Capítulo XI

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O dia da colheita chegou!!

Era a primeira vez que via e participava! Minha mãe sempre contava como era divertida essa época, estou muito animada!

Quando saí para o quintal depois de um reforçado desjejum, o sol ainda não tinha acordado totalmente, meu avô já estava organizando os coletores. Ele parecia muito animado!

Minha tia também já estava do lado de fora organizando as mulheres para que tudo funcionasse com perfeição. Pediu que eu ajudasse a preparar as refeições que todos comeriam durante o dia.

Éramos muitas mulheres, trabalhando na preparação do alimento. Todas as esposas e filhas dos colonos estavam ali para ajudar.

Dentro da fazenda havia várias casas de colonos que cuidavam do cultivo do trigo, mas na época da colheita eram necessários muitos mais braços, pois, quando o trigo está pronto para colheita, suas extremidades começava a ficar brancas, o caule se quebrava facilmente e tornava-se muito frágil e se não colhesse logo o vento derrubava as cabeças onde estão os grãos do trigo.

Cozinharíamos em um grande galpão atrás do celeiro que ficava a uns 50 metros da casa. Ali geralmente os colonos se reuniam para fazer alguma atividade, alguma comemoração.

Fizemos muita comida, pães, bolos, muita carne de porco assada nos roletes no chão, panelas imensas de arroz e muito legume cozido. A comida não era variada mas tinha que ser farta, pois eles trabalhariam enquanto tivesse sol. Todas trabalhávamos duro pala alimentar tanta gente.

O sol estava escaldante então era necessária muita aguá para todos. Por isso nos revezávamos de tirar água da cisterna e encher as botijas. Enquanto alguns jovens rapazes levam até o campo servindo a quem estava na coleta.

No fim da tarde eu tive um tempo e resolvi ir até a estrada, queria muito vê-los trabalhando. Como o terreno onde o trigo foi plantado era inclinado, dava perfeitamente para ver do local de onde estava.

Os coletores estavam dispostos de modo que formavam um cordão humano, e caminhavam assim; um próximo ao outro para que não ficasse nada para traz. Usavam uma foice de sega para cortar o trigo um pouco acima do solo. O trigo era amarrado em pequenos feixes, depois amontoados nas eiras.

Outros recolhiam os feixes e colocavam nas carroças,então levavam o trigo para o moinho.

Estavam protegidos homens e mulheres com roupas grossas e de mangas compridas, chapéus com lenços tampavam sua cabeça e pescoço, do sol e dos talinhos do trigo.

O trabalho era árduo, e para fazê-lo mais prazeroso entoavam canções que há gerações eram passadas entre eles.

Cada verso de suas canções perpetuavam a beleza de suas tradições.

O amor à terra que tudo faz brotar e crescer.

O respeito à natureza e seu ciclo natural.

A gratidão ao Senhor pelo alimento farto.

A celebração a vida.

Suas canções lembravam que o trigo era fonte de vida desde que o mundo existe.

Tudo muito simples, mas, maravilhoso.

O trigo brilhando refletindo o sol parecia ouro.

A cena era de tirar o fôlego.

Olhar os campos dourados de trigo balançando com o vento e os coletores trabalhando, parecia uma dança, tudo parecia sincronizado, todo o trabalho fluía como em um balé, no mais maravilhoso palco que poderia existir.

Fiquei deliciada sentindo o calorzinho do sol no fim do dia em minha pele, o vento soprando devagar e vendo esse espetáculo, que era a comunhão homem e natureza.

Comecei a caminhar entre o trigo bem devagar, alisando seus pendões com as pontas dos dedos.

Cada passo que dava aumentava o desejo de não ter que sair dali, não ter que ir embora.

Gostava de morar em Liver, mas sempre senti que meu lugar não era ali.

Um sentimento de que havia encontrado meu lugar se instalou em meu peito.

Um sentimento de paz e conforto.

Tudo ali parecia mágico, parecia em ordem.

Saber que teria que ir embora me causou uma dor imensa.

A tristeza por um momento tomou conta de mim e uma lágrima rolou por meu rosto.

Não queria ir embora! Não quero que tia Mary saia dali.

Não quero que ela fique longe de seu pai, também não quero ficar longe dele, queria conquistá-lo e cuidar dele.

Não quero ficar longe de John... Assustei-me com este pensamento!John era um estranho, além de tudo me irritava. Mas, seus olhos, seu sorriso, o calor de sua mão, não saiam de minha mente. Como ele conseguia atenção de meus pensamentos mesmo não estando presente. Por alguns segundos fechei os olhos e senti seu perfume, senti sua mão quente na minha, aquele famoso arrepio na nuca estava ali, meu estomago gelou. Abri meus olhos e o que vi foi somente trigo. Um pouco decepcionada sentei-me em um gramado próximo.

E fiquei ali admirando tudo, até o final, até todos começarem a recolher suas ferramentas e partirem em procissão para o descanso merecido.

Seria uma semana laboriosa!

Quando as folhas caemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora