Memento Mori

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14/03/2017, Terça-feira. 07:28

Muitos discutem sobre o valor de uma vida humana, alguns afirmam que o preço de uma vida humana é inestimável outros insistem em questionar o motivo de tratarem vidas humanas como sendo mais valiosas que as dos demais animais presentes no planeta terra. Mas quem atribui um valor a vida? As pessoas valoram individualmente a existência dos indivíduos ao seu redor baseada em diversos fatores, alguns deles são: seus valores morais, a situação em que se encontram e o vínculo com a pessoa em questão.
Nasce então um questionamento essencial quanto ao contexto em que a pobre Elaine encontra-se: como pode lhe ser exigido que valorize a vida das pessoas ao seu redor, se nunca antes haviam valorizado a sua?

O que é a vida de outrem para alguém que não está ciente do valor de sua própria existência?

A caminhada dos condenados. O simples ato de percorrer o corredor de sua escola era algo que exigia concentração e coragem. Um passo atrás do outro, Blair lentamente atravessou o perímetro sob os olhares de rejeição e medo daqueles que deveriam ser seus semelhantes.

Já faziam dias desde que as notícias relacionadas aos homicídios haviam se espalhado e – como de costume – os estudantes dedicaram-se inteiramente a um de seus hobbies favoritos: boatos. Assim como já havia sido provado em diversas ocasiões, o povo não necessita de comprovações para chegar a conclusões, tudo que eles precisam é de um alvo para descontar as frustrações e insatisfações deles mesmos. Uma suposta bruxa era inquestionavelmente o alvo perfeito.

Elaine chegou até o banheiro feminino, sua expressão era um retrato da calmaria em seu coração e mente, ainda que sua alma vibrasse de empolgação.
A porta do banheiro abriu lentamente, o reflexo de outra estudante juntou-se ao de Elaine no enorme espelho que cobria cerca de dois terços da parede em questão de largura e um pouco mais que um terço em altura.

— Olha se não é a bruxinha... — Disse a estudante com um sorriso malicioso em seu rosto.

Os olhos frígidos de Blair encontram-se com os olhos perversos de sua colega, porém Elaine nada disse.

— O que foi? O gato preto comeu sua língua?

Ainda confiante, a desagradável garota continuou a provocar a catalisadora. Blair insistiu em não proferir uma palavra sequer.

— Ei! Eu estou falando com você! Responda, aberração!

Perder a paciência, uma ação corriqueira na vida dos humanos. Por mais simplória e entediante que uma pessoa possa ser, existe muito mais sobre ela do que suas expressões podem revelar. A jovem "bruxa" apenas fitou o rosto enraivecido de sua colega por alguns breves segundos.

— É doloroso, não é? – Perguntou Blair.

— O que?

— Rejeição.

A garota havia compreendido, porém custava-lhe aceitar. Uma pessoa considerada inferior, uma isolada, uma bruxa, fazendo-a sentir-se rejeitada? Completamente inadmissível.

— Do que está falando, aberração? Além de bruxa ainda é maluca? Era só o que me faltava!

O resultado foi previsível e entediante, a catalisadora apenas direcionou um olhar de decepção para a garota à sua frente.

— Eu estou falando com você! Vai ficar muda novamente?! – A estudante agarrou o uniforme da suposta bruxa.

Elaine sussurrou, baixo o suficiente para que a menina que a segurava não conseguisse ouvir suas palavras.

A Coruja NegraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora