I Won

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Deixei que Shawn tomasse a frente, sentindo um arrepio percorrer minha espinha ao me lembrar da ultima vez em que estivera naquela sala, a ultima vez em que encarei Claire. Não sabia como ela reagiria ao me ver novamente, muito menos quando soubesse que iria viver comigo dali em diante. Assim que a porta foi aberta, esperei até que o homem a minha frente estivesse dentro da sala, mas mesmo assim, a coragem parecia ter se esvaído do meu corpo. Por fim, me apoiei no batente e assisti em silêncio.

— Oi, Morgan. — disse ele, abrindo um sorriso largo e parando atrás da cadeira ao lado dela. — Posso me sentar?

O olhar dela caiu sobre mim, e meu coração apertou quando seus olhos se arregalaram. Tive vontade de recuar, mas obriguei meus pés a me manterem exatamente onde estava, e em um esforço extremo, abri um sorriso de lado, mas ela apenas desviou o olhar para o cachorro maltrapilho, acenando rapidamente com a cabeça.

— Você não precisa ter medo de nós, sabia? — o olhar dela tornou a se erguer, dessa vez se fixando nele. Era como uma guerra entre os mesmos olhos. — Só estamos aqui para te ajudar, Morgan.

— Então por que não me deixam ver minha mãe? — perguntou timidamente, e me parecia óbvio que ela fazia o maior esforço para não me encarar.

— Sua mãe está com uns... Problemas de gente grande, mas você não precisa se preocupar... — Shawn abriu um sorrisinho, como se tentasse tranquiliza-la. — Ela pediu para que eu e Catherine tomássemos conta de você enquanto ela estivesse fora.

O olhar dela finalmente se voltou para mim, e era óbvio que Claire parecia desconfiada. Senti um bolo se formar na minha garganta, mas engoli em seco e acabei por desviar o olhar. Quando tornei a encarar a cena, ela encarava Shawn com a expressão mais suavizada.

— Por quanto tempo ela vai precisar ficar longe? — falou, a vozinha começando a tremular. — Ela vai me deixar?

— Eu... Eu não sei, Morgan. — ele pareceu perdido por uns instantes, mas pela breve careta, notei que seus sentimentos haviam se quebrado junto aos meus quando Claire começou a derramar algumas lágrimas. Shawn rapidamente deixou a cadeira, se ajoelhando a frente dela. — Mas você não precisa se preocupar, ok? Nós vamos cuidar muito bem de você até ela... Até ela voltar. Vai dar tudo certo.

— Você promete? — murmurou ela, coçando os olhinhos.

— Claro... — Shawn assentiu, sorrindo novamente. — Claro que prometo, princesa.

E então, para nossa total surpresa, Claire saltou da cadeira e atirou os braços pequenos ao redor dele, deixando até mesmo o cachorro velho para trás. Shawn arregalou os olhos mas logo a abraçou de volta, direcionando o olhar para mim e então fechando os olhos, afundando o rosto nos cabelos dela. Foi quase impossível não sorrir com a cena, e por uns momentos, senti como se tivessem tirado uma parte do peso dos meus ombros. Mas claro que eu precisava olhar para fora da sala, para o final do corredor.

Quando o meu olhar cruzou com o da mulher algemada, fechei a porta por instinto, já prevendo o escândalo que estava por vir. Rezei para que as paredes a prova de som daquela sala viessem a calhar, e então ouvi a agitação dos policiais. Katie começou a se debater, impedindo que o policial que a conduzia lhe contivesse, o que chamou a atenção dos parceiros do mesmo. A gritaria logo começou, atraindo a atenção de todos ali. Dei uma olhada para dentro da sala pelo espelho na parede, Shawn ainda conversava com Claire e eu rezava para que eles permanecessem assim.

— NÃO! — a voz de Katie ecoou, o que me fez voltar a encara-la. — VOCÊS NÃO PODEM ENTREGAR MINHA FILHA PARA ELA! NÃO, NÃO! MORGAN!

Me obriguei a caminhar até lá, sentindo a adrenalina irradiar pelo meu corpo. Podia sentir minhas pernas tremerem e as minhas palmas coçarem com a vontade de surrá-la até que ela saísse dali dentro de um caixão, ou no mínimo de uma ambulância, mas me obriguei a manter as mãos ao lado do corpo e a cabeça erguida, porque por mais que a vontade quase me consumisse, eu sabia que agora Claire estava ali comigo, que ela precisava de mim. Então, apenas me aproximei de Katie, que estava no chão, contida por dois policiais, e me inclinei na sua direção.

— Ganhei. — abri um sorrisinho presunçoso, lançando uma cusparada na sua direção.

