Foi a vez de Andrew revirar os olhos.

— Isso é golpe baixo — retrucou — e hoje em dia, mais ninguém usa a palavra "bonitão."

— Bom, eu uso a palavra "bonitão" sempre.

— Claro que usa.

— Vai levantar ou...

— Me dê 5 minutos. Apenas tempo o suficiente para eu levantar e escovar os dentes. Ok?

Assenti, deitando-me novamente na cama e pegando o celular, esquecido sob a mesinha de cabeceira. Surpreendi-me com o horário: não passava das 09h00.

— Bom — meio que gritei, já que Andrew já encontrava-se no banheiro. A porta estava aberta, fazendo-me ouvir facilmente o barulho da água corrente na pia — ainda é relativamente cedo. Quer comer algo antes de descermos?

— Pode ser. — respondeu — O que você quiser.

***

O dia mantinha-se frio e andar pela praia em meio ao mês de Dezembro seria declarar suicídio. O dia continha um Sol que definitivamente, não estava ali para aquecer alguma coisa, por isso ficamos no quente e luxuoso hotel. Havia uma jacuzzi abandonada nos fundos do hotel, que segundo os funcionários, poderíamos usá-la sempre que quiséssemos.

Andrew insistiu apenas duas vezes, mas eu não estava com tanta vontade de ficar mergulhada em uma jacuzzi de um hotel em Dezembro. E nem mesmo roupa de banho eu tinha, por esses motivos, manter-me vestida o resto dia era uma oferta mais que tentadora.

O hotel era limitado, e percebemos tarde demais que o tour pela piscina, a jacuzzi e o restaurante era o que teríamos. Fomos à recepção, apenas para pedirmos alguma informação para saber onde ficava a loja mais próxima, até acharmos uma escondida e pequena livraria ali mesmo. Fomos até lá, mesmo que não tivéssemos pretensão alguma de comprar algum livro.

O lugar, assim como todas as livarias existentes por aí, cheirava a livros. Vários deles. E não há nada que mais me conforte do que o irreconhecível cheiro de livros. Era intorpecente.

Passei os dedos pelas lombadas dos livros perfeitamente postos nas prateleiras. Acabei encontrando um livro que eu já lera, várias e várias vezes. O Morro dos Ventos Uivantes.

Lembrei-me no mesmo instante do exemplar que tenho em casa. Roubei-o da biblioteca e no dia da entrega, simulei algumas lágrimas com a desculpa de que meu cachorro havia estraçalhado-o. Claro que Beth soube de imediato que era mentira, já que nunca tive um cachorro. De qualquer forma, Beth disse que eu poderia ficar com o livro, desde que eu parasse de dizer  mentiras, pois sou péssimas em dizê-las.

Isso aconteceu quando eu tinha apenas 12 anos. A partir daí, a biblioteca virou minha segunda casa.

Percebi o olhar de Andrew as minhas costas, já que eu ainda estava com o livro em mãos, admirando-o e imersa nas lembranças.

— Morro dos Ventos Uivantes? — indagou Andrew; sentia seu hálito quente bater contra minha pele da nuca exposta.

Assenti.

— Já leu?

— É, algumas vezes. — mesmo ainda de costas para ele, sabia que havia acabado de dar de ombros, com sua expressão que dizia "não é grande coisa."

— Mesmo? — virei o corpo nos calcanhares, trazendo o livro para perto do meu peito — qual sua parte preferida, então?

— Bem, você sabe... aquela parte.

— Não, não sei. Pode ser um pouco maisespecífico?

— Isso não importa agora. O que importa é que eu já li o livro.

Meu CarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora