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Taila:

Eu tô muito fudida, tô muito fudida mesmo. Como que eu me atraso pra essa porra de prova de admissão de novo? Meu pai vai me matar, ele realmente vai me matar. Pensava alto, enquanto corria por um dos corredores onde minha prova iria acontecer. Eu não estava com o mínimo de paciência, eu realmente só queria fazer essa prova, ir pra minha casa, me entupir de açaí; porque açaí é vida né, po. Entrava na sala, que por sorte ou por destino, eu haveria de ter chegado a milésimos de minutos. Antes de acabar o tempo de entrada, vejo a monitora da prova, ai que mona xoxa. Fui para meu lugar calada, né, a sala não estava tão cheia e eu só queria terminar essa bendita prova logo, já que o resultado para mim sairia na hora. Mais uma das vantagens de se ter um pai rico, que compra tudo para você. Está bem, eu exagero, mas desde que minha mãe morreu, meu pai me super protege e mesmo um tanto ausente, não me deixa faltar nada e por incrível que pareça, sabe das coisas antes mesmo da minha vó.

Horas depois...

Finalmente essa prova terminou, eu não aguentava mais, até que não foi difícil, já que me preparei para ela a dois anos e eu definitivamente iria passar com louvor na UFRJ. Finalmente em casa, nossa. Me embolava de um lado para outro, ainda com roupa da prova, me levantava calmamente e ligava para a Sônia, a filha da Ana. Conheci ela esses dias e nos tornamos amigas, graças a deus. Papai ajuda a Ana e a Sônia em tudo. Tinha combinado com ela de ir em um baile na Rocinha, juro que tô me cagando de medo de ir nesse baile, eu não era proibida de sair pra canto nenhum, mas eu temia pela nossa segurança, já que o Rio não era o lugar mais seguro do mundo, e longe disso. Sônia rodava no meu quarto separando nossas roupas, ela morava no térreo, já que dona Ana e seu Jorge moravam no condomínio. Os dois eram irmãos do zelador do prédio onde eu morava e o mesmo tinha direito a duas casas no condomínio. Uma das casas a Soninha morava... Bom, já estávamos prontas, eu estava com um salto preto e um vestido vermelho, um pouco curto... Ok, curto demais, dava pra ver meu útero nisso aqui. A Soninha estava com um azul e salto. Ambas estávamos de cabelo solto, havíamos pedido um uber, chegando ao pé do morro, o motorista disse que não iria subir, ok, saímos no pé do morro e assim que olhei a subida Soninha me olhou.

Sônia: E mona, tu sabe de nada, vamos ter que subir isso memo. Via a agitação do morro, e olha, não é nada disso que contam na tv, sério, o povo é legal e animado, todos na rua subindo e descendo, já ia da meia noite, estávamos subindo, via umas mona xoxa nos tirando e chamando de patricinha. Ava, sério isso? Ignorava legal as mesmas.

Na entrada de uma quadra, estava havendo o baile, eu via caras armados até os dentes com fuzil e aquilo me assustou de verdade. Soninha saiu puxando meu braço até dois garotos com fuzis nas costas e olha, eles eram lindos, aqueles típicos bandidinhos marrentos. Meu deus, minha calcinha, calma ai.

Sônia: Olha, esse aqui é o DG e esse VM. Os meninos olharam para mim me fazendo sorrir e eu corei na hora. Vocês já viram uma preta corada? Pois é, eu corei e minha calcinha nem se fala.

Taila: E ai. Abraço os mesmo e beijo no rosto, igualmente fazem comigo.

Sônia: Liga não meninos, é a primeira vez dela aqui. Cade a tia Zuzu?
Olhava sem entender nada e via um dos meninos apontando.

DG: Eeee Soso, acho melhor tu não ir lá não, ela tá no maior pega com uma novinha lá em cima.
Eu realmente não entendia, só sei que senti a mão da Sônia me puxando e entramos finalmente no baile.

O QUE ERA AQUILOOOO, sério, o vucovuco tava show. Cada homem que só jesus sabe. Cada sarrada que eles davam ao passar a música alta, o cheiro de bebida, eu já estava louquinha com a Soso. Bailão desses e eu perdendo em casa fi, dançavamos muito descendo até o chão, rebolando bem a raba pros bofe. Na hora que o som para, desço a mão onde seguro o copo de vodka, para ouvir o dj falar algo.

Dj: E lá vem a tropa do seu Zé. Valeu por mais essa Zé, tu sabe que é tudo nosso e nada deles, irmão. Ouvia o dj referenciando quem? O chefe do morro.
Mentira que eu estava aqui apenas a uma hora e iria vê o chefe do morro.

Sinto Soninha encostando em mim quando a tropa do Zé; como era chamada, passa. E ao vê de quem se tratava ao passar, eu realmente não acreditei.

Entre a Razão e o Ódio.Where stories live. Discover now