Nova vida em SP

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Na hora da partida, eu me sentia com o coração na mão, era hora de abandonar aquele lugarzinho, aquele apartamento em que construíra boa parte da minha vida... Não queria ir embora, mas que escolha eu tinha? Nenhuma.
Ao sair por aquela porta pela última vez, senti meus olhos marejarem e uma lágrima cair.
Era o momento de sair, seria uma longa viagem...
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Mais de um dia inteiro dentro daquele carro e eu já me sentia exausta, horas e mais horas passavam e São Paulo parecia não chegar nunca. Adormeci e, quando me dei conta já estávamos dentro da cidade, a minha nova cidade.
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Era uma manhã de quinta-feira. Começo de fevereiro. Clima não muito quente, não muito frio, mas numa circunstância agradável.
Chegara a SP na noite anterior, e ainda tentava arrumar minhas coisas na nova casa e me habituar a tudo aquilo novo.
O quarto ficava no segundo andar, tornando-o meu refúgio, lá eu conseguiria ficar sozinha, não haveria ninguém para me importunar.
Papai morara naquela cidade anos antes, então ainda conhecia muito daquilo, ele optou por levar mamãe e eu para conhecer alguns lugares, para, quem sabe, me animar naquele momento, mas tudo o que eu queria era ficar em casa no meu canto, queria evitar qualquer interação com outras pessoas, ao menos até que o início das aulas na nova escola que aconteceria dali a alguns dias.
—Não vamos passar esse fim de semana livre em casa, Alice! –disse papai.
—Vamos sair, conhecer essa cidade linda, meu amor, por favor, colabore! –disse mamãe já na porta do meu quarto.
—Tudo bem, não tenho opção mesmo.
Considerando o tamanho da cidade e a distância entre os pontos que veríamos, saímos relativamente cedo e fomos conhecer diversos lugares, eu me sentia uma turista, mas aí lembrava que esse "turismo" seria definitivo, e já me assustava com a ideia de não ser aceita naquele lugar.
Passamos por lugares que vira em livros toda a vida e que jamais imaginei ver frente a frente, a Ponte Estaiada, o Theatro Municipal, e outros tantos pontos, comemos, tiramos fotos.. Quer dizer, eles tiraram fotos, pois eu ainda me sentia sem clima para aproveitar, pensava em como Rafa se sentiria perante tudo aquilo, ela provavelmente amaria.
Após tudo isso, fomos ao Parque Ibirapuera onde ficamos durante certo tempo, (tempo suficiente para eu considerar aquele, um dos mais belos lugares que já visitara), até papai decidir que era o momento de voltarmos para casa, subimos por algumas ruas, então ele passou na frente de um lugar que a princípio achei interessante, perguntei que lugar era, e ele me disse que se tratava da Casa do Humor, um local onde havia oficinas de treinamento do humor para quem desejasse aprender. "Quantos talentos podem surgir num lugar como esse." pensei àquela hora.
Seguimos mais um pouco e passamos na frente a uma escola, papai então falou:
—Filha, é aqui que você passará a estudar. Sente-se animada?
—Parece um bom lugar. –falei forçando um sorriso.
—Meu bem, sabemos que você não se sente bem ainda com tudo isso sendo novo pra você. Mas, por favor, entenda que isso é o melhor. –disse mamãe.
—Acha mesmo que não estou tentando? Mas simplesmente não dá, não ainda, por enquanto eu me sinto uma turista em meio a tudo isso.
—E você acha que pra nós tudo está sendo fácil? –falou papai –Haverá obstáculos. Quem disse que não? O que importa é que você consiga um jeito de enfrentá-los.
—Prometo tentar. –falei e comecei a olhar pela janela encarando a minha nova vida.
Eu tinha mentido de novo, dessa vez para mim mesma, não sabia como encarar todo aquele furacão de novidades de uma vez só, não seria fácil, isso era óbvio. Eu não sabia até então, mas apareceria alguém para me ajudar naquilo tudo, eu só demoraria a aceitar...

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