19. A escuridão reina

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Você sabe que não acredito
Quando me diz que está arrependida
pelos seus crimes
— Weathers

***

~ Algum tempo antes ~

O sábado chegou e com ele a apresentação no restaurante. Meus batimentos cardíacos estão acelerados, não parecendo que iam voltar ao ritmo tão cedo. Eu tocava uma pequena gaita que meu avô me dera anos atrás, esperando que a qualquer momento o chefe da cozinha me expulsasse do corredor.

Não pude evitar. O nervosismo pareceu se multiplicar quinze minutos antes de entramos no palco, mas não era minha culpa. Não totalmente, pois Jack e Donnie não me faziam ficar menos estressado.

Nem as Trevor, Leo ou minha irmã estavam presentes. Eu insisti para que eles ficassem, pois Nick teria que me segurar para não pular no pescoço de Jack caso ele saísse um tantinho da linha.

Sou interrompido desses pensamentos ao sentir meu telefone tocar uma música antiga, a única diferente do aparelho, que significava um sinal de vida da minha mãe.

— Alô?

— Filho? — Sinto seu sorriso do outro lado da linha. — Oi! Como estão as coisas por aí?

Olho para os fundos da cozinha. Jack está fumando um baseado e os olhos de Donnie estão fissurados em algumas lulas frescas.

— Normais. Vamos entrar em alguns minutos.

Meus pais tinham redobrado o turno naquela noite. Nem sequer tinham me avisado, então achei estranho sua ligação tão tardia.

— Boa sorte, Tom. Antes que vá, saiba que eu me arrependo muito. Chelsea conversou comigo. Me disse sobre o que você estava passando na escola, com seus irmãos e... ah, droga, sinto muitíssimo.

— Mãe, você tá bem?

— Eu amo você, é esse o problema. Não paro de pensar, desde aquela conversa, no quanto fui irracional ao pensar que tudo ficaria normal entre você e outras crianças.

Vicy começa a choramingar. Me controlo para deixar os soluços bem no fundo da garganta.

— Desculpe. Fui uma mãe horrível. Conversei com seu pai e decidimos que vamos tirar um tempo só para nós.

— O quê?

— Atividades, viagens curtas, jantares, essas coisas. Você sabe: quero recompensar o tempo perdido.

Sorrio. E ela, assim como eu, percebe que está tudo bem. Não é igual a um amigo pedindo perdão por ter te dado um bolo. Era minha mãe, a pessoa que mais amo no mundo.

— Tudo bem. Não se culpe dessa maneira. Até eu ficaria louco no seu lugar.

— Ah, não sei. Deveria ter sido menos compulsiva, mas ainda não me arrependo de ter lhe dado aquelas pestinhas — por fim, deixo um riso escapar. Agradeço-os, no fundo, por tudo o que me deram. — Adotar a Sya foi a melhor escolha das nossas vidas. Ela me reconectou com meu filho!

A apresentação vai começar. Me despeço, ainda tentando absorver o choque daquela ligação. Minha mãe se tornou compreensiva e parece que devo um mar estrelado a mais para Chelsea. Aquela garota é mil vezes melhor do que eu imaginava.

Logo, estou no palanque. Como de costume, Jack tinha decorado minhas letras e cantava como se estivesse concorrendo a um prêmio mundial. Trocamos um olhar, silencioso o suficiente para notarem nossa gozação.

Meia hora mais tarde, quando nos aproximamos da última música, a ligação da mamãe surge do nada. Aquilo foi um sinal, e decidi quebrar as barreiras que o vocalista impunha à banda. Tomo lugar à frente. Ele me fuzila com seus olhos de tubarão, mas finjo não ligar e lhe dou minha guitarra.

Hell GirlOnde as histórias ganham vida. Descobre agora