ZAIRA 13

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Já havia passado muito tempo desde que vi Caio pela última vez.

As enfermeiras vinham de meia em meia hora dar notícias, mas nunca nada em concreto.

O médico que vi quando entrei no hospital estava agora a vir na minha direção, o seu olhar era indecifrável, não conseguia saber se tinha boas ou más notícias para me contar e eu apenas rezava para que Caio estivesse bem.

- Senhorita.

Ele desaperta o primeiro botão da sua bata e retira um papel do seu bolso.
Não disse nada. Não sabia o que falar, será que ele vinha com novidades sobre o Caio?

- O seu namorado já saiu do bloco operatório, por agora está estável, mas sem dúvida que as próximas 24 horas vão ser decisivas.

Suspirei de alívio ao ouvir que tinha corrido tudo bem.

- Obrigado doutor, acha que o posso ver?

Ele assentiu e encaminhou-me até ele. Caio encontrava-se a repousar na sala 03, era simples mas parecia acolhedora. Entrei e vi o seu rosto adormecido, ligado por vários fios nos seus braços e com uma manta azul por cima do seu corpo.

- Ele está mesmo bem?

Perguntei aproximando-me dele. Reparei em algumas nódoas negras e mais a baixo consegui ver o sitio do curativo onde levou o tiro, que estava agora com muito melhor aspeto.

- É como lhe disse há pouco menina, as próximas horas vão ser bastante conclusivas para lhe podermos responder a essa pergunta. Mas de momento, sim.

- Será que poderia ficar a sós com ele?

Perguntei, acariciando o rosto de Caio enquanto me dirigia ao médico.

- As visitas não podem ser muito longas, devido a ele estar a recuperar, mas penso que 10 minutos não irá causar problemas.

Assenti.

Após o médico sair da sala agarrei a sua mão passando-a levemente na minha cara, como se já sentisse saudades do seu toque.

Fui até ao seu ouvido e sussurrei baixinho:

- Não sei se me estás a ouvir Caio, mas eu estou aqui.

Dei um beijo na sua bochecha e fiquei a olhar para ele, como era possível eu ter este carinho por ele depois do que aconteceu? Nem eu sabia, mas todos aqueles beijos, carícias despertaram algo em mim.

- Só posso ir embora, quando tiver a certeza de que estás bem. Até lá fico aqui.

Sento-me na cadeira ao lado da sua cama e sem dar por ela adormeço.

[...]

- Menina?

Ouço alguém me chamar. Ao abrir os olhos vejo que era uma senhora com uma plaquinha a dizer Lucy, devia ser a enfermeira de serviço. Olho para o relógio que se encontrava na parede e vejo que já era noite, bem noite até.

- Desculpe, acho que adormeci aqui.

Ela sorriu e ajeitou os lençóis da cama de Caio.

- Não tem mal, mas o paciente agora precisa de descanso total. Teve sorte o doutor não vir aqui durante estas horas.

Ela falou de forma calma. Levantei-me e fui até ele, beijando mais uma vez o seu rosto.

- Eu já volto Caio.

Dou um adeus para a senhora e vou até à máquina de café, para tentar ofuscar um pouco o sono.

Fico espantada ao dar de caras com Dimitri. O que é que ele estava a fazer aqui e como é que ele havia me encontrado?

- Zaira, querida!

Ele abraça-me e eu fico sem saber o que fazer.

- Dimitri.

Na altura foi a única palavra que me saiu.

- Andei à tua procura por todo lado. Um senhor disse que te havia visto aqui e não resisti em vir conferir. Fiquei feliz por o teu pai ter "investido" de certa forma aqui com os auxiliares.

Fiquei chocada. Sou mesmo idiota a pensar que ninguém me iria reconhecer. O meu pai tem milhões de pessoas a trabalhar para ele, em todo o sítio, e em todo o lugar. Claro que iam acabar por me descobrir.

- Eu fugi.

Disse tentando proteger Caio ao máximo.

- Todos sabemos que não foi isso Zaira. Mas se o fizésses talvez não fosse mau de todo.

Revirei os olhos. Apresento-vos o Dimitri, o homem que diz gostar de mim mas que se pudesse estava agora colado a uma loira qualquer.

- Vim ver se tinha feridas graves ou algo desse gênero.

Ele assentiu e olhou para o meu corpo à procura de arranhões.

- Vem, vou levar-te para casa.

Diz puxando-me o braço com um pouco de força.

- Não.

Eu não podia ir embora sem ele. Não podia.

- Porquê? Não queres voltar para casa?

Não... Eu não queria. Mas também não podia deixar que desconfiassem, o que fazia eu ficar numa tremenda roleta da sorte, porque se eu escolhesse ficar, Dimitri ia vasculhar o hospital todo para encontrar a razão para tal ato, mas se eu for para casa... Aí o meu pai não me vai deixar sair nunca mais.

- Vou buscar o meu casaco. Fica aqui à minha espera.

Eu escolhi proteger Caio. Como sempre disse que o ia fazer. Prefiro me sacrificar para ele poder viver, sem dúvida essa é a minha escolha.

Ele assente e senta-se num banco preto. Vejo que os seus olhos já miravam a secretária de serviço e um calor subiu por todo o meu corpo.

Ignorei e fui rápido até Caio, entrando sem ninguém dar conta. Com sorte, a enfermeira de há pouco já havia acabado o seu turno.

Ele ainda dormia na mesma posição e da mesma maneira, tal e qual como eu o vi antes de saír.

- Caio...

Digo chegando perto dele.

- Eu vou ter que ir, desculpa...

Agarro-me ao seu corpo, cheirando uma última vez o seu perfume que o define, como se fosse já algo natural.

- Espero que não acordes a pensar que eu nunca estive aqui porque estive...

Desapego-me com algum custo, devido a não o querer largar e saio da sala, indo ter com Dimitri.

Paro na sua frente e como não trouxe o casaco que lhe havia dito que ia buscar, menti dizendo que o tinha perdido.

Ele sorri e enfia um cigarro na boca.

- Esquece isso, o teu pai vai adorar te ver. E vai gostar ainda mais de saber que fui eu que te encontrei.

Dimitri leva-me até ao carro e empurra-me para o banco de trás. Uma lágrima escorrega por o meu rosto ao ver afastar-me cada vez mais do hospital.

Só espero que um dia ele entenda o que fiz.

Continua

In(quebrável) - Máfia e Vingança Onde as histórias ganham vida. Descobre agora