Capítulo 37

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AVISO:

Vistam os coletes porque lá vem tiros.
E serão de metralhadora!

Preparem os lenços, lá vem sofrencia.

***

Quando Teodoro despertou, foi lentamente. Bocejou preguiçosamente
Como se tivesse acordado de uma noite longa de sono.

Sentia uma sede e fome animalescas. Maiores do que quando andava pelas ruas com seu irmão para procurar comida e água limpa, há meses.

Seu irmão!
Seu pai!
Seus amigos!

O garoto se levantou abruptamente e sentiu uma pontada na região da clavícula. A dor o fez parar imediatamente recuando de volta ao encosto confortável onde um travesseiro o acomodava.
Quando sua cabeça se acomodou no travesseiro macio e seus olhos se fecharam de alívio pela dor da pontada recuar, veio então a enxurrada de lembranças de uma vez só o afogando, impiedosamente.

Téo lembrou de muito sangue, sangue umedecendo suas roupas, sangue entrando na sua boca. Muito sangue e todo aquele sangue era seu!
E em seguida veio uma dor imensa e avassaladora, a sensação de queimação que a bala causou ao se alojar dentro dele. Ao atravessar a pele, tecido, e cartilagem.
E então ouviu um choro.
Jacqueline estava chorando. Samuel tentava estancar o sangue, desesperadamente. Samuel também chorava o fitando e pedia para que Téo não os deixasse. Que mantivesse os olhos abertos. Que ficasse com eles.

Tiago falava algo, mas Téo não conseguia entender. Não era capaz de identificar as palavras que pareciam consoladoras. Não conseguia ouvir mais nada, só a sua respiração ficando mais fraca e mais lenta.

Tudo a sua volta estava turvo, sua visão estava perdendo o foco.
Sua boca estava secando.
Téo pensou estar morrendo.

Ele novamente se levantou bruscamente ficando sentado com os olhos arregalados e a respiração acelerada. Como se tivesse acordado de um pesadelo.
Seu coração batia forte, graças a grande passagem de lembrança que teve nos últimos minutos.

O garoto tentou se acalmar, aquela retrospectiva infelizmente era muito real.

Ele havia levado um tiro e agora estava ali... Em uma cama de hospital.

Téo franziu o cenho.

Aquilo era estranho.
Olhou o quarto novamente.
Era pequeno e simples, tinha duas portas, uma de frente para cama há poucos metros e outra a esquerda que deveria ser um banheiro.

Havia uma série de aparelhos que não lhe eram estranho, havia um nebulizador, uma bolsa com soro, que estava ligada a seu pulso. Um negócio como um tubo fino, que já vira em filmes e servia para alimentar do paciente em coma.

Coma!

Essa foi a palavra chave que ativou o resto da sua memória. Ou pelo menos algumas partes dela.

Existia um pedaço de memória solto, de como chegou a esse quarto.
Mas foi tão dopado que mal conseguia se lembrar direto. Sua mente trabalhava, mas seus organismos ainda estava sob o efeito dos remédios
Mas de uma coisa tinha absoluta certeza, essa não era a primeira vez que acordava.

O garoto tinha a sensação de estar em um tipo de deja-vu eterno.

Uma vez lembrou de ouvir a Ísis falando sobre coma induzido.
O médico discutia com ela, algo sobre risco. Sobre o paciente entrar em coma vegetativo por overdose ou algo assim.

Teodoro tentou se levantar da cama, mas foi de encontro direto ao chão. Suas pernas vacilaram e não suportaram o seu peso.

Teodoro ficou um tempo no chão e observou em volta novamente, ainda desnorteado e zonzo pelos movimentos rápidos demais para seu cérebro assimilar.
Ainda estava lento, e se sentia esgotado pelo simples movimento de se levantar da cama.
Com certeza era o efeito de alguma droga.

Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde as histórias ganham vida. Descobre agora