36. Parque dos horrorres

738 78 95
                                    

Ela é uma beleza americana
Eu sou um psicopata americano
— Fall Out Boy

***

Como se fosse um presente natalino, a promessa de Thomas é cumprida. Suzanna e Brad, seus irmãos mais velhos, concordaram em acompanhar nosso grupo até o circo que ficava na fronteira da cidade, logo após a praia secreta que não mais frequentávamos pelos acontecimentos recentes. Enquanto os garotos conversam com os mais velhos sobre nossos lugares, acompanho minhas amigas para um local bem próximo aos bastidores, onde uma trupe de palhaços montada em triciclos se prepara para a abertura.

— Foi um acidente? — Europa pergunta com um monte de pipoca na boca. — Summer era a melhor patinadora da cidade, fazia aquilo há anos. Não é estranho ter se afogado?

— Convenhamos que ela não era um bom exemplo — sua irmã diz, pegando um pouco da pipoca. —, mas não merecia morrer daquele jeito. Os policiais disseram que as piranhas quase não deixaram provas.

Indiferente à conversa, meus pensamentos me trucidam aos poucos. Aparentemente as peças começavam a se encaixar e eu estava me recordando de fatos ocorridos um pouco antes de minha família ser morta. Quando passei por esse trauma, meu cérebro desligou por completo quanto ao assunto, sendo este um momento de minha vida passado no escuro e no desconhecido. Depois de muito tempo, no entanto, surgiram feixes luminosos ao meu redor e, junto ao meu presente, passo a desvendar coisas do passado.

É bem provável que eu saiba quem está por trás de tamanhos crimes, mas talvez meu cérebro não esteja pronto para encarar a verdade, muito menos eu. Quem iria acreditar em uma garota louca?

E se eu dissesse a verdade? Meus demônios do passado teriam revivido para acabar com minha segunda vida? Como eu estava sendo dopada daquela maneira, era possível que eu estivesse tão sã em pleno caos?

Quem estava por trás da escuridão?

— Chelsea?

Brad, o irmão mais velho, é incrível, mais do que eu poderia imaginar, porque parecia compreender o que se passava entre mim e nossa mãe postiça. Ao contrário de Suzanna, que fazia cara feia para mim toda vez que tentava manter qualquer contato.

— Bom, fontes me informaram que estou diante da favorita da família Halder.

— E deve saber da minha aversão ao título em questão. Tínhamos um plano para sua mãe notar que nunca quis ser adotada, mas acabou saindo de nosso controle.

— Sabe, Victoria se importa com nós todos, é a obrigação dela como mãe, mas, bom, por ter saído de onde saiu, vivido aquelas coisas terríveis, é natural que ela tenha maior cuidado com você. Já contou sobre o namoro?

— É só um caso.

— Thomas diz como se estivessem.

Sorrio. É bem a cara dele. Não sei ao certo se o que temos é uma ideia louca, mas é melhor mantermos a calma.

— Não, Brad, me escute: há certas coisas que as pessoas não devem saber, e meu passado é uma delas. Seus pais não saberão de Thomas assim como nossos amigos não saberão o motivo da adoção. Odeio admitir isso.

— Não tenha vergonha de quem você se tornou. As coisas que fez antes, Chelsea, não me fizeram sentir orgulhoso, então agradeça sua nova chance ao invés de sua permanência naquele hospital horrível.

Suas palavras são certeiras em meu cérebro depois de tantos meses focada em demonstrar a raiva enjaulada em meu coração. Se eu tivesse parado para pensar, é certo que não estaria reclamando. Victoria e Dmitry tinham me adotado, afinal de contas, porque me amavam, e estou a todo custo tentando afastá-los. Afastar as pessoas que me deram uma nova oportunidade.

Hell GirlOnde as histórias ganham vida. Descobre agora