10. Aluna exemplar

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Não precisamos de nenhuma educação (...)
Ei! Professor! Deixe as crianças em paz!
Pink Floyd

***

Primeiro dia de aula é um saco.

Tom e eu selamos o acordo. Percebi como ele ficou confuso e assustado, mas, no fim, topou me dar uma força em nosso plano contraditório. Minha tarefa é falar com os pais sobre seu único filho verdadeiro. Depois, o querido Watson entra em ação. Não poderia ficar melhor.

Bom, a não ser aquele lance de tentar seduzi-lo, segui-lo por ali e por aqui, a revista roubada... foi demais até para mim. Contudo, se não o tivesse feito, qual outra alternativa me teria restado para mostrar meu lado da situação? Que eu saiba, não são todos que sentem compaixão por menininhas órfãs.

Sou muito complicada. Nem consigo conversar com ele.

Descemos do carro. Vicy tenta me dar um beijo na testa, mas a afasto com uma falsa amarração de cadarço. Não é natural que eu deixe qualquer um se aproximar de mim dessa forma, sendo ou não a mulher que me salvou.

Ao entrarmos, a típica escola de adolescentes está lotada. Não existe nada muito chamativo, só os grupinhos nerds estudando nas mesinhas do pátio, os armários com senhas descascando pelos corredores infestados de meninas bonitas, a luz solar passando pelas janelas altas que parecem de cristal puro.

Fazia tempo que eu não via nada parecido, nem me lembro da última vez em que pisei na minha antiga escola ou quando me senti envergonhada pelo grupo do time de basquete estar me olhando. Eram sensações estranhas que pensei terem desaparecido, e, surgidas do nada, me impressionaram mais do que todos ali dentro.

Tom aponta para alguns lugares, indicando onde é a sala dos professores, o refeitório, a quadra e nossas salas de aula. Fizeram nossos horários quase todos iguais para que eu fosse me acostumando com a vida acadêmica, exceto pelas atividades extras. Preferi debate a seus clubes de música.

— Você fica bem? — Pergunta. O cabelo loiro tampava suas sobrancelhas. — Estou cansado.

— Acho que sim, não se preocupe.

— O diretor vai apresentá-la. Vejo-a mais tarde, amiga.

Thomas se vira bruscamente. A última palavra sai cuspida e não sei o porquê de ele me tratar estranho desde nossa conversa sábado à noite. Estávamos tão felizes, mas ontem ele começou a fazer drama e a ficar o dia todo no quarto. Até jogou a senhorita Kelly pelo ralo.

— Senhorita Halder? — Uma voz grave me chama. O homem alto de terno me observava com convicção, devendo ter mais de quarenta anos pelos fios pouco grisalhos. — Ah, bem-vinda! Sou o diretor Lucius Campbell.

— Prazer em conhecê-lo, Lucius.

— Campbell, obrigado!

O diretor desvia do caminho seguido por meu acompanhante. Os passos dele são largos e preciso correr bastante para acompanhá-lo sem me perder.

Alguns alunos esbarram em mim sem ao menos me cumprimentarem. Nunca fui popular na minha antiga escola, então o anonimato não deveria me incomodar aqui, mas, se bem ouvi, os Halder não são famosos por coisas boas. Se eu quisesse ser a nova Skyler, teria que começar do zero. Me tornar amiga dos mais desejados, ser uma pessoa diferente daquela que fui há dois anos. Essa vontade me surgiu no início da estadia na clínica, quando eu era a mais procurada pelos pacientes por ser bonita e inteligente. Se lá fora difícil, agora tenho que lutar contra um dragão por dia. Eram adolescentes, não velhinhas com depressão que pensam ter matado os filhos. Quero ser lembrada ao invés de cair no esquecimento... como antes.

Hell GirlOnde as histórias ganham vida. Descobre agora