23. Viagem

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É sempre um saco escolher uma roupa adequada. Eu estava sentindo-me cansada fisicamente e sem dúvida alguma, estava esgotada mentalmente e emocionalmente também, mas eu precisava encontrar-me com Andrew. E faltava pouco menos de 10 minutos para isso acontecer.

Optei por um vestido preto, com alças finas que combinavam perfeitamente com minhas botas sem salto, de cano médio da mesma cor. Soltei os cabelos e passei um pouco de perfume, o qual achei em meio a tralhas espalhadas em um armário no closet do quarto. Estava pronta.

Saí apressada do quarto, passando as mãos por meu cabelo a cada segundo, tentando em vão abaixar os fios que atreviam-se a ficar em pé. O corredor estava vazio e agradeci ao universo intimamente por isso. Não queria esbarrar em Charlie, pois ela encheria-me de perguntas, e no momento, desejava apenas descer as escadas e encontrar Andrew logo, assim poderia voltar o mais depressa possível ao quarto.

O castelo estava imerso no silêncio e no fundo estranhei, já que nem era nove da noite ainda. Olhei em volta e nem sinal de Joseph, Charlotte ou qualquer outro empregado. De qualquer forma, eu não ficaria ali para saber o motivo do sumiço, então continuei minha caminhada em direção à estufa, que já estava a 5 metros de distância.

Mergulhada nos meus pensamentos, comecei então a especular o por quê da minha ida à estufa durante a noite. E por quê eu havia arrumado-me tanto. Será que era algum tipo de encontro?

Afastei qualquer tipo de pensamento que deixaria-me nervosa ao reparar que já estava a apenas 2 metros de distância. Parei por um instante, respirei fundo e arrumei pela milésima vez meu cabelo. Respirei fundo mais uma vez, expirando pela boca e continuei a caminhar, dessa vez um pouco mais lento, como se estivesse despreocupada.

Ao chegar à entrada, com a porta de vidro transparente escancarada, eu ouvi vozes. Duas, para ser mais específica. Uma era de Andrew e outra era totalmente desconhecida por mim. Parei de imediato, pronta para ouvir um pouco da conversa.

— E o que você vai fazer? — indagou a voz desconhecida. Uma voz grossa e baixa.

— Não é da sua conta. — respondeu Andrew ríspido.

— Nós somos irmãos, lembra? — o homem desconhecido riu — de qualquer maneira, já sabia que ficaria calado.

— Como sei que não está mentindo? — indagou Andrew. Eu podia imaginá-lo cruzando os braços no exato momento.

— Eu não mentiria em relação a isso. Você sabe que a última coisa que quero, e aliás, o que todos nós queremos é que haja uma guerra entre os anjos. — o homem suspirou — estou cansado dessas guerras. E uma guerra por um motivo fútil é mais tedioso possível.

— Não é um motivo fútil. — Andrew disse entredentes.

— Sim, é. E você sabe bem disso. Esse é um assunto que envolve apenas você e o clero. O problema é que está deixando ultrapassar isso a partir do momento que trouxe a humana para viver com você aqui.

— Do que está falando? Como sabe que ela está aqui?

— É sério? Consigo sentir o cheiro dela onde estou... e sinto que ela está bem próxima.

Após isso, saí do meu esconderijo, fingindo que acabara de chegar. Tentei ao máximo assumir uma expressão confusa e perdida, apesar de estar exatamente assim no momento.

— Com licença. — eu disse, passando a mão pelo vestido, como se estivesse tirando uma sujeira imaginária — não vi que estava com mais alguém aqui. Me desculpe.

Olhei para os meus sapatos, torcendo que minha encenação passasse por despercebida.

— Ora, então é você a famosa Katherine? — indagou o homem abrindo os braços, com um sorriso carregando deboche estampando seu rosto.

Meu CarmaWhere stories live. Discover now