7. Homens das Sombras

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Tentei ler mais algumas páginas daquele livro com Logan, mas minha cabeça estava atormentada de tanta preocupação em relação à Beth. Despedi-me de Logan prometendo que voltaria no outro dia para prosseguirmos a leitura. Logan respondeu com um sorriso, prometendo que estaria ali no mesmo lugar a minha espera. Não posso deixar de falar que simplesmente suspirei com um sorriso bobo no rosto, enquanto ouvia aquelas palavras.

Saí da biblioteca depressa, com o coração em mãos.

Andei alguns quarteirões e logo, já conseguia ver a casa de Beth: uma casa geminada com uma pintura verde clara já um tanto desgastada devido ao tempo.

Aproximei-me da entrada e olhei para o canto, onde exatamente ficava o jardim de Beth, o qual a mesma amava tanto. As flores que ali estavam já não mostravam suas cores, já que estavam secas e sem vida. O ar do local estava pesado e antes de finalmente bater a porta, engoli em seco pensando duas vezes antes de prosseguir com tal ato.

Bati exatamente duas vezes. A porta se abriu após alguns segundos. Uma mulher de meia idade estava ali, com uma expressão carrancuda ocupando seu rosto. Dei um passo para trás e pensei em desistir... dizer que era apenas um engano. Mas preferi não voltar atrás.

- Bom dia. - eu disse - Sra. Carter está?

- Beth está doente. Por favor, volte outro dia.

- Amy?! - ouvi uma voz conhecida de dentro da casa - Por favor, entre!

Fitei novamente a mulher à minha frente; a mesma revirou os olhos antes que desse espaço para que eu pudesse entrar.

Assim que adentrei o local, senti o cheiro de mofo no cômodo. A sala-de-estar era espaçosa, mas um sofá de couro ocupava boa parte dali. Uma TV minúscula estava posta em uma mesa de madeira um tanto baixa, quase ao canto da sala. Ao lado do sofá, estava uma cama de casal. Deitada na mesma encontrava-se Beth, enrolada a cobertores e aninhada a vários travesseiros. Um sorriso fraco ocupava seu rosto. Beth tentou sentar-se, mas a mulher que abriu a porta para mim, logo colocava as mãos grandes nos ombros de Beth, fazendo-a deitar na cama novamente.

- Desculpe por encontrar-me assim. - disse Beth com certa dificuldade - essa virose resolveu atacar-me.

Aproximei-me e coloquei minha mão na dela. Nunca vi Beth daquele jeito. Tão... frágil. Meu coração apertou-se mais um pouco em meu peito. Respirei fundo e tentei sorrir, mas parecia tão difícil agora.

- Acredita que colocaram uma substituta em seu lugar? - tentei dizer em tom brincalhão - ela é uma chata.

O olhar de Beth parecia distante, mas a mesma sorriu, mesmo que por alguns míseros segundos.

- Acho que não tenho muito tempo - murmurou Beth.

- Você só está com uma virose, Beth.

Beth riu, mas não havia humor.

- Eu já sei de tudo, minha querida. Se estou fraca assim, é porque eles estão por perto.

Minha mão começou a transpirar e tive que afastar-me um pouco enquanto esfregava minha mão em meu casaco. Meu coração palpitava e tive a impressão que iria desmaiar ali mesmo.

- Eles quem, Beth? - ousei perguntar.

Seu olhar perdido passou a encarar o teto.

- Os homens das sombras - respondeu - talvez fosse da vontade deles que minhas memórias voltassem, mas ainda estou tão confusa.

Senti como se o ar do local tivesse sido retirado de imediato. Pousei minha mão novamente na de Beth, certificando para mim mesma que não estava presa em um sonho estranho.

- Beth, do que você está falando? - perguntei receosa.

- Meu Deus! - esbravejou ignorando totalmente minha pergunta - antes que eu me esqueça... Por favor, Amy, pegue isto. É muito importante para mim que você use-o sempre.

Beth tirou do pequeno bolso de seu pijama um cordão: a corrente era prateada e reluzia ao menor do movimento; um pequeno pingente em forma de coração vinha acompanhado e o mesmo brilhava mesmo na pouca claridade do lugar. Extremamente delicado, com certeza.

- É para proteger você - continuou Beth.

- Proteger do quê? - perguntei enquanto colocava o cordão em mim mesma cautelosamente.

- Dos homens das sombras - sussurrou - eles estão em todos os lugares. Se acharem você, nem quero imaginar do que serão capaz.

Engoli em seco.

- Beth, você realmente está me assustando.

- Apenas fique com ele, Amy! - exclamou sorrindo.

- Ele quem?

- O que já tem o seu coração. Nunca saia de perto dele. Ele é seu porto seguro, sabemos disso.

- Beth, do que está falando?

- Tudo bem, está na hora de você sair. - disse a mulher carrancuda, pegando com força em meu braço em seguida.

Não pude despedir-me de Beth, pois em poucos segundos já encontrava-me do lado de fora.

Voltei para casa com perguntas e com sensações estranhas rondando minha mente.

***

Andy veio buscar-me mais uma vez para irmos ao Inferno. Eu estava decidida a procurar uma brecha para que eu pudesse fugir dessa coisa de ser "empregada".

Sério, não sei nem ao menos lavar uma colher direito.

Perguntei a Andrew como seria o Inferno fora dos muros do castelo e ele prometeu-me que iria levar-me um dia para que eu pudesse conhecer.

Após organizar os livros da estante do escritório de Andrew, vi-me sem tarefa alguma para fazer.

- Sr. Andrew?

- Andrew. - corrigiu ele sem olhar para mim. Estava ocupado assinando papéis e mais papéis.

- Acho que terminei por aqui. Há algo mais?

Andrew finalmente olhou para mim e em seguida para a estante.

- Você foi rápida. - disse ele.

- Andrew, eu apenas organizei os livros por cores. - arqueei as sobrancelhas.

- Tudo bem, espertinha. Procure Charlotte, ela com certeza terá uma nova tarefa para você.

Bufei irritada. "Espertinha"?! Meu Deus!

Andrew levantou-se rapidamente e caminhou em direção à porta. Abriu a mesma cautelosamente e ficou ali, esperando pacientemente para que eu pudesse sair dali.

- Você não precisava abrir a porta, Andrew. Eu tenho duas mãos e elas funcionam perfeitamente. - eu disse.

Ok, eu não queria parecer grossa ou sem educação. Sério mesmo. Mas acabei por deixar que as palavras escapulissem e xinguei-me mentalmente. Queria chutar-me ou abrir um buraco no chão onde pudesse me esconder.

Andrew aproximou o rosto do meu e pude sentir até mesmo sua respiração quente e compassada batendo contra minha pele. Senti como se um pequeno cubo de gelo estivesse descendo pelas minhas costas.

- Está mesmo disposta a ser má educada comigo, Amy? - perguntou ele.

- E se caso eu estiver, o que você faria?

Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.

- Não me provoque. - sussurrou.

Senti minhas pernas ficarem bambas e, um desejo incontrolável de selar meus lábios nos dele brotou em meu peito. Afastei-me dali o mais rápido que consegui, já que não estava disposta a ficar ali e ver no que resultaria nossa aproximação.

Meu CarmaWhere stories live. Discover now