Capítulo 6

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Gustavo

Entro no elevador tão excitado que tenho certeza que minhas bolas estão azuis. Meu Deus que mulher é essa? Precisei sair antes de cometer uma loucura, não quero assustá-la, mas minha vontade era arrancar aquela saia e devorá-la em cima do balcão onde jantamos. E que janta, como uma mulher incrível daquelas está sozinha?

Liz estava tão linda e sensual controlando as panelas, tão satisfeita com a tarefa de cozinhar para mim. Será que em São Paulo todos os homens são gays e ela achou que eu também fosse? Só pode. Cozinha como ninguém, tem um corpo incrível, os olhos mais lindos e do azul mais límpido que já pousaram sobre mim. E ainda é cheia de mistério e inocência. Como eu tive vontade de puxá-la para o meu colo e chupar aquela boca até ela ver estrelas. Aqueles lábios carnudos sugando a massa do garfo me fez imaginá-la usando aqueles lábios para outra coisa muito suja. Não sabia que observar uma mulher comendo fosse algo tão sensual.

Nossa Gustavo, controle-se homem.

Liz com certeza salvou o meu dia, depois de tudo que passei naquele hospital, e a quantidade de feridas que foram arrancadas o cascão, eu estava péssimo e ela conseguiu acalmar meu coração. Aquele abraço colocou mertiolate em minhas feridas que estavam sangrando e isso mexeu comigo.

O cheiro que exalava do seu corpo reconfortou a minha alma, ela tinha o cheiro de um jardim florido em um dia de sol na primavera, fresco e limpo, doce e viciante.

Como eu quero aquela mulher, quero sentir aquele cheiro pra sempre, quero olhar para aqueles olhos o máximo de tempo que eu puder. Sorrio ao lembrar a cara de embaraço dela ao ver o casal se beijando dentro do elevador, Liz tem um pudor de uma mulher inocente que não experimentou muito da vida. O que será que ela conhece em um relacionamento entre um homem e uma mulher? Será que ela é virgem? Afasto esse pensamento da cabeça, com certeza ela não é, Liz já deve ter uns vinte anos, é idade suficiente para uma mulher ter tido alguns parceiros na vida.

Entro no meu apartamento, tiro a camisa pela cabeça, entro no quarto, jogo o celular na cama e vou para o banheiro, preciso de um banho frio urgente e de uma mulher gostosa para me fazer parar de ficar obcecado pela moça, e porra, não faz nem um dia que conheço a garota.

Saio do banheiro e me seco com uma camisa que encontro na cama porque não vou ter coragem de achar a caixa com toalhas nessa bagunça. Deito e apago.

— Guto, venha, seus irmãos já estão no carro.- meu pai chama das escadas.

Eu calço rapidamente meus tênis e corro para descer as escadas, hoje meu pai vai nos levar para pescar, eu e meus irmãos esperamos por isso a semana inteira, esse será meu primeiro dia de pesca com meu pai. Meus irmãos já foram, mas eu não. Estou tão ansioso.

— Já estou indo papai! - grito descendo as escadas.

Minha mãe que já está na porta da nossa casa, me beija na cabeça, se aproxima do meu pai e dá um beijo nele de despedida.

Entro no carro onde meus irmãos já estão brigando uns com os outros, é sempre assim, Carolina sempre cheia de manha, vive reclamando com meus irmãos mais velhos pelo lugar perto da janela do carro, ela só nunca briga comigo, Carol sempre faz questão de dizer que sou o bebezinho dela, quando nasci ela tinha seis anos e sempre gostou de ajudar minha a mamãe a cuidar de mim.

— Crianças, se comportem!- minha mãe pede. Meu pai se despede dela com um beijo demorado e entra no carro.

Todos gritamos:

— Tá certo papai.

Mamãe continua acenando para nós enquanto nos afastamos.

Pegamos o caminho para o rio onde meu pai tem um barco de pesca, o dia está fresco e com o céu cheio de nuvens claras, as nuvens me fazem lembrar algodão doce. Meu doce preferido. Papai coloca seu cd favorito do Raul Seixas para tocar e começa a cantar baixinho, eu e meus irmãos já sabemos as letras das músicas de tanto ouvi-lo cantar em casa com a minha mãe. Meu irmão mais velho, Thiago, começa a cantar com meu pai a letra da música, começamos a rir e de repente todos no carro estão cantando, inclusive eu.

"Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou"

O coro de vozes desafinadas e risadas entre uma música e outra continua até chegarmos ao lago, com certeza aquele foi o melhor dia da minha vida. Meu pai nos amava, e estava ali para nós.

Acordo assustado com meu celular tocando, o alcanço na cama ao meu lado e atendo mal humorado.

— Fala.

— É assim que você atende sua mãe, seu desnaturado?

— Mãe, me desculpe não sabia que era você. Estava dormindo, que horas são? – esfrego os olhos.

— Já é hora de acordar Luiz Gustavo, posso saber por que você não me ligou para me dizer que chegou bem?

— Mãe, eu estive ocupado. – me justifico sabendo que fui um idiota em não ter me preocupado em ligar, ouvir a voz da minha coroa é tão bom.

— Como sempre Gustavo, você sempre esquece que tem uma família que se preocupa com você meu filho. Não custa nada ligar para nos deixar saber como você está.

— Mãe, não quero brigar com a senhora agora, acabei de acordar.

— Filho, eu me preocupo, eu sou sua mãe e tenho direito de brigar com você sempre que eu precisar. Mas não foi por isso que liguei, o Guilherme já enviou sua harley pela transportadora, eles ficaram de entregá-la hoje a tarde.

— Que bom, quase fico a pé ontem. Meu carro estava ruim e minha harley estava aí. Sorte que consegui uma carona com uma vizinha. Obrigada mãe por me avisar, me desculpe por não ter ligado ainda. Estou perdoado Dona Carmen.

— Dessa vez vou deixar pra lá rapazinho. – sorrio pela reprimenda.

— A senhora não muda mãe.

— Essa é minha função. Filho, como está à mudança? Já conheceu os vizinhos então? Está gostando da cidade nova? Você sabe que pode voltar para casa a qualquer momento, não é?

— Sei mãe, está tudo bem. A cidade é ótima e os vizinhos também. Mas não vou ficar aqui por muito tempo. – sorrio em lembrar de Liz, mas perco a graça ao lembrar que em breve terei que seguir em frente.

— Fico tão preocupada com você nessa cidade desconhecida, mas já deveria estar acostumada. Você nunca parou em casa. Posso dizer a sua irmã que você virá para o batizado da Cléo? É daqui a três meses filho.

— Ainda falta todo esse tempo mãe, diga a Carol que irei.

— Graças a Deus Guto, sua irmã não iria lhe perdoar se você não viesse, estamos com saudade de você Gustavo, agora me deixa ir, o restaurante já vai abri para o almoço. Te amo filho.

— Um beijo mãe, também estou com saudades. Assim que puder volto pra fazer uma visita. Dá um beijo no pessoal, te amo! – minha mãe se despede e desliga.

Suspiro frustrado, não é justo com minha família toda distância que criei deles. Não é certo descontar todo rancor que tenho do meu pai nas pessoas que mais se importam comigo nesse mundo, mas não me conformo que eles possam ter esquecido algo que nunca vou poder deixar para lá.

Olho para a hora, 10:48. Droga!

Preciso organizar essa bagunça, consegui esse apartamento com um amigo do meu técnico que é corretor de imóveis, graças a Deus ele já é mobiliado, a decoração é bem sofisticada e jovem, tons escuros de azul marinho e marrom e detalhes cromados dão um charme no lugar, apesar de ser espaçoso e bem decorado, ainda preciso desempacotar um monte de caixas com minhas coisas e ir ao supermercado comprar alguma comida.

Levanto, me espreguiço e vou para o banheiro, um banho sempre é bem vindo para despertar porque o dia vai ser longo. Já no final da tarde consigo organizar a grande maioria das coisas, só me resta algumas caixas de livros que vou desempacotar amanhã. O porteiro me avisa que estão entregando minha Harley Davidson. Desço um momento pra conferir e receber os papéis da entrega. Tenho ainda que ligar para a transportadora americana para saber quando "minha bebê" vai estar aqui, estou ansioso para subir na Rose e dá uns bons saltos. Não tem nada melhor do que o sentimento de liberdade que é está em cima da minha moto, o vento batendo no rosto, a lama molhada agarrando em minhas roupas, o frio na barriga quando vou realizar as manobras. Isso é felicidade!

Preciso voltar aos treinos o quanto antes, próximo mês tem outro torneio para disputar. Essa é a minha vida!

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃODove le storie prendono vita. Scoprilo ora