7. cite a faculdade

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     Meus olhos fecharam, lembrando como era sentir quando pequena a areia misturada na água salgada. Eu fechei os olhos, como eu fazia tantos anos antes.

      Enxergar somente as cores borradas me incomodava muito mais do que o escuro. Não ter a clareza, nitidez, do que estava estampado na minha cara. Quando eu tirava meu óculos era como se estivessem me tentando com algo perfeito, mas nunca permitindo que essa perfeição chegasse em mim. Então preferia não ter nem metade dela e fechava meus olhos, pelo menos quando eu estava no mar. Depois nunca mais.

     — Isso não faz o menor sentido. — Ele respondeu, suas sobrancelhas juntando e mostrando as marcas de expressão que ele tinha, mas nunca apareciam já que ele me olhava sem nenhuma emoção ao longo do rosto, só nos olhos. 

     — Por que tu tá me contando isso? — Perguntou, suas mãos se levantando e caindo contra as suas pernas, incrédulo.

     Levantando os ombros, respondi. — Por que é algo meu. E é isso que eu espero que tu fale. 

     Balançando a cabeça, Zeus levantou e deixou suas mãos caírem de novo. Parecia irritado agora, e então fez o que já sabia que uma hora faria: virou de costas e foi embora. Não da cafeteria, mas do meio daquelas prateleiras, da minha frente, deixando o ar levemente mais frio sem seu corpo tão próximo. 

     Respirando fundo, tentei não sufocar nos meus pensamentos e o segui até as crianças, mas mantive um espaço assim que cheguei lá. Me encostei no meu balcão e apreciei de novo o que era a vista de sua família, e mesmo que a companhia de Aquiles existisse, ignorei o que vê-lo trazia dentro de mim. 

    Os gêmeos tinham largado os livros em cima da mesa, mas não tiravam as suas mãos deles. A felicidade deles no momento em que eu os retirei de trás do meu balcão e entreguei-os para cada um fora contagiante. Com certeza um motivo para me distrair do que tinha sido a troca de palavras entre Rodrigo e eu depois de Zeus cruzar a cozinha. 

    Não descrevia como uma conversa, ou uma discussão. Era uma troca de palavras. Talvez troca de falas. Minha mente ainda não tinha decidido e eu criava pequenas discussões onde eu falava o termo em alto e bom som, calibrando qual que soaria mais bonito. 

    Mas qualquer um dos dois descrevia o que eu e Rodrigo tínhamos quando Zeus estava envolvido. Pois nada do que eu falava realmente entrava na sua cabeça, e tudo o que ele dizia eu não fazia questão de assimilar. Eram apenas palavras e falas, não uma conversa onde eu mesma fazia questão de compreender, ou tentar. 

     Possivelmente era o cansaço que fazia eu não brigar, mas isso também era só um achismo. Tinha noção do verdadeiro motivo, só não discutia ele comigo mesma para não torná-lo realidade. 

     Zeus balançava a cabeça para as crianças, me tirando das minhas viagens. Ele respondia alguma pergunta silenciosa, pois elas não tinham falado diretamente com ele desde que ele sentara, Aquiles sendo o que mais se expõe no grupo e chamando a atenção dos três pra ele. Na teoria. Pois ele não via como eles também tinham uma conversa interna, só eu que sim. 

     Me afastando de onde estava, resolvi me sentar na última cadeira livre na mesa que eles estavam. Era uma das únicas que possuíam cinco lugares para sentar, normalmente sendo usada por um grupo de estudos que vinha toda semana para repassar suas aulas. 

      Rodando a cadeira, sentei de lado e apoiei meus braços onde era o encosto. Com uma perna em cima da outra, notei como os olhos de Zeus foram até minhas coxas antes de voltar para o meu rosto com o mesmo olhar incomodado de anteriormente. 

     Ignorando os pelos arrepiados pelo meu corpo por não conseguir entender o efeito, me voltei para os gêmeos. Sorrindo de lado para Martina, ela fez o mesmo para mim. 

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now