Isso não ia acontecer, não era uma guerra que eu estava pronto para ter.

     Passando a mão no cabelo, desfiz o coque que ele estava preso e amarrei de qualquer jeito de novo. Me sentia agitado, mas eu tinha confiança. Eu era "Zeus" nos olhos daqueles idiotas, eu era "Zeus" nos olhos dos meus oponentes. Eles sabiam que uma luta comigo era como uma roleta russa, só que eu tinha a arma carregada com todas as balas. Perder não era uma opção para mim. 

      — Vamos?— Escutei alguém perguntar. Olhando para onde vinha a voz, notei que Apolo estava apoiado na porta do apartamento. Ele olhava para a sua namorada com o brilho nos olhos de sempre e eu continuava sem entender. 

     Sem responder ou esperar Aimée, fui até a porta e dei dois tapas no ombro de Apolo. Não estava sentindo vontade de falar, como na maioria dos dias de luta. O que dificultava era o fato de ele nem ninguém saber disso. Quer dizer, Aimée sabia.

     Com aquele jeito dela, fazia qualquer pessoa confiar sem nem escutar uma palavra dela. Isso fez com que, em uma noite, eu fosse até a sua casa apenas dias depois de conhece-la. Eu precisava de ajuda, de alguém que cuidasse dos meus irmãos mais novos enquanto eu fosse nessa luta de última hora. Eu tinha que ir se quisesse arcar com as contas do mês e ela foi a pessoa que eu pensei que podia confiar.

     No fim, quando eu voltei para busca-los, ela viu meus punhos vermelhos e com o seu olhar nelas, eu não consegui esconder. Desde então ela cuida das "cria" quando eu preciso e a vizinha não tem tempo. Prometeu não falar nada, e eu mantive o segredo ali, quando senti que Apolo perguntava o que eu tinha enquanto nós descíamos as escadas.

     Quando nós entramos, tudo estava no seu lugar e milimetricamente arrumado para os convidados que iam chegar. Aimée e Iara tinham mantido a ideia meio rústica com toques barrocos e, infelizmente, eu só sabia o que barroco e rústico eram porque Aimée realmente acreditava que eu era uma menina, ou que eu me interessava pelas bugigangas que ela ia colocar na parede e nas mesas. Agora, as coisas que colocou nas estantes também. Infinitas e infinitas estantes. Muitas palavras para mim.

     Eu esperei os outros dois entrarem para me sentar, mas acabei ficando na frente da cadeira. A plaquinha com o meu nome em uma das novas mesas redondas me colocava no meio de duas pessoas desconhecidas e a cada momento que eu ficava olhando fixamente aquele lugar, sabia que Aquiles já tinha chegado.

     — Tá, gente! — Aimée disse. No momento em que disse isso, Aquiles veio do banheiro confirmando as minhas suspeitas. Peste. — Vocês vão ficar nas mesas, eu vou falar com a galera da cozinha para ver se está tudo ok e comandar tudo correndo de um lado para o outro quando as pessoas chegarem e tudo vai dar certo. Nós vamos ter uma sessão de leitura com a Iara e uma prova das novas receitas do cardápio e a revelação da parede que eu desenhei e pintei. Ok? Então ok. — Falou rápido e saiu mais rápido ainda. 

     Tudo de nervosismo que não tinha demonstrado se arrumando, veio em uma onda só. Tinha que lutar também para eu não mostrar o quanto não queria estar ali. 

     Aquiles veio e sentou uma cadeira de distância, seus olhos me examinando, feliz com seu trabalho. — Eu sou muito bom, meus deuses. Admite que eu sou bom! — Falou, exagerado e rindo. Eu revirei os olhos. 

     Não foi o suficiente para ele parar de falar.

     — Depois que tu conseguir o telefone da guria que vai sentar do teu lado, vou ficar esperando o "obrigado". Sério, tu sabe o que eu passei pra conseguir trocar esses malditos papéis? Eu quase morri por cau—

     — Errado. Tu vai morrer.

     Os olhos de Aquiles cresceram com aquela voz que eu já tinha gravado e me fazia querer simplesmente levantar e sair. Com certeza algo ia dar de errado e eu ia acabar discutindo, algo que eu não queria. 

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now