Seu desejo

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  Bom, mais um capítulo. Espero que gostem!

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Respire, Letícia. Respire.

Ela teve que dizer para si mesma duas vezes até se acalmar. Ricardo havia saído e ainda estava parada que nem uma tola. Deus, era pior que uma adolescente, com certeza!

Colocou a mão no lado do rosto em que seu marido havia beijado. Ainda era palpável; ele tinha lábios tão macios, a barba roçou de leve e o toque... sabia como tocar, como deixar sua marca.

Como seria o beijo dele?

Letícia arfou. Abanou-se com as mãos e balançou a cabeça para dissipar o pensamento. Se não mantivesse o controle, não conseguiria encarar Ricardo no jantar sem deixar transparecer o efeito que exercia cada vez mais sobre ela.

Hum... Até parece que estou tendo sucesso. Cada má nota que dou.

Concentrou-se em analisar o quarto com mais detalhes. Vermelho. Todo vermelho. Não conseguia se enxergar ficando ali. Deu uma boa olhada na cômoda com cremes, maquiagem, perfumes e colônias.

Havia também um computador e alguns livros que ficavam em pequenas prateleiras montadas acima da mesa da máquina.

Foi até um pequeno corredor que ficava na outra parte do quarto e viu um imenso guarda-roupa que se estendia por todo o espaço; abriu suas portas: inúmeros vestidos, saias, blusas, sapatos, bolsas e outros acessórios. Começou a contar cada item, mas desistiu; devia ter centenas. Não fazia a menor ideia de como alguém conseguia usar tudo aquilo durante um mês. Talvez nem durante um ano.

Súbito, teve um estalo.

Engraçado. Como puderam mudar tudo tão rápido em um dia?

O quarto, o papel de parede, os móveis, a arrumação, não pareciam terem sido preparados em menos de um dia. Era como se estivessem ali há mais tempo.

Bobagem. Ricardo tem vários empregados.

Com certeza, ele mandou organizar um mutirão assim que lhe deu resposta de que voltaria àquela mansão. Ou então talvez mandou preparar no primeiro dia de seu despertar como precaução.

Mesmo assim, aquele papel de parede, as prateleiras, o computador conectado a um cabo de internet... não pareciam detalhes a serem acrescentados em menos de uma semana.

Algo não se encaixava.

Não. Era paranoia sua.

Voltou a atenção para o guarda-roupa e revirou as vestimentas. A maioria era num estilo um tanto provocativo, com decotes, aberturas nas costas – como a blusa que usava – e centímetros de tecidos a menos acima dos joelhos nas saias e vestidos. Não diria que era vulgar, mas só de se imaginar num daqueles trajes, seu rosto queimava. E quase todos os sapatos ostentavam saltos tão finos e altos; se seus pés estivessem desacostumados, era capaz de se desequilibrar.

Queria uma roupa simples e mais sóbria para usar mais tarde no jantar. Por fim, encontrou um vestido florido de mangas curtas todo azulado cujo comprimento ia até a metade das pernas; escolheu uma sandália baixa de tiras da mesma cor. Levou-os até o quarto e deixou o vestido em cima da cama e o calçado aos pés do móvel.

Entrou no banheiro e mirou-o com admiração. Ricardo havia dito que não tinha banheira. Era dispensável, em sua opinião, com aquele tamanho e um box que talvez fosse o triplo do banheiro do leito no hospital. Havia espelhos em todos os cantos, inclusive o que se estendia acima da pia.

Letícia se mirou em um de corpo inteiro numa parede lateral e hesitou. Sentia vergonha de se despir e ver-se a si mesma nua. Talvez sua inibição se devesse a ter se despido para as enfermeiras que lhe ajudaram no banho nos três primeiros dias, por causa das dores em seu corpo. Ela não se permitiu se contemplar, desejosa de acabar rapidamente. Constrangia-se por outras pessoas lhe tocarem e verem-na nua, mesmo que fossem mulheres e profissionais.

Perigosas LembrançasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora