Capítulo IV

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O que será que estava acontecendo?

Desci as escadas sem fazer barulho, fui guiada pelos gritos furiosos que me levaram até a biblioteca,mas não tive coragem de entrar. Fiquei no corredor ouvindo, não queria ser xereta, por outro lado estava com medo por minha tia. O homem parecia muito irritado.

- Como você foi capaz de tomar essa decisão sem meu consentimento?- gritava aquela voz- Você não podia ter feito isso, passou por cima de minha autoridade.

- Ela não tinha mais ninguém... – era a voz de minha tia, que tentava manter a calma.

-Com certeza algum parente daquele ordinário a acolheria!!! –gritava a voz mais ainda exasperada .

-Pai,ela não tinha mais ninguém, os pais dele morreram há alguns anos atrás.

Era meu avô!Fiquei em pânico por um momento, sabia que mais cedo ou mais tarde iria conhecê-lo, e no meu íntimo estava ansiosa por isso, mesmo correndo o risco de não ser aceita. Ouvir ele falando de meu pai assim era como se estivesse tomando uma facada em meu peito.

-Ela não pode ficar aqui, amanhã você vai dar um jeito nisso, ela vai ter que ir embora.

Dava pra sentir o ódio em suas palavras.

- Se ela for embora eu vou também!

Ouve um silêncio ensurdecedor naquele momento.

Não esperei o resultado daquela conversa, subi para meu quarto e fiquei lá aguardando qual seria meu destino.

Não ouvi mais gritos. O silêncio era tão grande que conseguia ouvir meus pensamentos. Minha mãe sempre falou de seu pai, apesar da briga, com amor.Contava como se divertiam juntos, mesmo depois da morte de sua mãe. Ele adorava passear com elas em todos os lugares, pescavam juntos, faziam piqueniques, cuidavam do jardim... Ele gostava muito de andar pela propriedade com elas, ela contava que eles passeavam no trigal a cavalo no final da tarde só pra ver a beleza do sol se pondo. Todos os domingos pela manhã iam à igreja e assistiam as reuniões em família. Era um homem muito feliz e alegre. Não me pareceu o mesmo homem da biblioteca. O que será que aconteceu que o modificou tanto assim?

O silêncio absoluto foi quebrado quando July bateu na porta e entrou trazendo meu jantar.

- Vim trazer seu jantar, Clara pediu que você permanecesse aqui, até tudo se acalmar - disse ela tensa.

- Como estão as coisas lá embaixo?

- Mais nenhum grito, estão conversando mais calmamente.

- Ainda estão na biblioteca?

- Sim!

- Estou com medo!Não quero que minha tia se complique por minha causa, não quero que ela se afaste do pai como minha mãe.

- Fique calma senhorita, sua tia é uma mulher sábia e conhece bem o pai que tem, ela não vai tomar nenhuma decisão que prejudique a ela e muito menos a você. Bom, vou descer, pois podem precisar de mim lá em baixo. –disse ela saindo e fechando a porta.

Não tive vontade de comer, a comida estava com uma ótima aparência, mas meu estomago revirava só de pensar em experimentar.

Fiquei sentada no banco da janela apreciando a noite, o céu estava coberto de estrelas e a lua cheia brilhava só pra mim naquele momento e iluminava todo o jardim abaixo de minha janela. Mas, meu coração estava aflito, o que faria de minha vida e para onde iria eu?Estava com muito medo, não podia deixar que minha tia abandonasse o pai dela por minha causa, mas à quem iria recorrer, não conhecia ninguém. Meus olhos estavam embaçados de lágrimas, quando olhei pela janela, eu vi uma menina, de cabelos pretos e com um vestido branco, caminhando no jardim de modo que toda a luminosidade da lua se destacava nela, ela estava olhando pra mim e acenou, depois pegou uma tulipa azul cheirou e estendeu no ar em minha direção em um gesto de oferecimento. Aproximei-me mais da janela, para vê-la melhor, ela sorriu e saiu correndo, deixando a tulipa cair e sumiu. Quem era aquela menina? E o que ela fazia ali só?

Os sentimentos ruins que dominavam meu coração se esvaíram como água escorrendo entre os dedos. Naquele momento veio em meu peito o sentimento de que tudo daria certo e que eu não estava sozinha.

Dei um pulo do banquinho quando a porta se abriu. Minha tia entrou no quarto com um cansaço bem nítido estampado no rosto. Com certeza a conversa não foi o que ela esperava e que ela teve que matar alguns leões essa noite. Se acomodou na beirada da minha cama e me chamou para que sentasse ao seu lado, dando duas batidinhas com sua mão sobre o colchão.

-Vamos ter que ir embora... – Disse ela sem rodeios.


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Quando as folhas caemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora