Capítulo 2

692 115 76
                                    


Gustavo

Entro no hospital respirando fundo, como posso me recuperar depois de ficar trinta minutos do lado de uma mulher daquelas? Minha nova vizinha é incrível, não consigo pensar em outra palavra que não, perfeita para descrevê-la. Liz Albuquerque é daquelas mulheres que fogem do padrão de belo e se mostram ainda melhor, engraçada, perspicaz e inteligente.

Os cabelos loiros claríssimos presos perfeitamente em um coque arrumado, só a deixava ainda mais sexy e profissional, mas o penteado também facilitava que eu pudesse admirar seu pescoço esguio e perfeito. Nunca imaginei que uma advogada que sempre precisa estar vestida em tons sóbrios e em comprimentos discretos pudesse ser tão sensual.

Já não basta ter um corpo de uma deusa, ainda é dona de um rosto tão delicado e irretocável como aquele. Com olhos azuis tão claros que algumas vezes tive a impressão de serem transparentes, a boca rosada e carnuda e o corpo de violão me deixou instantaneamente excitado.

Aquele jeito acanhado e envergonhado me deixou um tanto nervoso, mesmo demonstrando timidez, ela arrebitava aquele nariz bonito quando se sentia desafiada, eu adorei o tom desafiador que ela forçava nas palavras.

A maioria das mulheres que eu saía sempre se ofereciam e não faziam questão alguma em demonstrar interesse por mim, mas Liz sempre corava quando eu olhava demoradamente pra ela, e a cara que ela fez quando eu encontrei a calcinha dela no carro foi memorável, nunca vi uma mulher tão sem graça na minha vida.

Meu Deus e que calcinha! Liz com certeza me deu motivos para sonhar com ela a noite.

Quando ela saiu do elevador e caminhou na minha frente balançando aquela bela bunda eu não poderia simplesmente ir embora, eu precisava de mais. Eu passaria uma vida inteira olhando pra aquela mulher.

Preciso mais dessa loira!

Eu não sou santo e também não sou de enlouquecer por qualquer uma, meu gosto por mulheres sempre foi exigente, mulheres lindas sempre estiveram ao meu redor aonde quer que eu morasse. Perdi a virgindade aos 15 anos no banheiro da escola com uma garota do segundo ano, e desde então, as mulheres sempre passaram pela minha cama.

Tá legal, quase toda semana era uma diferente, mas quem liga? Eu sou homem, porra! Mas também nunca fui um canalha, as mulheres com que eu saía queriam o mesmo que eu, prazer.

Talvez o mistério em torno dos seus olhos azuis é que tenha me fisgado dessa forma. Cada vez que ela olhava em minha direção meu coração saltava em disparada.

Hoje eu acordei desorientado ainda devido ao jet lag da viagem e todo quebrado por dirigir de Minas Gerais até aqui, pulei da cama e entrei na primeira roupa que encontrei na mala que por sinal ainda não tive tempo de desarrumar. Agora pela manhã vou poder visitar meu pai depois de todos esses anos em que ele sumiu da cidade deixando minha mãe, eu e meus três irmãos mais velhos sozinhos.

Uma enfermeira me ligou no mês passado dizendo que ele está no hospital entre a vida e a morte dependendo de um transplante de rim. E eu, como nunca consegui entender porque ele nos abandonou pra vir pra São Paulo, agora estou aqui, pronto pra obter respostas.

Depois do telefonema, voltei de Los Angeles nos Estados Unidos faminto por explicações, e eu vou consegui-las antes dele morrer.

Localizo a recepção e caminho até lá. Uma senhora de cabelos grisalhos está atrás do balcão atendendo ao telefone, aguardo ela terminar a ligação e falo:

- Bom dia! Vim visitar o senhor Luiz Augusto Salles, pelo que me foi informado ele está aguardando um doador de órgão.

A senhora ajeita os óculos de grau no nariz, digita alguma coisa no computador e me dá um sorrisinho sem graça.

- O senhor quem é? - ela me pergunta levantando a sobrancelha.

- Sou Gustavo Salles, filho dele. - falo essa última frase e sinto um amargo na boca, fazia anos que não falava isso em voz alta pra ninguém.

Ela confirmou com um aceno de cabeça, me pediu pra olhar a identidade e me indicou a enfermaria em que ele estava. Quarto 101, lá estarão às respostas das minhas dúvidas. Dúvidas que carreguei comigo por longos anos e que agora vou poder desvendá-las.

Vou caminhando entre os corredores do hospital e minhas mãos começam a tremer. Me pergunto o que eu estou fazendo aqui? Porque insistir nessa história? Eu já deveria ter esquecido isso como meus outros irmãos fizeram, até minha mãe, que foi deixada com os quatro filhos pequenos pra cuidar sempre me disse que já perdoou esse homem.

Como ela pode ser capaz de esquecer e perdoar? Nunca conseguirei compreender. Mas eu não, não esqueço assim tão rápido, sempre desejei me encontrar com ele pra lhe jogar na cara tudo que tenho engasgado no peito, todas as vezes que esperei que ele voltasse pra casa e dissesse que nunca iria embora de novo, eu só tinha sete anos, meu pai era o meu herói e simplesmente foi embora e nunca me procurou, nem uma ligação no natal ele nunca fez.

Hoje é o dia de encerrar essa história. Olho para a numeração da porta do quarto 101, coloco a mão na maçaneta e entro.

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now