16. lute para não brigar

Começar do início
                                    

      A água estava gelada quando eu comecei a lavar tudo aquilo, começando com os copos. Minhas juntas já estavam saradas, minha mão não tinha nenhuma mancha de sangue desde uma semana antes, ou até mesmo um pouco mais. Tinha perdido a conta dos dias, além de todas as outras coisas como a minha mente. 

    Só sabia que naquele dia, algumas horas dali, estaria com sangue nas mãos de novo e se eu deixasse aquele único sentimento de raiva aumentar, diria que o meu peito estaria com um buraco de bala. 

      — Posso saber qual o motivo de vocês estarem aqui? — Aquiles começou. — Porque, agora que tudo já está organizado, eu posso começar a preparar pra festa do final de semana e vocês estão convidados somente a se retirar. 

      Sua voz parecia cansada e ele sabia cobrir o fato de sua fala estar ainda um pouco arrastada, mas tudo aquilo só fazia eu confirmar cada vez mais que eu estava perdendo a minha mente. 

      — Não precisa falar como se fosse a Iara... — Comentei antes de perceber o que estava fazendo e ainda que estava sorrindo só de pensar em todas as vezes que ela falou séria e sem emoções comigo, com palavras complicadas e pomposas demais, e o momento exato onde ela gozou pra mim, se livrando de toda a seriedade. 

       O silêncio foi maior depois do meu comentário e eu só conseguia focar na água que eu usava pra enxaguar os pratos antes de colocar eles no escorredor de metal. 

       — É muito estranho ele comentar sobre ela. — Apolo disse, mas não estava falando comigo. 

       — Né? Que bizarro... Sabe, ele nem tem saído com as gurias que eu arranjo pra ele. E olha que elas são insistentes.

       — Ele não sair não significa nada, Aquiles. — Apolo disse, me defendendo, e eu queria acreditar no que ele estava falando. 

       — Significa sim! — Aquiles retrucou, mas logo reclamou de dor quando sua voz aumentou um pouco. 

        Fechando a torneira por um pouco, me virei com as mãos molhadas ainda no balcão da pia. Eu não conseguia rir com aquilo tudo e estava odiando falar sobre Iara, o que fazia eu odiar mais ainda que não era pelos mesmos motivos que antes. 

      — Vocês tão viajando. — Falei, negando com a cabeça e voltando para os pratos e talheres, tentando mostrar que não importava nem um pouco com a situação, mas Aquiles sabia que quando eu não me importava de verdade eu nem respondia, o que fez ele começar tudo de novo. 

       — Isso é muito estranho. Vocês tem saído? Eles têm saído? — Perguntou primeiro para mim e depois pro irmão. Eu forcei a resposta que eu tinha pra dentro da garganta e deixei Apolo responder. Se fosse Aimée estaria mais ferrado. 

       — Amada comentou sobre eles terem almoçado ou alguma coisa assim, mas acho que é porque causa dos gêmeos. 

       Com a resposta dele, fiquei tranquilo apenas por alguns segundos. 

      — Tu saiu com ela? — Aquiles perguntou, a sua voz mais perto. Olhando para trás ele estava na porta da cozinha, apoiado e com olhos quase fechados, me encarando. 

       Ainda estava sem uma camiseta e agora eu conseguia ver que tinha chupões por todo o seu peito. Às vezes ele não mentia sobre ter se dado bem...

      — Não saí. 

       — Tu saiu! — Ele berrou, apontando pra mim, o que fez eu largar todos os talheres cheios de espuma na pia, fazendo barulho e mostrando a raiva que eu tava sentindo por todo aquele papo. 

Boa tarde, Zeus ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora