Capítulo 14

524 90 152
                                    


Gustavo

Depois que belisquei o café da manhã que ficou esquecido em minha cozinha, passei o resto do domingo chuvoso lendo um livro de suspense do Harlan Coben que trouxe dos Estados Unidos. A leitura foi tão agradável que em alguns momentos esvaziei minha mente. Quando terminei de ler, passei um café novo e liguei o som, coloco uma seleção de clássicos do Guns N' Roses pra tocar.

Preciso parar de ocupar minha cabeça com as imagens de Liz nua. O que aquela mulher fez comigo? Ela só pode ter me feito algum feitiço. Estou ficando louco. Tomo meu café enquanto organizo as coisas que preciso fazer amanhã. Deito no sofá e acabo dormindo.

Acordo com a companhia tocando, olho para o relógio da sala. 02:10. Quem será a essa hora? Levanto e vou cambaleando para a porta, assim que abro, meu corpo todo trava. Liz está parada na minha porta, vestindo apenas um robe preto de seda e chinelos, com os cabelos despenteados de quem acabou de sair da cama.

Pelo visto ela adora me fazer surpresas no meio da noite, mesmo magoado e muito puto ainda fico excitado imediatamente apenas em vê-la.

Gustavo, controle-se homem!

Os olhos me encaram como duas tochas de fogo.

— Liz? – falo surpreso por ela estar ali depois de ter saído daqui batendo a porta.

— Oi, posso entrar? – ela pergunta receosa.

— Claro. - faço um gesto para que ela passe por mim na porta.

Liz caminha até o meio da sala e vira-se pra mim abraçando o próprio corpo.

— A gente pode conversar? – pergunta como se estivesse com medo da minha resposta.

— Liz, claro que podemos conversar, venha sente-se. – indico o sofá para que possamos sentar.

— Desculpe-me pelo horário, você estava dormindo?

— Não precisa se desculpar, acabei cochilando no sofá, foi bom você me acordar senão eu iria dormir aqui a noite toda.

— Eu deitei, mas não conseguia dormir. Eu precisa vir... – eu a interrompo.

— E?

— Preciso te contar uma coisa, algo que justifica o que te falei ontem e porque sai correndo daqui hoje de manhã.

— Eu sou todo ouvido Liz, você pode confiar em mim... Já te falei sobre isso. – ela me observa por um tempo, depois olha para as mãos e começa a falar receosa.

— Nasci em Florianópolis, meus pais eram advogados e tinham um escritório renomado na cidade. Meu pai era fascinado pela minha mãe desde que se conheceram, ele era um homem de alma livre assim como você, mas ele abriu mão do seu sonho de ser um grande pintor por ela, para poder lhe dar uma vida segura. Você sabe que é muito difícil viver da arte no Brasil, mesmo que com muito talento. Minha mãe sempre foi contra tudo que meu pai fazia, fora o trabalho no escritório, ela achava que a pintura e a cozinha era perda de tempo. Mas meu pai não se importava, ele a amava como nunca vi ninguém amar alguém nesse mundo. Quando eu nasci, uma parte desse fascínio foi dividido comigo, meu pai era meu herói. Sempre sorrindo, me elogiando, me mimando e me ensinando tudo que eu sei, eu era sua garotinha. Já minha relação com minha mãe sempre foi difícil, ela cobrava muito de mim desde que eu era pequena. Sempre com grandes expectativas. – as lágrimas começam a escorrer pelas suas bochechas que já estão vermelhas, lentamente vou passando os dedos para secá-las.

— Quando eu tinha quinze anos, certo dia larguei cedo da escola e resolvi ir almoçar com meus pais no escritório. Quando cheguei lá, flagrei minha mãe transando com meu padrinho de batismo, que também era sócio do meu pai. Eles estavam tão concentrados que não me viram, eu saí de lá atordoada, me sentindo tão traída. Como minha mãe poderia estar fazendo isso com um homem maravilhoso como meu pai e trair a amizade da minha madrinha? Fui pra casa, acabei encontrando meu pai no seu ateliê pintando e não consegui esconder meu choro. Papai me questionou o que tinha acontecido pra me deixar daquele jeito e eu acabei contando Gustavo, eu não poderia mentir para o meu pai.

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now