25. Castas

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Andrew abria uma caixa comum de suco de laranja. A cama era macia e fofa, juntamente com as almofadas postas ali. Minhas pernas estavam encolhidas sob a cama, minhas mãos escondiam-se dentro das mangas do meu moletom. A janela estava fechada e o aquecedor ligado, mas nem isso parecia que esquentaria-me.

Andrew entregou-me o copo com o suco. Agradeci baixinho em seguida. Encarei os dois cubos de gelo boiando no líquido e divaguei um instante. Talvez a presença dos pequenos cubos de gelo fosse desnecessária. O clima estava frio, realmente frio. Talvez o certo fosse ter pedido uma xícara de café quente. Faz tanto tempo que não tomo um bom café...

— Você gostou do quarto? —  Andrew questionou, atrapalhando-me os pensamentos.

Ergui os olhos para focar no rosto de Andrew. Ele ainda estava em pé, encarando-me, esperando pacientemente por minha resposta. Um copo pendia em seus dedos com um líquido conhecido: uísque.

— Sim — respondi, desconcertada — eu realmente gostei do quarto.

— Bom, escolhi esse quarto devido a vista — ele disse com um sorriso satisfatório nos lábios — e ao clima, claro. O último andar certamente é mais frio.

— Boa escolha. — murmurei levando o copo à boca, tomando finalmente meu primeiro gole do suco.

— Está tudo bem?

— Sim, está. — dei de ombros — o que pretende com isso?

— O quê?

— Você sabe. — tornei a erguer o rosto, sustentando meu olhar no dele — trazer-me para cá. Uma vista linda, um lugar desconhecido por mim, um hotel, um quarto, uma cama. Provavelmente está pretendendo algo, estou certa?

Andrew bebeu o que restava no copo — uma quantia relativamente grande — entornando o líquido em sua garganta, de uma vez só, não deixando mais nada. Ao olhar para mim novamente, passou a costa da mão em sua boca, limpando os resquícios da bebida.

— Fala como se fosse uma paranóica. — ele disse, a voz um pouco alterada — ok, estou mesmo pretendendo algo. Pretendo dissipar a tensão que nos ronda. Não percebe o quão fodido é essa situação toda? Esperei você por anos para que no fim, nos tratarmos como estranhos, sendo que eu sei que você sente uma ligação forte por mim! — largou o copo em uma mesa de centro da pequena saleta, fazendo um barulho alto demais, fazendo-me pensar por um momento que o copo havia partido-se — e sim, temos apenas um quarto e uma cama.

Ele estava agora de costas para mim. Suspirei, levantando-me e colocando o copo de suco ainda cheio sob à mesinha de cabeceira. Caminhei até o outro lado do quarto, calmamente, onde Andrew estava. Pousei minhas mãos em seus ombros, cautelosamente e vagarosamente. Senti a tensão de seus ombros dissipando-se gradativamente até não existirem mais. Sua respiração já estava controlada mais uma vez. Ficamos em silêncio por mais alguns segundos.

— Acho que eu tenho um pouco de medo de dar um passo adiante. — confessei baixinho, sentindo-me um tanto patética por ter dito dessa forma. 

— Então temos que trabalhar nisso. — disse ele, no mesmo tom — juntos.

— É — concordei, deixando descansar a minha testa em suas costas — juntos.

***

A cama agora parecia pequena demais para nós dois. Estávamos ambos deitados sob os lençóis brancos e nem um pouco quentes, os rostos voltados ao teto do quarto, encarando o lustre pequeno porém sofisticado.

Conversávamos e no cômodo inteiro, podia-se ouvir apenas minha voz e suas risadas. Contava a ele um pouco da minha vidinha monótona antes de conhecê-lo nessa vida. Ele ouvia tudo atentamente, interrompendo apenas para indagar sobre fatos os quais sentia-se confuso, já que nunca fui boa em contar histórias às outras pessoas.

Meu CarmaWhere stories live. Discover now