Elementar, Meu Caro Lanpo

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07/03/2017, Terça-feira, 16:45.

Já haviam se passado mais de duas horas e a multidão não parava de se aglomerar próxima à fita isolante. Em silêncio, Edgar observou com cuidado cada mínimo detalhe da cena, já que foi chamado para tentar descobrir o que possivelmente havia despencado do alto de um prédio de quatorze andares em construção. Ou melhor, quem teria atirado-se do alto dele.

Sendo um detetive prodígio de vinte e oito anos, Edgar era um homem que não gostava de tomar algo como verdade apenas por parecer óbvio, mas sim por existirem fatos que provam que quaisquer outras possibilidades são inválidas ou no mínimo improváveis. Naquele momento, a única coisa que poderia ser tomada como fato era de que havia o corpo de uma garota no asfalto. O estado do cadáver fez com que muitos curiosos saíssem de perto do local às pressas, com a mão na boca e o vômito preso na garganta.

— Chefe Lanpo!

Um jovem aproximou-se ao detetive entre passos e tombos, dando um novo significado à palavra desajeitado.

— Agora não, espere.

Com um olhar atento e desprovido de empatia, como se estivesse apenas assistindo a um filme qualquer, Edgar começou a caminhar ao redor do corpo da garota enquanto seus olhos moviam-se para todas as direções. O garoto apenas observou em silêncio enquanto tentava futilmente descobrir o que se passava pela cabeça do investigador.

— Sangue espalhado pelo local. Em caso de queda é normal que fique dessa forma, mas existe algo estranho aqui, um detalhe estranho...

O rapaz abriu a boca, mas ao ver que Lanpo apenas estava pensando alto, percebeu que falar qualquer coisa só iria atrapalhá-lo.

— Existe um ponto específico em que ele está espalhado de maneira irregular. Algo estava no caminho do sangue quando ele se dispersou pelo local, e espirrou em algo, algo... Alguém.

Os óculos do detetive já estavam escorregando, de modo que o ajeitou com o dedo indicador. O jovem atrapalhado ficou boquiaberto enquanto continuava a observar Edgar analisar a cena do crime.

— Alguém que não comunicou à polícia, a primeira pessoa a encontrar o corpo não tem vestígio de sangue em suas roupas, alguém que entrou em pânico? Não... Alguém que tem alguma ligação com a vítima? – Edgar murmurava sem parar enquanto mantinha seus olhos fixos ao corpo.

O garoto perguntou-se como aquele homem conseguia analisar a situação de maneira tão eficiente e fria. Para ele aquela era uma tarefa quase impossível, pois mesmo um simples olhar de relance para o cadáver causou-lhe uma iminente ânsia de vômito.

— Entre em contato com o departamento, diga para eles separarem as fotos que tiraram do local, em específico as que dão ênfase ao sangue. Eles também devem ligar para a escola na qual essa garota estudava imediatamente e devem pedir para que não comuniquem sobre o falecimento da jovem ainda e enviem os dados de todos os alunos que faltarem nesse dia e daqueles que pertencem à mesma classe que ela, com destaque aos que agirem de maneira incomum.

— E-Entendido!

O jovem começou a sair do local para acatar as ordens de Edgar, porém voltou rapidamente ao lembrar-se do motivo de estar ali.

— Ah, Chefe! Eles solicitaram sua presença em outro local.

—Já estou cuidando deste caso, enviem outro detetive.

— Chefe, o novo caso tem uma sala fechada.

Os olhos de Edgar finalmente fixaram-se no jovem. A animação contida no olhar do detetive era assustadora.

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