Capítulo 20

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Gustavo

Quando cheguei ao hospital, nunca pude imaginar que encontraria Liz lá, quando a vi de costas na máquina de café não senti minhas pernas. Eu tinha certeza de que ela tinha me seguido até o hospital. Ainda não me senti confortável suficiente para contar pra ela sobre o meu pai ou sobre a cirurgia, sobre nada relacionado ao meu passado. Sei que Liz não me perdoaria se descobrisse que eu estou mentindo pra ela, na verdade não se trata de mentir e sim de omitir. Eu ainda não sei como vou falar da possibilidade da cirurgia nem para ela, nem para o meu técnico, que com certeza não vai gostar da ideia de me ver longe das pistas por um tempo.

Sem falar na minha família. Isso está me matando por dentro ainda não ter tido coragem de pedir que eles viessem fazer os testes. Isso poderia me livrar da responsabilidade da cirurgia, mas iria expô-los a um novo contato como homem que os abandonou, assim como a mim. Eu gostaria de poupá-los. Quando ela me vê e me olha com olhos assustados eu sei que não se trata de mim, e sim de algo errado com ela. Assim que Liz me diz que pode estar grávida eu fico em pânico, mas não é uma sensação ruim de rejeição e sim de felicidade, uma alegria que percorre minhas veias transformando tudo que há em mim. Eu só quero ser um pai diferente de tudo que meu pai foi pra mim.

Liz está assustada, eu posso ver em seus olhos cheios de dúvidas, mas eu não vou deixá-la desistir do nosso bebê. Ele também me pertence, eu nunca lhe perdoaria por querer tirá-lo, isto está fora de questão. Quando eu leio as letras: P-O-S-I-T-I-V-O.

Eu fico louco, eu serei pai.

Pai de um bebê meu e da Liz.

Uma mistura minha e dela.

Sangue meu e dela.

Eu a amo.Isso é tudo, não é? Sim.

É tudo que importa.

Quando vejo a imagem acinzentada do meu bebê na tela, meu coração se enche de emoção, mas queimam meus olhos implorando para serem derramadas, eu me controlo por que não quero deixar Liz nervosa nem preocupada, o próximo som que meus ouvidos escutam é como se fosse a própria batida do meu coração, é o meu filho anunciando ao mundo que está aqui, ele é real. Ele é nosso.

Não deu tempo de ir ver os resultados dos exames de compatibilidade para a cirurgia do meu pai,eu também não teria mais cabeça pra isso, eu só pensava que agora eu ia ser pai. Precisava fazer com a mulher que eu amo e a mãe do meu filho uma das coisas que mais gosto no mundo, correr. Precisava colocar toda tensão e excitação que estavam nos meus ombros para for.

Liz ligou para o escritório e deixou um recado com a recepcionista que estava se sentindo mal e só voltaria para o trabalho amanhã, tínhamos o dia todo para nós. Eu, ela e nossa sementinha.A minha moto Yamaha Wr 250 F já estava na caçamba da pick-up, pegamos a estrada e fomos para uma fazenda a algumas horas do Centro, Dudu arrumou esse local para que eu voltasse a treinar, é a fazenda de uns amigos da família dele,é uma grande área com terra lamacenta laranja, algumas precipitações no solo,lugar ideal para dar umas voltas e uns saltos bacanas. O lugar num todo é bem bonito, com árvores espalhadas por todo lado, uma casinha que se mantém fechada, devido os donos não estarem aqui até as férias de Julho. Estaciono o carro e desço para abrir a porta pra Liz.

- É aqui que você treina? - ela olha ao redor curiosa.

- Sim, o que acha?- pergunto apreensivo, qualquer opinião de Liz é importante pra mim.

- Cheio de lama,mas é muito bonito, olha quantas árvores antigas, eu ia amar trabalhar em um lugar assim cheio de ar fresco. - fala olhando para os velhos carvalhos.

- É, apesar da lama é um lindo lugar, o barro molhado faz menos poeira, devo isso ao clima inconstante de São Paulo. Venha, eu lhe ajudo com os sapatos. - pego-a no colo e a coloco em cima de uma área com capim. Alcanço no carro uma bolsa com um lençol grosso que uso para cobrir a moto e foro no chão.

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now