Quando as folhas caem

Capítulo XXXV

Cinco anos se passaram desde aquele fatídico dia. Hoje sentada aqui próxima a árvore onde começou minha estória de amor, observando meu avô brincar com John e Anna, percebo o quão boa minha vida tem sido até aqui. Reflito sobre a importância de cada pessoa que passa em nossas vidas e escrevo em meu diário comparando-as á folhas de árvores. Quando as folhas caem temos a opção de observar a árvore feia e sem graça ou seguir em frente e colher as flores do caminho, aproveitando seu perfume e sua beleza.

Quando cheguei a Vesper algumas folhas de minha árvore haviam caído. Não digo que não doeu, senti e sinto até hoje a falta de meus pais, mas, convivo com a doce lembrança (as flores), as experiências que tivemos juntos e pude guardar deles.

Vieram folhas novas, que encheram meu coração de amor. Que trouxeram mais luz a minha vida.

Tia Mary meu anjo, que hoje vive feliz com seu amado Claus e seus três lindos filhos.

Tia Maggie minha fada madrinha, mudou-se para fazenda para me ajudar, depois de todo o ocorrido.

Meu avô meu protetor e amigo! Adoro tocar com ele!

Henry, Rebecca, Sophia e tantos outros.

E...  principalmente John! Meu amor eterno! Foi assim desde que o vi. Seus olhos, seu sorriso torto, sua implicância...

Quanta saudade me deixou! - Uma lágrima rolou do rosto de Aurora neste momento, manchando algumas palavras escritas na folha.

Foi meu companheiro naquele doce ano que pudemos desfrutar juntos. Quando essa folha caiu, achei que não iria suportar. A dor foi imensa!Os dias que sucederam a sua partida foram os mais vazios e doloridos de minha vida. 

Dividir a vida com alguém, não é fácil, mas, é fascinante. Quando nos tornamos carne da mesma carne, nos ligamos para eternidade.

Talvez achamos que a vida nos prega peças , pois algumas pessoas partem tão prematuramente de nossas vidas. Mas há um tempo determinado para todos virmos e irmos.

Umas vêm para nos ensinar! Outras para aprender conosco! E outras ainda vem para nos ajudar a juntar os cacos.

Mas, realmente o que importa é o que ficou de cada uma delas dentro de nós.

Cada experiência pode nos tornar melhores ou um pouco piores, depende de como quero olhar para a árvore.

Talvez pareça bobagem o que vou dizer, mas viveria tudo outra vez, mesmo tendo que perdê-lo em tão pouco tempo.

Cada toque, cada sorriso, cada olhar compartilhado, fizeram meu coração transbordar de alegria. O simples fato de ele estar por perto, já era o suficiente para me fazer muito feliz. Seu perfume que aguçava meus sentidos, seu olhar apaixonado  que fazia meu coração disparar e todas as vezes que ele falava ao pé de meu ouvido fazendo meu corpo se incendiar... -Aurora suspirou longamente com as lembranças.

Um dia todas as folhas de minha árvore vão cair! Outras virão novas, cheias de vida, me encherão de alegria! Talvez de dor! Mas como disse, o que vai valer no final é o que vou levar no meu coração. - Aurora parou de escrever e pegou a pena da coruja que John havia roubado dela. Estava por entre as páginas do diário. Neste momento levantou a cabeça e fechou os olhos, pois sentiu uma brisa leve em seu rosto. Um cheiro familiar que sempre fez seu peito acelerar, foi sentido no ar. Ficou ali por um tempo imóvel! Não pode ver, mas pode sentir o momento que John acariciou seu rosto com as costas de sua mão, lhe deu um beijo na face e se foi.

Mais uma lágrima rolou de seu rosto! 

Mas, um sorriso largo brotou de seus lábios, levou a mão ao rosto como se pudesse sentir o toque outra vez.

Abriu os olhos e viu a alegria de seus filhos com o avô. Levantou-se imediatamente e foi em direção a eles fazendo a brincadeira de pega - pega que eles tanto adoravam.

Quando as folhas caem , a vida continua, devemos seguir em frente e sermos felizes! Pois a morte não pode separar os corações que se amam. O amor é eterno! Até hoje suas palavras ecoam em minha mente "todos os dias de minha vida". Mas eu acredito em mais, para toda a eternidade.

Em cima do diário fechado no chão, uma tulipa azul exalava docemente seu perfume!