as ligações vem a tona

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Num instante de devaneio a doutora lembra do seu passado, um frio amedrontador percorre sua espinha.
O sorriso de seu marido, as flores toda sexta, os jantares surpresa, tudo perfeito, um casamento de filme ela diria.
Lembra da gravidez difícil, do sorriso que ela tanto admirava se apagando, quando perdeu seu filho na mesa de operação tudo parecia caminhar para ruína total.
Ele nunca sorriria assim outra vez...
Lembra também que ele agora passava tempo demais na casa da floresta, que a tempos nem se olhavam nos olhos, se beijavam, mas o toque era vazio.
Lembra da polícia invadindo sua casa, de seu marido atirando e sendo morto, culpado pelas mortes de 20 gravidas nos últimos 6 meses, o buraco em sua alma estava completo, no fundo, ela se culpa, pois não tentou intender a dor dele, ao contrário se fechou e permitiu que a alma de seu marido morresse, culpa pelas mortes de tantas pessoas que tinham uma vida pela frente.
Só ela poderia ter parado ele, ter amado ele no momento que mais precisou...

Ela desperta de seu devaneio e sente sua alma chorar, haviam se passado 10 anos e tudo ainda era tao doloroso, arrumou aquele emprego para se redimir, no entanto, ainda sentia culpa, e agora se sentia também inútil, sem poder perseguir o assassino, tao inútil como no passado...
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Na Delegacia
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(Delegado) - detetive, pode deixar, eu mesmo vou interrogar meu filho...
(Detetive) - O senhor sabe que pelo regulamento não pode...
(Delegado) -Eu quero que se dane as regras, eu dou a vida por esse trabalho, e se eu digo que vou interrogar meu filho, eu vou, e caso você tenha algo contra pode me entregar seu distintivo e sumir da minha frente...
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O Delegado entra na sala e senta na cadeira, seu filho ali, algemado, seus olhos estão mortos, como se ele não ligasse para tudo que esta acontecendo.
Ele tenta segurar sua mão num ato de compaixão, no entanto, seu filho se retrai e agora com olhos de ódio esbraveja,
(Daniel)-não toca em mim porra, pelo menos ainda se lembra que tem um filho? Eu quase não vejo sua cara em casa, sabe que dia foi ontem?  10 anos que ela morreu, e você não foi nem levar flores, seu trabalho sempre valeu mais que a porra da sua família...

  O delegado sente a garganta apertar, seus olhos agora não podem encarar os do seu filho, ele estava certo, toda essa situação era sua culpa, ele não era presente, ele não podia nem dizer o que o filho gostava de fazer, por que não sabia, e como poderia esquecer sua mulher, jamais se perdoaria, hoje era aniversario dela, um dia tao feliz e tao triste, se lembra de 10 anos atrás quando saiu com Daniel para comprar um bolo, e da dor de chegar em casa e ver sua mulher gravida morta, seu rosto ainda corado, sujo de sangue e com expressão de medo, de como foi difícil pro seu filho superar tudo isso, talvez esse trauma tenha feito ele se tornar um monstro, NÃO, impossível que seu amado filho pudesse matar alguém...

(Delegado) - não acredito que você esta sentado aí, por que não me diz o que aconteceu lá? Não posso acreditar que você...

(Daniel) matou uma moça indefesa? Se tornou um maníaco?
Claro, seu filho querido, com toda sua maravilhosa criação, isso é impossível...
Mas para sua sorte eu não matei ninguém, vocês pegaram o cara errado, pensar que se paga imposto para isso...

(Delegado) -isso não é brincadeira Daniel, tem vidas perdidas, a doutora... e'ela nunca mais vai enxergar de novo, se você não fez isso então quem fez? A faca foi encontrada com você, a testemunha viu você falando com a garota, e logo em seguida ela perde os olhos, não te parece uma brincadeira sádica, um castigo?
Se você tiver o mínimo de oportunidade precisaremos lutar contra promotores raivosos e chefes que já estão muito felizes em arrumar qualquer trouxa para ser o culpado disso.

(Daniel) - pai, eu não matei aquela mulher, e como assim a doutora não vai enxergar? Eu lembro que ela estava bem, desacordada, no entanto, viva, a pancada na cabeça foi tao forte?

No mesmo instante entram pela porta o chefe de polícia e dois detetives da agência de inteligência contra crimes graves...
Eles levam Daniel sobre custódia, e o chefe de polícia suspende o delegado ate que tudo se resolva, ele não acredita no que esta acontecendo, acredita na inocência de seu filho, no entanto, fora da investigação será difícil provar isso, e não pode aceitar que o assassino fique a solta, matando livremente pessoas da sua cidade.
Enquanto isso do outro lado da cidade julian caminha pelas ruas a procura de uma nova vítima, agora as vozes eram sua companhia, ele não queria se livrar delas, gostava delas, sentia poder tudo, talvez um deus seja assim pensou ele, tentou entender como chegou, ate ali, lembrou de seu pai bêbado, que sempre espancava ele por que a mãe saia toda noite para se prostituir, ele odiava os dois, a menção de seus nomes causava ânsia de vomito.
Lembrou de quando chegou em casa e viu o pai caído, seus miolos espalhados no chão, a arma, tudo ainda era tao recente, embora tenham passado anos, lembra de não chorar, nem esboçar nenhuma reação, ele apenas olhou a tv. e viu a reportagem, um homem havia sido morto pela polícia.
Estavam o tratando como o maior serial killer do século... por dentro imaginou que aquela gloria era tao convidativa, morrer e ainda assim não ser esquecido, ele queria ser assim, morrer assim, daquele dia em diante ele mudou.
Quando sua mãe chegou em casa ele a matou, queimou seu corpo e a casa, fugiu dali, tao novo e já obstinado ao mal...
Ele sai forçado de seu sonho, quando esbarra em uma garota e ambos caem, ela se desculpa, levanta e corre, parece atrasada para algo, ele fita a moça ate ver ela desaparecer na entrada de uma casa antiga, duas sombras na porta, devem ser seus pais, ele segue caminho, agora sem pensar em nada, vira a esquina e se depara com dois jovens num carro transando, então quase instantaneamente surgem as vozes, GAROTA IMPURA, SE ENTREGANDO DE BANDEJA, ASSIM COMO ELA COSTUMAVA FAZER, SUA ANTIGA MÃE, VADIA, ELA PRECISA MORRER, ELA MERECE ISSO, ELE PRECISA LIMPAR SUA ALMA.
Parado na esquina ele vê quando a garota sai do carro minutos depois e entra na casa a frente, o carro arranca, e no segundo andar uma luz se acende, aquele deve ser o quarto dela, como confirmação ele a vê pela janela, seminua, com fones no ouvido, então começa a se aproximar da casa...

Mentes Que MatamWhere stories live. Discover now