O grito dela parecia com o de um animal ferido. Ignorei as olhadas dos policiais e dei alguns passos para trás, passando as pontas dos dedos nas laterais dos lábios, tomando cuidado para não manchar o batom. Logo, Katie foi posta de pé novamente e então levada pelos policiais, mesmo que ainda relutasse. Assisti a cena com um sorrisinho, ainda incrédula quanto a minha própria atitude.

— Catherine? — me virei, encontrando Shawn, o cenho franzido. — O que houve?

— Hã? Nada... — cocei a nuca, dando de ombros logo após. — Conseguiu convencê-la?

— Sim, ela... Acabou aceitando bem. — seus olhos brilharam, o que fez meu coração acelerar. — Ela só está um pouco insegura...

— Comigo. — assenti com a cabeça. — Eu já imaginava.

— Vai dar certo, Catherine. — infelizmente, nem aquele sorriso tranquilo dele me fazia sentir melhor. — Nós só precisamos dar tempo ao tempo.

Tornei a assentir, sabendo que se falasse algo, minha voz não seria convincente o suficiente. Felizmente, antes que ele pudesse fazer mais alguma objeção, um policial apareceu pedindo para que o seguíssemos até a sala do delegado, o que me fez revirar. Esperava que Sawyer nos desse paz agora que levaríamos Claire para casa, mas parecia que isso não estava nos planos dele. O policial abriu a porta e, desta vez, tomei a dianteira, encarando o delegado com a pior expressão possível assim que nossos olhares se encontraram. Sawyer soltou um risinho fraco e apoiou as costas no encosto da cadeira, pondo as mãos atrás da cabeça.

— Não precisa de toda essa raiva, Srta. Wood. — falou ele, ainda mantendo um sorrisinho debochado. — Só pedi para que lhe trouxessem aqui para poderem assinar alguns termos de responsabilidade sobre a criança.

E então estendeu uma papelada enorme. Revirei os olhos, não aguentava mais ver papéis na minha frente, então apenas olhei de lado para Shawn e me adiantei na direção da mesa, pegando a caneta de má vontade e depositando minha assinatura em todas as folhas. Logo após, me afastei e cruzei os braços enquanto Shawn fazia o mesmo. Assim que as folhas foram empurradas de volta para ele, Sawyer as analisou por uns instantes antes de separar algumas, colocá-las sobre um envelope de papel pardo e esticar ambos na nossa direção. Franzi o cenho.

— As vias de vocês. — respondeu ele, como se lesse meus pensamentos. — E um resumo do caso, na hipótese de surgir alguma dúvida.

Deixei que Shawn pegasse os documentos e dispensei os bons modos, apenas me dirigindo para a saída enquanto ouvia os dois se cumprimentarem. Girei a maçaneta o mais rápido que pude, mas fui obrigada a parar no batente por uns minutos. Vi Claire conversando com a Dra. Hoult, abraçada ao cachorro velho e com uma mochila cor de rosa nas costas. Senti minhas mãos tremerem com o choque da verdade: eu finalmente estava levando minha filha para casa! Senti alguém parar atrás de mim e olhei para trás, vendo Shawn. Seu corpo estava parado há centímetros de distância do meu, o que fez todos os meus pelos se eriçarem. Ergui o olhar para ele, e ao notar que eu o encarava, ele fez o mesmo. Meu coração acelerou, eu podia sentir o sangue sendo bombeado pelo meu corpo, e uma vontade irresistível de se aproximar ainda mais surgiu e foi tomando conta do meu ser. Era como se eu já não estivesse no controle do meu próprio corpo, e ele parecia sentir o mesmo, já que seu rosto começava a parecer incrivelmente mais próximo. Umedeci os lábios, era como se toda a falta que eu sentira durante anos daquela boca na minha, ou daquelas mãos correndo pelo meu corpo, surgisse a todo vapor.

Mas o rosto de Nathan surgiu, estampado feito um carimbo na minha mente. E aquilo me fez me manter onde estava, voltando minha atenção para Claire, que abraçava a psicóloga e então era guiada até onde estávamos. Abandonei o batente rapidamente, mas deixei que ele tomasse a dianteira na hora de falar com ela. Senti o rubor se espalhando pelas minhas bochechas e desviei o olhar por uns instantes, ignorando os tremores que corriam por partes estranhas do meu corpo.

— Pronta para conhecer sua nova casa, Morgan? — indagou ele, a voz de veludo ainda incrivelmente tranquila. Travei a mandíbula, como que aquele cara conseguia?

— Estou. — ouvi a voz fina de Claire ecoar e a encarei de lado, vendo-a sorrir desde a primeira vez em que a vira.

Era apavorante notar onde havia me metido. Meses junto a Shawn Mendes? Por que agora isso soava tão assustador? Talvez fosse porque, somente agora eu tivesse notado que não podia cair de amores por ele, não de novo.

Broken Strings | Shawn Mendes ✓Where stories live. Discover now