Capítulo 05 - Primeira Derrota

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   Em uma noite, antes de partirmos para a Acaia, eu fui visitar meu amor. Lanthasménos me disse que se eu visse alguma águia no percurso, fosse de perto ou de longe, viva ou morta, eu voltaria para Esparta como um herói, no entanto, eu perderia minha primeira batalha, e carregaria suas marcas para o resto de minha vida.

   Ela nunca esteve tão certa.

   Mas agora não havia mais volta. Pois agora marchávamos.

   Quando eu era jovem, meu pai, o Rei de Esparta, costumava me dizer que quando os Espartanos marchavam, a natureza abria caminho. Fosse isto apenas uma expressão, ou obra dos Deuses, mas naquela marcha não encontramos obstáculos do terreno. Pelo menos não até chegarmos à Acaia.

   O trajeto seguia por florestas verdejantes, que possuíam um ar tão bom de se respirar que acalmava a mente. Adentrávamos campos abertos, onde a grama era baixa e rala, e a rocha cinza aflorava do solo. Em alguns momentos bosques com poucas árvores passavam ao lado dos homens na marcha, em outros éramos cercados por árvores imensas, pinheiros titânicos, cujos quais não se podia ver o topo. Eu e Leônidas lembrávamos de histórias sobre monstros com cauda de serpente, vivendo entre as árvores, então a atenção nunca era deixada de lado.

   Águias passaram a nos acompanhar, quando chegamos à região da Arcádia, lembrei das palavras de Lanthasménos e estremeci em segredo. Alguns diziam que as aves estavam famintas, esperando algum dos homens cair de exaustão. Eu preferia pensar que era Zeus, olhando por nós.

   Por fim, depois de longa e cansativa marcha, chegamos à Acaia.

   Ali, as águias nos abandonaram.

   Eu pedia, em meu pensamento, que os Deuses não fizessem o mesmo. Mas essas eram preces de meu coração, pois eu nada podia demonstrar. Não. Eu era o imediato de meu irmão, Capitão Leônidas, e meus homens deveriam dormir com a certeza da batalha, e acordar com a certeza da vitória.

   O trajeto pela Acaia foi mais sinuoso, os grandes morros de pedra lisa eram difíceis de serem escalados, e as árvores cinzentas caiam pelo solo, juntando escombros por toda parte. Ali o verão era diferente, e parecia que estávamos indo para algum país estrangeiro.

   Mas Espartanos nunca recuam. Espartanos nunca desistem.

   E com nossos pés descalços atravessamos todas as colinas de pedra, saltamos por sobre todas as árvores caídas, e não nos deixamos abater um instante sequer.

   No último dia de marcha tínhamos provisões para uma última refeição, que fizemos em solo Acaio, respeitando e honrando os Deuses, mesmo ali.

   Esparta não estava em guerra contra Pátras, nosso objetivo ali não era destruir a cidade, queimar as casas, assassinas todos os habitantes.

   Não.

   Nosso objetivo ali era o treinamento. Era sentir a fervura da batalha em nossas veias, o impacto do escudo no tutano dos ossos, sentir o gosto do suor do inimigo em meio ao caos.

   Arriscávamos nossas vidas, em solo Grego, para que pudéssemos sobreviver a ataques estrangeiros, resguardando a própria Grécia.

   Subimos uma última colina, e, emergindo no horizonte, lá embaixo no descampado, estava Pátras, escorada no sopé da montanha. Nossos olhos puderam ver seu contingente em frente à cidade, todos armados e preparados para a batalha. Mais de quinhentos Pátricos haviam sido chamados. Olhei para os céus e as águias agora sobrevoavam nossos oponentes.

Paráxeni - A Ruína dos Persas. (Por Marco Febrini.)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora