E se...

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Segunda-feira, 28 de novembro.
E naquele dia completou-se um ano.
Naquele dia 28, algum casal feliz por aí completava seu primeiro ano de casamento e uma família e amigos completavam o primeiro ano de uma perda sem tamanho.
Voltar para minha cidade naquele dia seria bom por um lado, mas... Cemitérios não eram um lugar que me confortava visitar, mas, ela tinha feito tanto por mim enquanto ainda estava aqui, "visitá-la" seria o mínimo que podia fazer naquele dia; à sua sepultura levei flores e seus pais fizeram o mesmo, Rafa gostava de flores. Enquanto eles prestavam suas homenagens a ela, comecei a pensar sozinha:
"E se tudo tivesse sido diferente um ano antes? E se o tal casamento não tivesse acontecido? Os pais da Rafa poderiam ter feito algo para evitar a morte da filha? E se eu não estivesse doente? Teria estado com ela na noite do incêndio? Haveria incêndio se mais alguém estivesse lá? Será que eu teria sofrido tanto com a mudança se tivesse a certeza de que ela estaria ali por mim? E se eu não tivesse vivido momentos tristes esse ano? Eu teria por fim conhecido aquelas pessoas tão maravilhosas que me ajudaram a superar tudo?"
Quando pude me aproximar para deixar minhas flores, falei em tom baixo:
-É, minha amiga, sei que não me ouve, sei que nem mesmo me direciono direto a você, mas ainda te amo. Eu não sei se tudo teria sido diferente se você ainda estivesse aqui, mas o que sei é que o que mudou com tudo isso acabou estabilizando tudo. Obrigada por tudo, minha amiga. -falei secando as lágrimas.
Saímos ainda a tempo de vermos outros amigos que Rafa tinha, haviam sido nossos colegas na antiga escola, por pouco tempo, mas tempo o suficiente para Rafa criar laços de amizade.
há quanto tempo não os via, os cumprimentei brevemente e saí dali, já havia passado tempo demais em meio à morbidez.

Quinta-feira, São Paulo - 01 de dezembro.
-Parabéns pelos dezessete anos! -falei a Renan quando fui vê-lo em sua casa. Ele aniversariava naquele dia. -O presente é simples, mas foi algo que me lembrou você. -era um colarzinho com um pingente de âncora- Você foi a minha âncora esse ano, fez com que meus pensamentos pudessem se fixar.
-Nem sei o que te dizer, muito obrigado, de verdade! -falou me abraçando.
-Não tem de quê.
-Está tudo bem mesmo? Sabe, depois da sua viagem na segunda.
-Está, juro. -respondi- Ela ainda faz falta, mas já não posso fazer nada, só recordar mesmo. Semana que vem é meu segundo aniversário sem ela, ainda é meio difícil.
-Vocês viveram muita coisa boa juntas, eu sei. Mas pense, ela estaria feliz por você agora.
-Sim, estaria. Ela gostaria de você.
-Quem não gostaria? Eu sou demais. -falou em tom sarcástico.
-Ah, eu sei quem não gostava! Aquela menina que lutou ao máximo pra não te ver no trabalho de história.
-Ah, ela foi um caso à parte, -falou bagunçando meu cabelo- mas até ela acabou aprendendo a gostar.
-E foi uma das melhores coisas que ela fez. -falei e depois selei nossos lábios.
-Opa, acho que chegamos em má hora. -Dani disse aparecendo com os meninos.
-Pra nós é uma hora boa, na verdade. -Renan falou e eu ri sentindo meu rosto ficar vermelho.
Eles riram também e parabenizaram-no pelo aniversário e depois prosseguimos conversando.
-Estive em circunstâncias diversas esse ano. -falei- talvez se não tivesse passado por tantas, tudo estaria diferente agora. Sou grata a vocês quatro por terem me suportado todo esse tempo. Vocês me mudaram, o improviso me mudou.
Eu tinha motivos de sobra pra ser grata àquelas pessoas e eles sabiam disso.
Por esse e tantos outros motivos vividos durante esse tempo, verdadeiramente pude constatar: Cada dia a mais vive-se, alguns momentos bons, outros ruins, cada surpresa nova é uma mostra a mais, assim vivemos nos improvisos da vida.

Nos Improvisos da VidaWhere stories live. Discover now