Capítulo 45

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Completavam exatos dois meses e três semanas desde a saída de Mônica com Marina, Franscisco, Kenichi e o general Thales. Há exatos dois meses, três semanas e seis dias que Magali aguardava com esperança vê-los retornar a salvo com as crianças.

A noite havia acabado de cair e a brisa fria já começava a gelar o ar, enquanto o vento soprava as nuvens formando uma densa barreira nos céus, mas isso não intimidou Magali que estava atenta na torre de vigia, durante todos os dias e todas as noites esperando que eles voltassem.

William subiu com uma mochila abastecida e a encontrou sentada em uma cadeira, como de costume durante os últimos meses, ela estava usando um moletom surrado, uma calça de moletom e tênis esportivos. Sua gravidez já era visível, a barriga protuberante já criava forma no tecido do moletom. O líder do abrigo depositou a mochila ao lado da cama improvisada do casal.
Ele se aproximou e depositou um edredom nos ombros de Magali e a envolveu com ele. Deixou uma garrafa de água e uma pequena marmita com dois sanduíches na frente dela e por fim se sentou ao seu lado para fazer companhia.

Os últimos dias foram tranquilos para o abrigo, as vacinas chegaram ao fim rapidamente, conseguiram imunizar todos os doentes, idosos e crianças.
A precaução era só se cuidar e manter-se saudável.

— Podemos enviar um grupo de busca... Na minha liderança... — sugeriu William deixando o resto no ar.

Magali fechou os olhos balançando a cabeça negativamente. Não era a primeira vez que ele sugeria isso e ela sabia que não seria a última. — Eles precisam do líder presente. — A saída de William poderia comprometer o abrigo. A busca seria longa e de tempo indeterminado, ela não iria suportar a possibilidade de mais alguém não voltar.

— Está tudo bem. Há um mês estamos em plena calmaria, nem os mortos incomodam. — insistiu William.

— Não é por isso que devemos baixar a guarda. — ela ajeitou o edredom ao sentir o vento gelado entrar pela brecha.

— Pensei que quisesse suas irmãs de volta...

— É claro que eu quero! — Magali olhou para William, ele a encarava tentando entender e ela baixou a cabeça e apertou o edredom com força — É o que eu mais quero.

— E então?

— Não temos a mínima ideia de onde eles estão. — ela voltou a olhar para a estrada — O meu pai, você sabe como ele é. Se ver um grupo saindo vai querer saber pra que e vai querer ir junto...

— Seu pai só quer ajudar... Ele está preocupado com você, com suas irmãs. Tem medo que você resolva sair a noite sozinha em busca delas... — Magali se virou e olhou para o marido que continuou — Ele quer ajudar. Quer procurar pelas filhas e traze-las de volta para casa.

— Conversou com ele?

— Ele me procura. — William deu de ombros  — Exige que eu tome providências. Quer formar equipes de buscas e espalha-las pelos estados...

Magali riu — É loucura.

William concordou sorrindo. — É. Loucura de um pai. Querendo proteger a família. — ele acariciou o rosto de Magali vagarosamente sentindo a pele quente com as pontas dos seus dedos — Tenho medo que faça alguma bobagem. Quero tomar providências antes que um de vocês dois se precipite. Seu pai já se recuperou, não vai ficar parado por muito mais tempo.

— Ele tá velho. — disse Magali olhando para as mãos, seus olhos fixaram a aliança que William lhe deu meses depois de oficializarem o compromisso, a lembrança da reação do seu velho era nítida até hoje em sua mente. Seu Alberto deu uma dura em William, o interrogando como se fossem um casal de adolescentes...
Ela sorriu brincando com a aliança no dedo, ao ter a lembrança, ainda estava lidando com o fato do envelhecimento dos pais. E não gostava nenhum pouco disso.
Parecia que ontem eles a colocavam para dormir e hoje pareciam tão frágeis, tão velhos, tão indefesos. — O que ele pensa em fazer? Ir até Brasília e exigir sabe onde eles foram depois de rouba-los?

Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde as histórias ganham vida. Descobre agora