pesquisar motivos ou entender o que fazia as pessoas sentirem. O que os outros faziam na vida dos outros. 

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now