CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

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Daniel Rincón não é do tipo que faz planos. Ele está mais para o tipo que age, e assiste o desenrolar da história, acompanhando o que lhe for proposto. Mas, vez ou outra, Daniel é forçado a rabiscar um plano.

Outro traço da personalidade de Daniel: ele não gosta de atrasos. Não entende a mania de pessoas que sabem estar atrasadas, e mesmo assim não fazem nada a respeito.

Daniel está atrasado.

Mas ele fez algo a respeito.

Pelo menos ele tentou fazer algo a respeito.

É terrível não ter controle sobre algo que parece tão simples e está ali, bem à sua frente, mas, às vezes, bem... ele não tinha controle. Não podia fazer o Universo girar totalmente a seu favor – queria, mas não podia. Seria injusto com quem quer que o Universo estivesse ajudando naquele momento, então Daniel só sentou e esperou. De braços cruzados e pés batendo impacientes no chão. Ele coçou a testa, passou os dedos nos cabelos, estalou os dedos. Checou as horas. 01h21s.

Estava atrasado. Só o pensamento o deixava nervoso.

E podia jurar conseguir ouvir o som dos ponteiros dos segundos batendo, um a um, o atormentando. Seria fácil dizer que estava enlouquecendo, mas quem não enlouqueceria? Tinha planejado os próximos três dias, e agora estava mais para dois dias.

Como se o Universo tivesse finalmente decidido ajuda-lo, avançar o próximo da fila e ouvir a história de Daniel, ele ouviu um número ser chamado. O que tanto tinha esperado pelas últimas três horas.

Daniel saltou da cadeira e correu.

Correu como se já tivesse correndo para os braços dela.

Mas ainda teria que esperar longas duas horas para isso.

Estava quase implorando ao relógio para não o atormentar com os tic-tacs dos segundos até que chegasse ao seu destino. Seria a pior das torturas.

∂∂∂

Às duas da manhã, Becca ainda estava de olhos bem abertos, deitada na cama. Tinham todos ido embora depois da festa surpresa, sendo Nicolas o último a sair, insistindo, até o último minuto que deveria ficar e fazer companhia a irmã, mas Rebecca não aceitou. Queria ficar sozinha. Não sabia porquê, mas sentiu que, depois de estar com toda aquela gente – que ela adorou ver/rever – sentiu mesmo que deveria ficar sozinha com seus pensamentos.

Na verdade, ela sabia o porquê.

Becca tinha esse ritual, algo que ninguém sabia – era só dela, e era bobo demais para sair contando aos quatro ventos. Além de toda essa ideia de "resoluções" para um próximo ano, Rebecca gostava também de olhar para trás e relembrar tudo o que o ano passado havia levado para ela. Isso acontecia no ano novo e também no seu aniversário. E nos aniversários de namoro, e aniversários de inauguração da loja on-line – contava agora com quatro anos oficiais – e, enfim, Rebecca gostava de começar novos ciclos; gostava da ideia de renovação.

Quando era mais nova, fazia álbuns com colagens de fotos, textos, figurinhas, e tudo o que a tinha marcado no período de um ano, e também guardava objetos em caixas. Tudo para relembrar no dia do seu próximo aniversário. Foi um ritual até os dezoito anos: abrir a caixa de lembranças, jogar tudo em cima da cama e repassar um a um. Giovanna participava dessas manhãs nostálgicas, e na maior parte do dia zombava Rebecca pelo hábito, mas no final, sempre gargalhava ou chorava junto.

Essa fase passou, e agora Becca guarda tudo apenas na memória.

Muito aconteceu no ano que se passou.

O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora