Boa Noite

80 2 4
                                    


Emoções são um veneno para a alma.

"O mesmo remédio que cura é aquele que pode matar". Certamente já ouvimos algo parecido em algum momento de nossas vidas. As emoções em quase nada diferem de meros medicamentos e certos sentimentos são capazes de nos dar razões para praticar o bem ou para darmos o melhor de nós às outras pessoas. Essas mesmas emoções, porém, levam-nos a cometer os maiores atos de crueldade ou a colocar nossa própria vida em risco. Humanos são certamente as criaturas mais estúpidas de toda a face da terra, uma vez que, mesmo detendo um cérebro altamente desenvolvido e sendo capazes de encontrar resoluções para problemas complexos, ainda jogam suas vidas efêmeras fora por simples impulsos causados pelas emoções.

Uma garota tola, consumida pela raiva, certa vez encontrou um artigo na internet que falava sobre um ritual capaz de invocar uma poderosa criatura sobrenatural. Ela nunca acreditou em baboseiras como essa, claro, mas se aquilo desse certo, quem sabe ela não poderia se vingar de suas colegas de classe? Afinal, quem iria julgá-la apenas por tentar dar o troco por toda a humilhação que passou durante anos apenas para satisfazer o sadismo de pessoas cruéis? Pessoas como as garotas que quebravam suas coisas e inventavam maneiras novas de humilhá-la todos os dias deveriam pagar pelos seus atos!

Talvez Alice já soubesse no momento em que decidiu fazer aquilo que estava tomando a decisão mais estúpida de toda a sua vida. Na escuridão de sua ignorância, ela havia chamado Phobos, o Djinn do medo, tornando-se assim a catalisadora de um dos seres nefastos que habitam aquilo que é chamado de "Outra Frequência": um lugar que não pode ser acessado através de métodos convencionais e que nenhum humano em sã consciência desejaria ir, já que mesmo as criaturas que vivem por lá tentam desesperadamente chegar ao lado que chamamos de "Realidade" sem terem suas existências apagadas logo em seguida. Para tanto, é necessário que um corpo sirva de canal entre eles e a Realidade. Esses corpos são chamados de catalisadores e geralmente são humanos.

Era chegada a hora. Uma moça ingênua e condenada ao sofrimento aprenderia a maior e mais cruel lição de toda a sua vida: jamais brinque com o desconhecido.


11/03/2017, Sábado, 02:40

Aquela poderia ser apenas uma fria madrugada para a maioria das pessoas, mas seria ainda mais fria para a família Guerra. Uma viatura de polícia estava em frente à casa e dois agentes situavam-se no local: um deles ainda no carro enquanto o outro informava à mãe de Henrique Guerra sobre o falecimento de seu filho.

— Não... Deve ser um engano! Com certeza é um engano! – A mãe de Alice e Henrique já lacrimejava e não mais conseguia controlar o seu tom de voz.

— Minha senhora, por favor, se acalme.

— Não, não, não! Com certeza é outro garoto! Alguém roubou os documentos do meu filho, deve ter sido isso! – A mulher caiu ao chão de joelhos e em prantos. Suas mentiras não convenciam nem a si mesma.

— Senhora, por favor, precisamos que nos acompanhe até a delegacia.

— Não... Não! Meu filho... Quem fez isso com meu filho?! Quem fez?! Meu filho! Eu quero meu filho de volta!

Até mesmo para um agente da polícia, que deveria estar acostumado com esse tipo de cena, era difícil deixar de sentir pena daquela pobre senhora em prantos. Aquela era um dor pela qual ninguém deveria passar; nem mesmo os piores pesadelos ou momentos do policial poderiam se equiparar a aquilo. Mesmo assim, ele se sentia impotente e angustiado diante daquela mulher.

***

Em seu quarto, Alice conseguia ouvir tudo que se passava na frente de sua casa. Phobos encarava sua vítima enquanto ela tremia e chorava.

A Coruja NegraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora