CAPÍTULO VINTE E QUATRO

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Daniel se apaixonou por Rebecca com um beijo.

Com o sonho de um beijo.

Depois daquele sonho, depois de seu subconsciente lhe jogar nessa contramão perigosa, ele sabia que não tinha mais volta. Não era do tipo que se enganava com questões do coração, e tendia a não menosprezar tais sentimentos, também. Portanto, quando soube que estava apaixonado por Rebecca, e não tinha como dar às costas a um sentimento como esse, ele aceitou.

Acordou todos os dias e soube que ainda continuava com o coração infectado pelo amor que tinha por ela. Pensou, por todas as horas do dia, em como adorava tê-la por perto e, mesmo sem poder compartilhar o que estava acontecendo por dentro, se sentia feliz em poder aproveitar estar ao lado dela. E fazê-la sorrir, e fazê-la esquecer qualquer problema afora o mundo particular que parecia ter sido criado para os dois.

Mas, agora, ali estava ele. Não menosprezando qualquer sentimento, nem se esquecendo do que acontecera doze horas atrás – não iria esquecer tão cedo –, mas, quase como em uma trapaça da vida, ele sentia que estava fugindo. Não sabia se essa era a melhor opção, mas não era como se pudesse jogar tudo para o alto e ficar ao lado de Rebecca quando ela, claramente, precisava resolver problemas pessoais, e sozinha.

Agora ele sabia como era se sentir apaixonado e, ao mesmo tempo, sentir o coração dilacerar. Sentimentos contraditórios para ele, que sempre pensou que estar apaixonado era sinônimo de felicidade e bem-estar. Pfff. Estava se sentindo idiota por ter um dia pensado assim. E tivera se sentindo assim no dia anterior. Até que um único evento foi capaz de girar sua cabeça de pernas para o ar – assim como o coração, e o estômago. Estava completamente de pernas para o ar.

Daniel despachou a bagagem e seguiu para o portão de embarque cedo demais. Na primeira chamada para o voo, ele já estava a caminho do avião. Tinha duas horas pela frente para pensar sobre Rebecca e sobre o que tudo o que tinha acontecido nos últimos dias queria dizer. Tinha duas horas agora, e mais três meses pela frente. Daniel sentou-se na poltrona apertada ao lado da janela da aeronave e deixou os pensamentos livres para pousarem onde se sentissem mais confortáveis.

Não foi surpresa alguma que a primeira coisa que ele viu ao fechar os olhos e suspirar, foi o sorriso de Rebecca.

O sorriso dela tinha o incrível poder de fazer Daniel sentir como se a vida fosse simples, e tudo o que ele precisava para estar bem era vê-la com o sorriso estampado nos lábios – e nos olhos. Rebecca era uma dessas pessoas que sorriam com o rosto inteiro, quando estava realmente feliz, e Daniel gostava de ser o motivo de toda essa beleza estampada no rosto da vizinha.

Ele relaxou o corpo e acompanhou o andar da aeronave enquanto se distanciava do aeroporto, se desgrudando do chão e alçando altura. Já havia viajado antes, mas sempre acompanhado, e nunca deixando algo importante de lado.

Ele queria realmente saber como tudo isso foi acontecer.

Conhecera Rebecca num sábado conturbado, quando tinha recém se mudado para a casa ao lado da sua, e mesmo passado duas semanas, não a tinha visto por ali ainda. Não sentiu nada diferente ao vê-la pela primeira vez, ou ao trocar algumas palavras teimosas com Rebecca, ali dentro da sua cozinha. O coração não tinha palpitado como é ensinado que faz ao reconhecer alguém especial. O coração de Daniel tinha se mantido batendo no ritmo normal, nada além do normal. Por algum tempo, todo seu corpo reagiu com naturalidade ao lidar com Rebecca. Nenhum sinal de que ali poderia estar escondido algum sentimento além da amizade.

E Daniel foi pego de surpresa ao acordar daquele sonho com Rebecca porque, enquanto estava muito ocupado não reparando nos sinais que o corpo insistia em manter em sigilo, ele não prestou atenção nos sinais que seu subconsciente passava, dia após dia.

Estava constantemente pensando em Rebecca, querendo tê-la por perto – mas ignorou essa necessidade, se convencendo de que não passava de uma banalidade qualquer. Querer interagir com alguém não quer dizer estar apaixonado, ele pensava. Ignorou o fato de estar sempre se sentindo melhor na presença dela, como se isso acontecesse com qualquer pessoa. Daniel não responsabilizou Rebecca por seu bem-estar emocional durante o tempo em que ainda estava superando o término do relacionamento com Eliana, e por isso acordou extasiado com a sensação de que tinha perdido o contato com a central do seu cérebro. Por que diabos não estava sabendo daquelas informações há muito tempo?

Porque não parou para olhar de perto. Banalizou as pequenas coisas que determinava o sentimento que nutria por Rebecca, e acabou perdendo tempo.

Mas tinha essa convicção – ensinada pela sua mãe – que as coisas sempre acontecem quando é preciso acontecer, no exato momento certo. Sabia que podia ser apenas uma desculpa para quando as coisas não dão certo, culpar o momento, mas podia também ser uma verdade.

Era difícil de engolir, algumas vezes – como aquela mesmo. Como podia acreditar que o momento certo para finalmente beijar a garota por quem estava apaixonado, era um dia antes de uma grande e consideravelmente longa viagem? Como podia acreditar que tudo aquilo tinha que acontecer às pressas, como se fosse errado?

Ele não sabia como, mas ainda assim acreditava.

Se segurava nesses pensamentos como uma forma de não enlouquecer.

Já tinha aderido a essa modalidade várias vezes – como quando Eliana decidiu pôr um fim ao relacionamento de quase uma década. Não havia momento certo para destruir um casamento, ele havia pensado na época, mesmo com aquela convicção o dizendo que sim, era o momento certo. Ele não acreditava, mas esperou e seguiu em frente.

Aí descobriu Rebecca, dois meses depois, e Daniel percebeu que sim, tinha sido o momento certo para separar o casamento.

Ele estava esperando a hora em que descobriria o porquê de o momento certo com Rebecca ter acontecido com tanta turbulência. Era o que o estava mantendo sua sanidade durante o voo, e o que esperava conter a loucura durante toda a viagem.

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O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora