Seven

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Daniel

Eu pensava que as ofensas gratuitas e o modo ridículo que nos tratávamos tivesse ficado no passado. Pensei que ela estava sendo sincera quando disse querer ser minha amiga em nome de um bom convívio. Mas era teatro. Essa peste não muda e parece estar jogando comigo.

_Não ligue para a Kayla, Sr. Daniel._Benício diz._Ela é assim mesmo, tem um péssimo gênio, mas é do bem. Não faz mal por querer.

_Vi que ela quis e muito me ofender agora. Obrigado, Benício. Com licença.

Saio da cozinha e sigo para fora do castelo. Resolvo ir visitar meus pais já que o clima aqui está nada bem. Acho que uma boa saída vai ser viver na casa dos meus pais. Vejo Celina de longe treinando com meu pai no jardim do casarão. Ela para e vem me abraçar.

_Pensei que demoraria pra vir aqui, Dan. Vou chamar a mamãe.

Beijo sua testa e ela corre pra chamar dona Marianna. Meu pai se aproxima e me abraça também. Me entrega o bastão e começa a me golpear.

_Fala, o que aconteceu?_Ele me golpea forte no braço direito._Está preocupado ou aborrecido.

_Um pouco dos dois._Bato em sua barriga._Acho que vou passar uma temporada aqui com vocês. Já estou com saudades e...

_Quer fugir da sua esposa._Ele me bate na cabeça._Você pode vir aqui todos os dias, Daniel, só não pode deixar sua esposa e seus compromissos para outro cuidar. Você é responsável por tudo agora. Principalmente pela paz.

_Mal casei e já quero separar. É normal?

Ele gargalha e eu acabo o derrubando. Minha mãe surge e me arrasta pra comer alguma coisa. Estávamos todos à mesa, menos o Mayk. O mesmo foi verificar se está havendo o cumprimento do acordo de paz entre as espécies em outros vilarejos. A mulher dele, Alanna, está quase tendo bebê. Em breve estarei sendo tio de um garotão.

_Quando você vai me dar um netinho, filho?_Lá vem dona Marianna...

_Nunca, se a Deusa quiser._Resmungo._Tem como pedir pra fazer cervo pro jantar? Não comerei essas coisas no castelo porque, segundo a minha esposa, não é comida de vampiro.

Vi que todos se entreolharam e meu pai assentiu. Espero que eles saibam que não tá nada fácil pra mim. Mas uma coisa que meu pai falou e que não sai da minha cabeça é que eu só não posso deixar minha esposa e meus compromissos pra outro cuidar. Dos compromissos eu cuido, mas eu gostaria da Kayla ocupada com alguém. Um alguém que ela ame e que lhe dê bom humor porque a garota é uma praga. Vou amadurecer a ideia, mas acho que nenhum homem vai ser corajoso o suficiente pra se aproximar dela.

...

Já é quase 21hrs quando estou voltando pro castelo. Ao pisar meus pés dentro de casa, Kayla desce a escada. Seu olhar se direciona até mim, mas eu desvio o meu. Subo pela outra escada para evitar contato.

_Daniel?_Paro assim que ouço meu nome, mas não me viro._Olha, eu não sei o que... É que... Vou mandar fazer cervo pra você.

_Não precisa._Minha voz sai tão grave._Eu já comi numa casa onde não importa se você é vampiro, lobo ou os dois, sempre serei bem tratado e sem distinção de comida pra vampiro ou pra cachorrinho, como você mesma disse. Boa noite.

Terminei de subir e me direcionei pro meu quarto. Amizade com ela não funciona, vai ser na base da frieza assim como ela foi comigo. Até ela conseguir se ocupar com alguma coisa ou com alguém. Tomo um banho e procuro Aragon pelo castelo. O encontro na biblioteca do topo.

_Aragon? Com licença._Entro no ambiente.

_Oi, Daniel._Ele fecha um livro._Já vi que os ânimos entre você e Kayla não estão nada bons. Isso vai passar, acredite.

_Creio que sim, uma hora ou outra._Sento numa poltrona perto dele._Vim aqui conversar sobre qual serão minhas funções no castelo. Terei que viajar? Andar entre a sociedade? Ser apresentado como alguma coisa?

Ele ri e até parece que falei algo engraçado. Será que ele é tão louco como a filha?

_Não se preocupe, Daniel. Seu maior papel nisso tudo é manter-se casado com a minha filha porque isso nos assegura a paz._Seu sorriso desaparece._Mas já vi que vocês andam se estranhando.

_Sua filha é uma peste, se me permite._Afirmo e ele sorri contido._Acho que você sabe bem disso. E também sabe que não comecei nada disso.

_Eu sei, eu sei._Sua calmaria me assusta._Sabe, Daniel, lembro-me que seus pais também tiveram esses tipos de problemas no início do casamento. Eles também não queriam casar, mas seguiram o que lhes foi imposto. A diferença é que eles poderiam se separar depois de um ano, algo assim. E o amor acabou surgindo nos corações dos dois.

_Eu sei disso tudo. Mas vale ressaltar que o ócsio surgiu entre eles. Tiveram uma ajuda da Deusa._Levanto da poltrona._Aragon, não quero amar a sua filha, longe de mim. Eu só gostaria de ser respeitado por ela. Caso contrário, não me responsabilizo do clima pesado que vai ficar nesse castelo.

Peço licença e saio da presença dele. Ao virar no corredor, dou de frente com Kayla. Ela está me olhando fixo, em um tom de tristeza esquisito.

_Eu ouvi._Ela sussurra e eu engulo seco._Eu não quero clima pesado, Daniel.

_Pensasse nisso quando falou que...

_Daniel!_Ela exclama exaltada._Trégua... Entendeu? Eu agi por impulso, fui uma idiota, eu sei. Mas não precisamos ser inimigos por isso. Eu estou pedindo desculpas. Pode aceitar, por favor?

Ela soou tão mandona que foi engraçado. Acabei soltando uma risada e ela veio me batendo raivosa.

_Eu pedindo desculpas e você rindo de mim? Seu... Seu ridículo!_Ela continua me estapeando.

_Ei, calma._Seguro em seu pulso e a agarro._Eu aceito sua desculpa, esposa das trevas.

Ela me encara e alterna o olhar entre meus lábios e meus olhos. Isso surte um efeito intenso em meu corpo. Minha garganta seca e eu obedeço a voz que grita dentro de mim. Eu beijo seus lábios. Ela retribui.

(*)

O filho da lua e a filha da escuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora